Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

domingo, 9 de dezembro de 2012

A ORIGEM DOS GUARDIÕES




Sempre fui fã de desenhos animados. Desde pequena. Ficava encantada com as histórias, com a vida que os contos de fadas ganhavam nas telas do cinema.  Gostava muito de brincar, mas também de ler. Tinha um monte de livros de história, que lia e relia, sempre com muito prazer.
E, até hoje, continuo assistindo e me encantando com os desenhos animados, cada vez mais sofisticados e tecnológicos.  Esta semana assisti  à Origem dos Guardiões. Um belo desenho que ressalta a importância das crianças acreditarem em fantasias .

No filme as crianças do mundo inteiro são protegidas por um seleto grupo de guardiões: Papai Noel, Fada do Dente, Coelho da Páscoa e Sandman, que é o responsável pelos bons sonhos. São eles que garantem a inocência e as lendas infantis. Mas um espírito maligno, o Breu, pretende transformar todos os sonhos em pesadelo, despertando medo em todas as crianças. Para combater este adversário poderoso, a Lua, que é quem escolhe os guardiões,  designa um novo guardião para ajudar o grupo: Jack Frost, um garotinho invisível que controla o inverno. Sem conhecer sua própria vocação de guardião, ele embarca em uma aventura na qual vai descobrir tanto sobre as crianças quanto sobre seu próprio passado.

Fomos eu, minha filha e uma amiga dela. Ao final a minha filha falou que foi muito importante acreditar em Papai Noel.  Até mesmo descobrir que ele não existe, ajudou a lidar com as decepções.
Muitos pais hoje em dia são contra as fantasias e não ensinam seus filhos a sonhar e a imaginar mundos impossíveis.  Eu acredito que é a nossa capacidade de sonhar que nos torna mais fortes e dispostos a lutar por aquilo que queremos. 

A realidade, dura e difícil por muitas vezes, é retratada nos filmes com todas as suas cores e dores.  E estes filmes, geralmente, são campeões de bilheteria.  Mas, para vermos maldades, crimes e doenças, não precisamos gastar uma entrada de cinema. Basta assistir aos noticiários da TV, onde, com certe4za, não encontraremos nenhuma notícia sobre sonhos e fantasias.
É a capacidade de sonhar que distingue os bons dos maus. É a capacidade de sonhar que alimenta o nosso espírito e nos impulsiona a seguir em frente, com a mente mais leve e mais disposta a construir os nossos sonhos.
 A Origem dos guardiões é pura fantasia eu sei. Totalmente fora da realidade assim como os sapos que viram príncipe ou dragões que prendem princesas em torres. Mas que mal poderia fazer se desligar um pouco da realidade e viver momentos de encantamento e magia?

Está aí uma dica para quem quer assistir a alguma coisa leve e bonita nestes tempos de Natal. Não seria maravilhoso podermos dormir em paz sabendo que os guardiões zelam por nossas crianças.

Seria o mundo como Jhon Lennon imaginou: todas as pessoas vivendo a vida em paz.  Mas esta não seria a nossa fantasia?

domingo, 25 de novembro de 2012

MOBILIDADE URBANA? O QUE É ISSO?



Pois é, já ouvi falar muito em mobilidade urbana. É importante, é urgente, projetos estão sendo feitos, obras executadas... Mas,  sinceramente, pra mim, é algo inexistente.
Porque meus amigos quando em um dia de domingo a gente pega engarrafamento na av. Conselheiro Aguiar não dá para encarar mobilidade como outra coisa a não ser piada.
Isso sem contar o caos em que se transformaram as ruas da cidade do Recife. Não posso falar por toda a cidade pois não circulo por ela todos os dias. Mas, de Boa Viagem, posso falar sem medo de errar: se piorar mais um pouco trava de vez.

Moro em um local que, há vinte anos, poderia se passar por uma tranquila cidade do interior. As ruas não eram calçadas e, quando chovia, senhoras porcas vinham, com seus filhotinhos, brincar nas poças de lama que se formavam em frente ao prédio onde moro.  Algumas vezes não podíamos entrar logo com o carro porque a mamãe porca estava alimentando a prole bem em frente à nossa entrada.  Esperávamos, pacientemente, que a família se retirasse para que pudéssemos entrar.  

Naquele tempo não tínhamos nem portão no prédio. Não era preciso. Nunca havia entrado nenhum intruso. Nem mesmo as sem horas porcas que se limitavam à entrada. De manhã cedo e ao final da tarde ouvíamos o barulho dos chocalhos pendurados nos pescoços das vacas que iam ou voltavam do pasto. Eram de uma vacaria perto do prédio. Por não haver necessidade de portões,  certa feita uma vaca mas afoita entrou no jardim da casa da esquina e, não resistindo ao calor, resolveu dar um mergulho na piscina. Foi uma confusão daquelas. Até os bombeiros foram acionados para retirarem a vaca de lá. Aliás, ela deve ter ficado muito contrariada por ter sua natação interrompida. Esses eram os problemas daqueles tempos.

O progresso chegou e o prefeito resolveu   calçar a minha rua e as ruas ao redor.  Teria sido tudo muito bom se ele ou sua equipe de paisagismo não tivessem a “brilhante” ideia de transformar ruas largas em ruas estreitas, alargando calçadas e construindo jardins dos quais nunca fizeram a manutenção.  Não ficou legal nem naquela época e muito menos agora, quando os carros quadruplicaram em nossa cidade e estas ruas são o retrato da loucura: estreitas, com estacionamento dos dois lados e mão dupla.
Hoje,  muitas vezes não podemos entrar com o carro no prédio. Mas não é por causa de alguma mamãe porca não. É por causa de seres humanos que acham que podem tudo e que têm o direito de fechar, com seus carros, a entrada dos prédios dos outros.  Param seus carros, trancam e desaparecem.  Isso sem falar nas filas duplas, nas estacionadas em cima dos canteiros dos tais jardins.

As ruas e avenidas de Boa Viagem estão intransitáveis.  As pessoas estacionam onde querem, andam por onde querem e os outros que se virem. Não é raro, de manhã, no horário de grande movimento, encontrarmos caminhões, kombis e caminhonetes estacionadas em fila dupla, na Av. Boa Viagem, descarregando coco, gelo ou coisas do tipo.
Isso sem falar nos caminhões e betoneiras das inúmeras construções ou nos carros pipas que circulam ou estacionam pelas ruas estreitas e congestionadas  nos horário mais conturbados.

Ah, não posso esquecer da turma que não está nem aí para os cruzamentos e trancam os sinais porque não podem perder um segundo aguardando o trânsito andar para poder passar.
Como é minha gente que em uma cidade do tamanho de Recife a inauguração de um Shopping trava a cidade? Havia um engarrafamento que passava na rua atrás da Livraria Cultura e se arrastava pelo Cais de Santa Rita, Cais Estelita, Cabanga e chegava até o final da Ponte do Pina, de um lado e, de outro, parou a Agamenon Magalhães. Isso existe?

Este é o retrato de nossa realidade: ruas mal planejadas que precisam ser revistas com urgência, estacionamentos que deveriam ser proibidos, vias que deveriam ser mão única e motoristas que deveriam reaprender a dirigir e a ter bons modos.
Existe luz no fim do túnel? Pode até ter, mas se não for feita alguma coisa para reorganizar o trânsito no Recife, não tem túnel, ponte ou viadutos novos que dê jeito.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

COMO APROVEITAR O FIM DO MUNDO





O final do ano já chegou e, segundo a previsão amplamente divulgada, o mundo vai acabar no dia 21 de dezembro.  Interessante é que, à medida que dezembro se aproxima não se tem ouvido mais falar com tanta intensidade desta previsão.

E, foi após eu e minha filha comentarmos sobre isso que resolvemos assistir à nova série da TV: Como aproveitar o do mundo. Não tínhamos lido nada a respeito da série, apenas ficamos curiosas e achamos que iríamos nos divertir um pouco.

Bem, realmente o conceito de diversão da minha família é bem diferente do conceito de quem escreveu e produziu a série. Será que por acreditar que o mundo vai mesmo acabar a televisão resolveu abrir mão do bom gosto de uma vez por todas?

Minha gente, o que pode ter de engraçado em ver uma atriz atuando de maneira afetada e vulgar, sofrendo as agruras de uma dor de barriga? Convém salientar que incluindo todos os sons inerentes a esta situação.  Que coisa horrível, de baixo nível  e sem a menor graça.
Eu me recuso a acreditar que alguém possa achar uma cena grotesca daquela engraçada. Bizarra, de mau gosto, baixo nível, atentado ao bom humor e ao riso. Tudo bem.  Mas qual a categoria de humor que aquilo se enquadra é uma incógnita.

É realmente para se lamentar o nível que o humor em nosso país está chegando. Tão baixo que daqui a pouco os programas vão ter que ser produzidos no subsolo.  

É isso meus amigos, em lugar de procurar melhorar o nível cultural de nossa população, preferem colocar no ar o que de pior poderiam produzir. 
Ao final do primeiro bloco do programa, desligamos a TV e fomos conversar. Bem, pelo menos teve este lado positivo.

De uma coisa fiquei certa, o mundo pode não acabar em 21 de dezembro. Mas o bom gosto, com certeza, está em falta na televisão brasileira.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

CIGARRO NA NOVELA? COMO ASSIM?



Já há algum tempo que não temos visto mais em novelas, por exemplo, as pessoas fumando, como era comum nas produções de antigamente, antes da campanha acirrada contra o fumo, que vemos em todo o mundo.
  O charme, o glamour que atores e atrizes transmitiam em suas interpretações foram sendo deixados de lado e, pouco a pouco, não apareciam mais fumantes nas novelas.
 
Foi com muita surpresa que observei que na novela “Guerra dos Sexos”, a personagem Manuela, interpretada por Guilhermina Guinle, acendendo um cigarro e fumando durante uma boa parte do tempo em que esteve em cena.
E, surgiu uma pergunta: por que a Globo voltou a colocar pessoas fumando em suas novelas? Bem, que as novelas da emissora são campeãs de merchandising, disso não tenho a menor dúvida. Basta observamos um pouco para percebermos que diálogos estão sendo escritos especificamente para promover xampus, hidratantes, maquiagens e sapatos, por exemplo. Mas, me recuso a acreditar que a indústria do tabaco esteja pagando para as personagens fumarem nas novelas.

Bem, independentemente dos motivos que levaram “Manuela” a fumar durante o capítulo da novela, é muita falta de responsabilidade e de bom senso da emissora permitir que isso aconteça em um horário de novelas assistido, inclusive por crianças. As novelas das sete (que durante o horário de verão passa às 8h) são caracterizadas por sua descontração, por sua proposta mais leve, com vilões mais divertidos do que maus de verdade. Vide Chayene (Cláudia Abreu) e suas loucas e divertidas “vilanices” na novela anterior, Cheias de Charme.
Fazer merchandising de xampu ou de colônia ou até mesmo de uma loja é uma coisa. Mas permitir que algo tão nocivo quanto o cigarro volte às telas das novelas é inadmissível.

domingo, 28 de outubro de 2012

ELEIÇÃO NA ERA DIGITAL


As eleições no Brasil dão aula de tecnologia. Enquanto no maior país capitalista do mundo o voto ainda é de papel e apuração leva dias, no Brasil o voto é eletrônico e o resultado sai no mesmo dia à noite.
As urnas eletrônicas são rápidas, eficientes e impedem o roubo na apuração, fato que, pelo que ouvimos contar, acontecia com frequência em tempos de marcação no papel.

Mas, infelizmente, em meio a todo esse avanço tecnológico ainda há muitos retrocessos no processo eleitoral de nosso país.  O poder econômico ainda fala mais alto do que projetos e ações políticas.
O coronelismo, o voto de cabresto e outras práticas que deveriam estar ultrapassadas ainda se fazem presentes, impedindo, muitas vezes, que vençam aqueles que, no exercício de seu mandato, trariam maiores benefícios para a população.

Que tristeza vermos a nossa democracia, construída com sangue, suor e lágrimas, ser desvirtuada desta forma.  Não tem decepção maior para um militante que luta pela ideologia de seu partido do que ver derrotados seus candidatos por causa de uma disputa desigual.
Daqui a algum tempo, quando estiver sendo estudada a história da democracia em nosso País, com toda a certeza 2012 será visto como um ano de eleições municipais de resultados inesperados e surpreendentes. Pena que nem todos satisfatórios.

sábado, 12 de maio de 2012

DIA DAS MÃES


Sei que a comemoração do Dia das Mães tem muito a ver com compras, comércio, consumismo. Mas a conotação, a comemroação, depende da maneira como a gente encara o dia.

Ser mãe para mim foi o maior presente que recebi de Deus. E Ele me concedeu três vezes este maravilhoso presente. Portanto, apesar de, em sua essência, ser um dia meio que comercial, ele encerra uma simbologia que vai além do lado material.

Têm os velhos chavões de que dia das mães é todo dia e taç. Mas, ainda que o dia exista por razões mercantis, acho legal dedicar um dia a quem dedica todos os dias à família.

Já falei, em opoutras oportunidades, que sempre curti as minhas filhas e que nunca achei bom as férias delas acabarem só para eu ter sossego. Aprendi com a minha mãe a importância da família, da cumplicidade, da solidariedade e do carinho que deve unir seus membros. E passei isso, com muito gosto, para as filhas.

Adorava as férias quando podíamos passar mais tempo juntas, brincando de boneca, de lego, de barbie, de Poli. A casa sempre viveu desarrumada, com brinquedos espalhados pela sala, varanda, porque, aprendi certa vez, com Dulce Campos, grande psicanalista e uam das donas da escola que as duas mais velhas estudaram que "a criança só tem a infância para ser criança e tem a vida toda apra ser adulta".

Talvez seja por isso que gosto tanto do Dia das Mães, com aquele lance dos cartazes espahados pela casa, dos cartões com dizeres que sempre me fazem chorar e o café na cama.

Neste Dia das Mães, seremos eu, minha mãe e minha irmã apenas. As minhas três filhas estão muito longe daqui. E eu vou sentir ainda mais a falta delas.

Mas sei que lá longe estão agora estarão pensando em mim.

terça-feira, 8 de maio de 2012

CONSERTAR OU JOGAR FORA?


Esta semana compartilhei em meu Facebook uma foto de um casal idoso com a seguinte mensagem: como os senhores conseguem manter um casamento que já dura 65 anos?
- Meu filho, nós nascemos em uma época em que quando algo quebrava nós éramos ensinados a consertá-lo e não a jogá-lo fora.

Então, uma amiga. Leda, postou um comentário dizendo que era uma homenagem aos pais de outras duas amigas, Helena e Herta, que, no dia 22 de abril, celebraram 65 anos de casados, com muitas histórias de conserto.

Daí fiquei pensando em como esta história de conserto é mais séria do que parece. Após 34 anos de casamento, completados no próximo dia 20, tenho como afirmar que a frase é a pura verdade.

Infelizmente, o imediatismo, a pressa em soluções e a necessidade de satisfazer todos os sonhos e desejos no menor espaço de tempo possível, têm levado as pessoas a tornarem tudo descartável. Até os relacionamentos. Duas pessoas se conhecem, às vezes namoram um bocado de tempo e, quando casam, não dá certo. E, outros casos, o namoro dura pouco e o casamento muito.

Não há fórmula mágica, não há receita, mas há a certeza de que, se em qualquer relacionamento, se as partes envolvidas não fizerem um esforço para que dê certo, deixando ao acaso, à acomodação, certamente, não irá durar muito.

Hoje em dia, quebrou, joga fora. Consertar fica mais caro. Melhor comprar um novo. Tem garantia e tal. Mas nos relacionamento, além de não ter garantia estendida, não tem sequer a garantia de que o novo será melhor que o velho.

Em relacionamentos se não consertar, não dura. Vai se desgastando até parar de funcionar.

Parabéns aos pais de Helena e Herta, companheiras de caminhada Igreja afora. Que Deus os abençoe e dê saúde. E que o seu exemplo se espalhe pela família, pelos amigos e por tantos quantos quiserem preservar, em vez de se desfazer.

domingo, 29 de abril de 2012

O ENCONTRO DOS DONS

Há treze anos tive o privilégio de presenciar um encontro maravilhoso e inesquecível entre dois dons: o da música e o do amor e da paz. Para relembrar este momento, republico o texto que escrevi na época, para descrever a emoção deste encontro, idealizado por mim e realizado com a ajuda de Frei Betto. O texto foi publicado no jornal Igreja Nova e no site chicobuarque.com.br.


"A temporada aí foi ótima, ainda mais tendo sido possível o encontro com Dom Helder. Depois de vê-lo a gente ainda acredita que o Brasil pode dar certo..." (VINICIUS FRANÇA – Empresário de Chico Buarque)
Se um tem o Dom do Amor, da Paz e da Vida, o outro tem o Dom da poesia, da música, da alegria.
Se um defendeu o direito à vida e à liberdade, levando aos quatro cantos do mundo a denúncia em favor dos fracos e oprimidos, o outro denunciou, levando a sua música.
Cada um dos dois, a seu modo, vem lutando para que o nosso país possa se tornar um lugar melhor, onde todos possam se sentir incluídos e partes integrantes da mesma nação, com direitos e deveres iguais para todos.
E foi assim que, no dia 16 de julho, dia da padroeira do Recife, Nossa Senhora do Carmo, em um final de tarde claro, com restos de sol, a música, as letras, a poesia, os dons, enfim, se reencontraram, para celebrarem a alegria de estar juntos.
O Dom mais velho, mais experiente, e por isso mesmo mais cansado, aguardava em sua cadeira de balanço, a chegado do outro dom, mais jovem, menos experiente até, mas trazendo consigo também a sua bagagem de luta pela libertação de seu povo, de seu país.
Os velhos e alegres olhos castanhos do profeta/poeta/escritor/pastor, encontraram os olhos azuis saltitantes do poeta/músico/cantor e por que não dizer também pastor, quando conduz com sua música, ao deleite e também à reflexão.

Dom Helder Camara, simplesmente o DOM.
Chico Buarque de Holanda, simplesmente o Chico.
Um, genial em seu pastoreio, outro, genial em suas criações.

Articulado por mim e por Frei Betto, o encontro dos dons foi um momento de ternura, ou de "fraternura"(como costuma dizer, carinhosamente, nosso  irmão Leonardo Boff), visível nos rostos presentes.
De repente, o artista se levanta e cantarola trechos de "A Banda" para o profeta, que erguendo os braços alegremente, acompanha o ritmo da música, como se regesse uma orquestra: " Estava à toa na vida o meu amor me chamou, pra ver a Banda passar, cantando coisas de amor. A minha gente sofrida, despediu-se da dor, pra ver a Banda passar, cantando coisas de amor".
Com certeza, a luta do profeta e do compositor tem sido para que realmente a sua gente sofrida se despeça da dor. Não apenas para ver a Banda passar. Mas para viver num país onde a dignidade e a solidariedade sejam um princípio e não apenas uma referência.
Mas um profeta não se cala. Suas palavras, suas denúncias atravessam o tempo.
A um cantor também, não se consegue calar. Como a denúncia do profeta, sua música ficará milênios, milênios no ar. Talvez os sábios em vão tentem decifrar o eco de antigas palavras, fragmentos de cartas, poemas, vestígios de estranhas civilizações.
Mas, com certeza, os amores serão sempre amáveis, e futuros lutadores quiçá, erguerão suas bandeiras de luta em defesa da vida, embalados, talvez sem saber, pelos poemas e pelas canções que um dia, o profeta e compositor, deixou para eles.

Por isso, como diz o artista, "Não se afobe não, que nada é pra já". E como diz o profeta: - "Não devemos temer a utopia. Gosto de repetir muitas vezes que, ao sonharmos sozinhos, limitamo-nos ao sonho. Quando sonhamos em grupo, alcançamos imediatamente a realidade. A utopia, compartilhada com milhares, é o esteio da História".
Juntemos pois os nossos sonhos, pois só assim poderemos entender porque "O segredo de ser sempre jovem – mesmo quando os anos passam, deixando marcas no corpo- é ter uma causa a que dedicar a vida." ( Dom Helder)

Fotos: Sérgio Lobo

sábado, 14 de abril de 2012

QUANDO OS ÍDOLOS SE ENCONTRAM

O próximo final de semana no Recife será histórico. Estarão fazendo shows, ao mesmo tempo, no dia 21 de abril o maior ícone da música popular brasileira, o músico do século XX, Chico Buarque e o maior astro do rock mundial, o beatle Paulo McCartney.
Fã número um que sou dos dois não poderia estar vibrando mais. Vocês já imaginaram a energia positiva que vai tomar conta do Recife? No Teatro Guararapes Chico cantando e encantando uma platéia embevecida por seu talento inigualável de compositor e seu jeito tímido e terno de cantar.
E, não muito longe dali, no Arrudão, Paulo estará levantando a galera, 50 mil pessoas que cantarão e dançarão ao som de velhos sucessos dos Beatles e velhos e novos sucessos da carreira solo de Sir Paul.
Em 2010 ganhamos, eu e meu marido, das filhotas, de minha mãee de minha irmã, o presente maravilhoso de ir ao show de Paul em São Paulo. Foi um momento inesquecível, de pura adrenalina e emoção que pensei não se repetir. Mas, para minha surpresa, vai se repetir sim e nem precisamos ir muito longe de casa para viver outra vez aqueles inesquecíveis momentos.
Show de Chico tenho ido a todos aqui no Recife, desde os idos da década de 70, no Geraldão, no teatro Santa Isabel e, desde 1999, no teatro Guararapes.
Já se vão tantos anos desde que a música dos Beatles e a de Chico entraram em minha vida que nem dá pra lembrar com precisão quando ocorreu o primeiro contato. Mas, uma coisa é certa, depois que fui apresentada a eles nunca mais deixei de curtir. Tive a alegria de casar com uma pessoa que também é fã dos Beatles. Resultado, nossas três filhas são beatlesmaníacas como nós dois e, ainda por cima, chicomaníacas também.
É uma pena que elas não estejam por aqui para que pudéssemos curtir juntas o show de Paul. Em 2007, estávamos as quatro juntas assistindo ao show “As cidades”, cantando cada música apresentada por ele antes, durante e depois do show.
E, o show de Paul, a caçulinha estava com a gente.
Mas não faz mal. Nós vamos curtir muito por elas. Quem sabe, em uma próxima vez possamos estar curtindo toda a família junta?
Agora me respondam uma coisa: Os recifenses são ou não um povo de sorte? Falem a verdade, não é mesmo demais termos Chico Buarque e Paul McCartney fazendo show no mesmo dia em nossa cidade?

sexta-feira, 6 de abril de 2012

CARTA AOS MEUS FILHOS

Franz Kafka, escritor tcheco, falecido em 1924, tem entre os seus escritos as “Cartas ao meu Pai”, um angustiante diário, onde ele dizia ao pai, talvez tudo o que não teve a oportunidade de dizer pessoalmente. Ou quem sabe, não pôde ou não teve coragem..

Aproveitando-lhe a idéia de uma correspondência entre filho e pai, apelamos para a livre criatividade que o nosso Pai nos dotou e imaginamos como seria uma situação inversa, do Pai escrevendo para os seus filhos...

“No princípio, eram apenas dois. Depois, eles foram aumentando, em número e em sabedoria, os meus filhos.
Mas eles não sabiam quem eu era... nem imaginavam que teriam um pai ... que lhe deviam respeito e obediência.
Escolhi alguns outros filhos para lhes dizer isso ... mas, mesmo assim, eles não entendiam, não escutavam.

Foi preciso que eu mandasse meu filho mais velho, para dizer, explicar aos seus irmãos, o que eu queria deles... mas a maioria dos meus filhos nem quis saber ... até mataram o irmão. Mas, talvez por ser o mais velho, de qualquer forma, alguns lhe deram ouvidos e levaram a sério o que ele tinha a dizer.

Tanto tempo se passou, desde que eu o enviei e o trouxe de volta para junto de mim. Tantas desobediências continuaram e continuam acontecendo... o meu filho mais velho continua sendo muito respeitado, é verdade, mas a maioria dos seus irmãos o ignora.

Quando meu filho mais velho andava por entre os irmãos, ele nomeou alguns seus procuradores, na difusão da minha mensagem. É verdade que ao longo desses anos todos, o número dos que acreditam na mensagem do irmão mais velho, cresceu muito. Não o suficiente ainda para que me sinta feliz. Mas cresceu. O número dos procuradores também cresceu. Menos do que deveria, é verdade. Mas, não só isso que me causa pesar. O que mais me traz sofrimento, é ver que , dentre os meus procuradores, alguns, apesar de saber tudo o que quero que façam, me ignoram e agem por sua conta e risco. E o que é pior, ainda dizem que eu os inspiro.

E, sabem o que mais me dói? É o descaso daqueles filhos que se dizem fiéis e obedientes a mim. Falem-me a verdade: pode haver dor maior para um pai, do que saber que um filho diz para todos que ama o pai, que o respeita e que o obedece, mas que, ao contrário, só faz o quer, mesmo que vá de encontro ao que lhe é pedido?

Eu sei que poderia usar de minha autoridade e obrigar a todos a me obedecer. Mas, não é assim que um pai de verdade deve agir. Um pai de verdade tem que ter, acima de tudo, misericórdia para com os erros dos filhos, paciência para com a sua rebeldia, tolerância com o seu descaso. Um pai tem que ter muito amor, tanto que, ao transmitir para o filho aquilo em que acredita e, tendo ele crescido o suficiente para andar sozinho, soltar-lhes as mãos e deixar que se vá.

Era isso que eu esperava daqueles que receberam a procuração para me representar. Entreguei-lhes a guarda de irmãos, confiando que seriam mansos e prudentes. Que agiriam com a sabedoria que procuro lhes passar.

Mas meu coração de pai está triste. Cada vez mais triste. Poderia ser diferente, ao ver que dentro da minha própria casa, irmão persegue irmão, irmão faz irmão sofrer.
Filhinhos, acordem, abram os seus olhos e leiam o que seus irmão mais velho deixou para vocês.
Basta de perseguições! Basta de Injustiça!

É em meu nome que vocês agem e eu não lhes passei procuração para agirem com arbitrariedade, autoritarismo, injustiça ou frieza.
A procuração que seu irmão mais velho lhes passou foi para que, representado-me, agissem como eu agiria, se aí estivesse: usando, acima de tudo, misericórdia.

Meus filhos, ponham a mão na consciência e me respondam: se fosse EU realmente que os inspirasse, como vocês acham que EU conduziria o meu povo, a minha Igreja?”

Em tempos de Páscoa, uma reflexão sobre tudo isso poderia ser bem oportuna.