Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

“IDEOLOGIA: EU QUERO UMA PRA VIVER”. – PUBLICADO JC – 14/04/99

“Pertenço a uma espécie em extinção. A um tempo em que jovens abraçavam utopias e sonhavam em mudar o mundo. O discernimento brotava na idade certa, tanto que, ao final do segundo ciclo, uns optavam pelo curso científico, outros pelo clássico.”
Trecho inicial do artigo “Memórias de um dinossauro”, de frei Betto, publicado no jornal Estado de São Paulo, no dia 28/08/98..
Lendo este artigo, comecei a me sentir, eu mesma, parte integrante desta espécie em extinção.
Seria apenas mero romantismo, querer que a juventude de hoje tivesse a garra e a ousadia dos jovens das décadas de sessenta e setenta, quando muitos deram a própria vida por seus ideais ? Ou quando o sonho de consumo era de uma calça velha, azul e desbotada?
Não há mais repressão a combater, os pais hoje são na grande maioria liberais, o sexo já não é mais tabu ... não sobrou nada pelo que lutar ....
Não sobrou? E a injustiça social que assola o país? A fome, a falta de instrução, a ausência de um sistema de saúde decente, a falta de emprego, a falta de terras para os pequenos agricultores ... isso é problema de quem? Podemos até dizer que isso é problema do governo. Mas é problema nosso, cobrar do governo, uma solução para tudo isso.
Nas décadas de 60 e 70, lutava-se pela liberação sexual, pelo divórcio, pelo feminismo, pelo direito de pensar diferente do governo, pela democracia, pelo direito de voltar a eleger prefeitos, governadores, presidente.
As eleições aconteceram e o que vimos? O marasmo das campanhas e maior ainda, dos eleitores.
Ao contrário do que acontecia até há alguns anos atrás, em nenhum nível, houve entusiasmo por parte da população.
E os jovens, essa galera descontraída e alegre, onde anda, nesse final de milênio? Quando interrogados sobre eleições, responderam que não estavam nem aí. Até parece que estamos vivendo na “Terra do Nunca”, o mundo de Peter Pan, onde as crianças nunca crescem. Só que nessa terra real em que vivemos, as crianças crescem, se tornam adultas e vão assumir a condução deste mundo, que para elas, parece tão distante.
Hoje, os jovens se preocupam muito com os “trombadinhas”, porque eles estão lhes roubando os preciosos tênis de “grife”. Outra grande preocupação é a malhação, o filme que está passando, o novo CD que está rolando, o lugar da moda para freqüentar.
Antes, estar por fora era ser alienado, despolitizado. Hoje, estar por fora é não usar grifes, ser virgem, não ter provado nenhum barato químico, não freqüentar os lugares quentes, não “surfar” na Internet.
E onde está aquela juventude arrebatadora, cheia de garra e de determinação, engajada em grupos de jovens católicos, que mudou a história do país? Está criando seus filhos e não está conseguindo passar para eles, a importância de tudo aquilo pelo qual lutou e conseguiu construir.
Os jovens de 60 e 70, são os quarentões e cinqüentões de hoje, que ainda se emocionam quando ouvem “Apesar de você” ou “Pra não dizer que não falei de flores”, mas que não conseguem fazer seus filhos se sensibilizarem com um índio queimado num banco de rua em Brasília ,com a jovem mãe que tem seu filho a céu aberto, porque não há lugar nas maternidades públicas, com o pai de família desempregado, que é preso por roubar alguns pães ou com a mãe de rosto cortado pelo sol, que anda quilômetros com uma lata na cabeça, para pegar uma água barrenta e infectada, para saciar a sede de seus filhos.
Por enquanto, ainda não estamos precisando de Spielberg para ressuscitar os dinossauros, porque, apesar de poucos, ainda não estão extintos. Embora muitos, tal como a nossa pátria, estejam adormecidos em berço esplêndido.
O que aconteceria se, de repente, uma manada de dinossauros despertasse e saísse às ruas, em busca dos sonhos perdidos? Talvez conseguisse, pelo menos, alertar seus jovens rebentos, para o fato de que o futuro chega rápido e que, em breve, eles herdarão o mundo e pode ser que não tenham a menor idéia do que fazer com ele.
O que podemos fazer por nossos filhos, para que não cheguem à idade adulta , como “O Velho”, música de Chico Buarque: “me diga agora o que é que tem de novo pra deixar? Nada só a caminhada longa, pra nenhum lugar”. E o que podemos fazer por nós mesmos, para não esquecermos das páginas que escrevemos em nossos livros e para que as próximas, não fiquem em branco?
Precisamos reservar em nossas agendas, um tempinho para pensar sobre isso: Está faltando alguma coisa em nossas vidas. E está faltando ainda mais, na de nossos filhos.
Precisamos criar coragem de revirar o nosso baú de sentimentos e reinventar a nossa própria vida.
Precisamos reencontrar a nossa própria FÉ.
E que bom seria se, redescobrindo Cazuza, os nossos jovens cantassem bem do fundo da alma: “IDEOLOGIA, EU QUERO UMA PRA VIVER” e, sem medo de se comprometer e sem medo de ser feliz, abrissem os olhos e o coração para a vida, e, agarrando-a com muita força, se sentissem orgulhosos em dizer: somos dinossauros e não estamos mais em extinção. REJANE MENEZES

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

PÁTRIA AMADA IDOLATRADA SALVE SALVE!

Houve uma época em que cantar o hino nacional ou exibir a bandeira do Brasil era motivo de vergonha, revolta, tristeza... eram os chamados anos de chumbo, da ditadura que perseguia, prendia e matava... era o tempo em que sentíamos vergonha de ser brasileiro.

Era o tempo dos exílios forçados, das saudades dolorosamente curtidas, do medo, da angústia, das perdas e das lágrimas.

Mas, passados os primeiros momentos, tornou-se o tempo da luta e da esperança.
Do exílio na Itália, Chico enviava sua parceria com Jobim para concorrer ao Festival Internacional da Canção, que dizia: “vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar, foi lá e é ainda lá, que eu hei de ouvir cantar uma sabiá...”

Seu compadre, o poetinha, finalizava seu poema “Pátria Minha” dizendo: “Não te direi o nome, pátria minha / Teu nome é pátria amada, é patriazinha / Não rima com mãe gentil /Vives em mim como uma filha, que és /Uma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia/ E pedirei que peça ao rouxinol do dia / Que peça ao sabiá / Para levar-te presto este avigrama:/ "Pátria minha, saudades de quem te ama.../ Vinicius de Moraes."

Vandré, sofrendo as agruras do exílio forçado, cantava em um festival do Peru: “Se é pra dizer adeus, pra não te ver jamais, eu que dos filhos teus, fui te querer demais ...” e Pátria lhe respondia: “Amado meu sempre será, que me guardou, no seu cantar...”

Pátria minha, Pátria amada, Pátria nossa! O tempo passou, a ditadura acabou e os filhos teus voltaram.

Mas esta Pátria que deveria ser o aconchego e o alento de seus filhos, às vezes parece tão ingrata! Se já não os expulsa mais por questões políticas, agora os manda embora por causa da violência ou por questões econômicas.

Nem tão independente como gostaríamos, nem tão amada quanto queria, um tanto sofrida, um tanto chorosa, a terra onde cantam os sabiás, dos altos coqueiros, das praias verdes, do céu azul, do contraste entre a grande pobreza e as pequenas riquezas, da seca, das enchentes, do frio e do calor, é a nossa Pátria, para onde, de alguma forma, sempre se quer voltar, quem sabe pra ouvir o canto da sabiá. Afinal, segundo Gonçalves Dias “as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá...”

E, em meio a saudade e a vontade de voltar ou de ficar, vão indo embora tantos talentos, levando consigo o alento dos que ficam, em seu lugar apenas uma saudade...

Pátria nossa tão sozinha, abre os braços e grita aos ventos: quero de volta todos os meus rebentos, quer tê-los em meus braços, niná-los com as cantigas das águas que correm dos meus rios para o mar. Quero amá-los sem pudor. Acolhê-los todos em meu ventre e lhes dar, a cada momento, uma razão para ficar.

sábado, 12 de setembro de 2009

SOU NORDESTINA SIM, E DAÍ?

Dizem por aí que brasileiro não desiste nunca. Nordestino então, nem se fala. Sou brasileira, nordestina com muito orgulho, daquela que acredita que não apenas o sertanejo, mas o nordestino "é antes de tudo um forte".

Nasci em uma época em que a emancipação feminina ainda era meio que proibida por estas paragens e fiz vestibular em meio a pior fase da ditadura militar, onde jornalista e historiador era tudo "comunista".

Mas eu não poderia ter feito outra coisa a não ser jornalismo. Escrever, como profissão e como lazer, é algo que faço com alegria e prazer. Mas, não tenho veia de repórter, de correr atrás da notícia, do furo, da entrevista exclusiva. Não gosto de correria. Nunca tive pressa. Acho que escrever é uma coisa tão prazerosa que não pode ser feita sob pressão, com o relógio ditando o nosso limite.

Escrever depois que aconteceu é muito mis legal do que escrever enquato acontece. Aqui estão os frutos de algumas das misturas de minhas letras e, aqui e ali, misturas de outras pessoas que eu não resista em partilhar com vocês.

Leia, comente e se delicie. Afinal, a gente mistura as letras pra isso mesmo: para os outros lerem e, com sorte, gostar.