Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

JEJUM EM TEMPOS DE GRITO

Depois da publicação de várias notas chamando os cristãos e cristãs a lutarem por seu direitos, a CNBB -  Conferência Nacional dos Bispos do Brasil convida a todos para uma “Jornada de Oração pelo Brasil, a ser realizada nas comunidades, paróquias, dioceses e regionais do país, de 1º a 7 de setembro próximo. Os bispos decidiram mobilizar os cristãos, por meio da oração, após a análise da realidade brasileira feita na última reunião do Conselho Episcopal Pastoral da entidade, dias 10 e 11 de agosto”.

E, esse convite, essa sugestão, levou algumas pessoas, como o sociólogo e escritor Pedro Oliveira, a refletir sobre essa espécie de recuo por parte da CNBB em relação ao chamado dos cristãos e cristãs a irem ás ruas ou mesmo participar de greves gerais, reivindicando de volta o que lhes está sendo tomado: o direito a uma vida digna  e a justiça social (http://jornaloporta-voz.blogspot.com.br/2017/08/a-cnbb-recolhida-em-jejum-e-oracao_23.html)
“O Dia de Oração e Jejum sugerido é o dia 7 de setembro, data que marca a Independência do Brasil”, ainda de acordo com a nota.

Ora, o dia 07 de setembro é, desde 1995, o dia em que vai ás ruas o GRITO DOS EXCLUÍDOS, gestado a partir da iniciativa da Pastoral Social da mesma CNBB e de movimentos sociais.  O 1º Grito dos Excluídos saiu  levando às ruas o tema da Campanha da Fraternidade daquele ano: “A Fraternidade e os Excluídos”.

E aqui colocamos a pergunta que não quer calar: por que jejum e oração e nenhuma menção ao Grito? Não poderia ter sido sugerido que a jornada proposta fosse encerrada com a participação, em todo o Brasil, no 23º Grito, cujo tema para esse ano é: “Vida em primeiro lugar. Por direitos e democracia, a luta é todo dia” ?

Por que jejum? Em um mundo onde milhões de pessoas passam fome, pessoas que dariam tudo por um pouco de alimento, não dá para entender como pessoas que têm acesso á alimentação deixariam de comer em prol de um país melhor. E as pessoas que já jejuam forçadamente todos os dias? Se o jejum fosse uma forma eficaz de melhorar o país, a privação dessas pessoas já não deveria ser suficiente para o país sair da crise? Então a injustiça social, a miséria, a fome diária pela qual passa a população carente do Brasil já não seria sacrifício suficiente? Ou o sacrifício dessas pessoas já é tão natural que não conta? O jejum que conta é de quem tem o que comer todos os dias e pode se dar ao luxo de deixar de comer quando quer? Se sofrimento físico modificasse o mundo, tornasse o mundo melhor, já não teriam sido suficientes as guerras e toda a miséria, por exemplo, de uma Etiópia? Baseado na suposta eficácia do jejum, o planeta hoje já não deveria ser um novo éden?

Por que então não propor um jejum diferente ás pessoas de boa vontade? Um jejum de egoísmo, de ódio, de intrigas, de corrupção, de perseguição? Por que não propor que na primeira semana de setembro se faça jejum dos preconceitos nossos de cada dia? Que tal então, por uma semana, ao menos por um dia se deixar de lado a misoginia, machismo, homofobia,  preconceito racial e de classe?

Por que não propor ao Povo de Deus, caros bispos e arcebispos da CNBB e religiosos e religiosas de todo o Brasil, que faça jejum de desrespeito, de ameaças, de desprezo?

Esse tipo de jejum sim, com toda certeza, nos tornaria pessoas muito melhores. E, aliado a esse jejum, de atitudes e não de comida, faríamos nossas orações, não apegados ás orações já prontas, mas em um momento de íntima relação com Deus, onde com sinceridade rogaríamos pela justiça social, pela dignidade da vida, para todos e todas e não apenas para quem pode se dar ao luxo de jejuar quando quer.


E depois desse jejum e dessas orações , estaríamos prontos de coração e alma, para sair ás ruas no dia 07 de setembro engrossar o coro dos que clamam por democracia e justiça. Para sermos ativos reivindicadores e, acima de tudo, promotores da vida em abundância para todos. 

Em Recife: concentração a partir
das 09h da manhã na praça deo Derby

terça-feira, 15 de agosto de 2017

ABANDONADOS EM UM PAÍS SEM RESPEITO ÀS LEIS

Nos últimos meses viver no Brasil se tornou uma verdadeira desventura. Vemos todos os nossos direitos sendo tirados, a possibilidade de morrer sem conseguir se aposentar fica cada vez mais real e nós, o povo brasileiro, sendo desrespeitado em todas as instâncias, enquanto os que detêm o poder econômico estão cada vez mais fortalecidos.

O respeito à nossa cidadania, conquistado a duras penas, está sendo apagado, pouco a pouco, em todas as instâncias, inclusive na de consumidor.

No passado tive algumas experiências difíceis para garantir meus direitos de consumidora, antes do tal do código. Batalhas que ganhei não pelo respeito aos meus direitos pelas empresas, mas pela persistência em lutar por eles.

Com o advento do Código do Consumidor, as coisas evoluíram um pouco e trocar um produto com defeito de fábrica ficou mais fácil.

Porém em tempos de Brasil sem Lei, o código do consumidor parece já não ser mais temido pelos empresários. Pelo menos é o que parece estar acontecendo na mais recente batalha que ainda estou travando com a LG- Life’s Good (lg.com.br). Bem, a vida pode ser boa para os sócios, quem sabe até para os funcionários. Mas, com certeza, não é tão boa assim para quem compra os produtos da LG . Uma das maiores fabricantes de eletroeletrônicos do mundo.

Compramos, em novembro de 2016, uma televisão LG para minha mãe, quando a dela quebrou e não teve mais conserto. Depois de muita pesquisa de preço e de modelos, a compra foi efetuada pela internet, no site do Extra e chegou sem nenhum problema, antes do prazo previsto e funcionando normalmente.

Em maio uma desagradável surpresa: apareceu uma daquelas famigeradas linhas vermelha na tela. O defeito que a Tv antiga levou uns seis a sete anos para apresentar, a nova apresentou em menos de seis meses. Em 26 de maio levamos a Tv para a assistência técnica indicada no site da LG. No dia 02 de junho, por SMS, fomos informados pela LG que a TV seria trocada e que entrariam em contato em até cinco dias. No dia 07 de junho recebemos, via e-mail, a confirmação de que o processo de autorização de troca havia sido concluído,  em seguida encaminharam a nota fiscal do novo aparelho e informaram o  prazo de entrega era de 10 úteis, ou seja, deveria estar chegando até o dia 20 de junho.

Entrei em contato com a LG por telefone e foi confirmado o envio. O tempo passou e a Tv não chegou. Dei um prazo até o final de junho. No início de julho voltei a entrar em contato com a LG e, para minha surpresa, eles não sabiam dizer o que havia acontecido. Informação que recebemos: “a coordenação do suporte irá ser notificada, entrará  em contato com a transportadora e que ligássemos dali a cinco dias para saber uma posição”. Achei estranho um contato entre o suporte da LG e a transportadora que presta serviços para ela levar cinco dias. Liguei três dias depois. E, como se fosse uma gravação, sem ser,  foi dito a mesma coisa, além da observação que eu havia ligado três dias antes e que eles estavam no prazo para a resposta. Ironizando o fato perguntei por que em lugar de escrever uma carta para a transportadora não usavam o telefone? A LG ainda não havia descoberto o e-mail? O Whatszap ou telegram? Não dá para entender por que esse contato levaria cinco dias em plena era da comunicação. A pessoa que atendeu disse apenas que o prazo era aquele e que não podia fazer nada. E ainda completou dizendo que eu precisava entender que a Tv estava sendo mandada de outra cidade. Ao que respondi: “Isso eu entendo perfeitamente, uma vez que, na minha cidade não tem fábrica da LG. O que realmente não entendo é esse prazo para uma coisa tão simples quanto entrar em contato para saber onde anda a Tv”.

O tempo continuou passando. E essa resposta da coordenação entrar em contato com a transportadora foi dada mais algumas vezes. Até que, depois de muitas ligações e e-mails, a resposta mudou: a Tv estava retida na SEFAZ, por causa da Nota Fiscal que estava errada. Eles iam resolver e deram a opção de reembolsar o dinheiro ou aguardar de dez a quinze dias úteis. Liguei no nono dia, o que foi imediatamente mencionado pela pessoa do suporte. Dessa vez disseram que já haviam substituído a nota e o prazo continuava de dez a quinze dias úteis.

Já no final de julho, sabe-se lá que dia útil exatamente seria, décimo segundo talvez, a minha mãe, que tem 89 anos de idade, resolveu ela mesma ligar. Disseram que já pagaram a multa (??) e que não podiam fazer nada quanto ao prazo. Quando minha mãe perguntou qual era a SEFAZ que a TV estava retida informarem que era do aeroporto. Mas não disse em qual aeroporto. “Todo aeroporto tem uma  SEFAZ senhora”, foi a resposta. Sério?

Interessante é que, anteriormente, em uma das vezes que liguei e ainda não sabiam informar o que havia ocorrido, pedi que me dessem o número do código de rastreamento e a resposta foi: “senhora, código de rastreamento só existe para encomendas enviadas via correio. O aparelho de Tv é muito grande para ir por avião. Foi enviado por terra, então não tem código de rastreamento”. Como então foi parar na SEFAZ de um aeroporto, se vinha por terra?

Vocês devem estar se perguntando por que não aceitamos logo o reembolso. Por um motivo muito simples: a Tv foi comprada em novembro, em uma promoção, tanto no valor dela quanto do frete. Provavelmente o que pagamos em novembro não daria para comprar uma Tv igual agora.  Teríamos que recomeçar todo o processo de pesquisa de preços, loja por loja, site por site, ou seja,  ter todo o trabalho de novo por causa de um problema que não causamos e que, aparentemente, a Life’s Good não está muito empenhada em resolver, mesmo em se tratando de uma cliente de 89 anos. Mas quem disse que no Brasil a idade avançada merece respeito?

Tanto por e-mail quanto pelo telefone a desculpa agora era da SEFAZ, essa sequestradora de Tvs alheia e que não tinham como prever quando liberariam a nossa, mesmo depois do resgate pago, digo, da multa paga. E sempre dando prazos novos. E aí, de repente,  no dia 3 de agosto, não se fala mais em SEFAZ e recebemos um e-mail dizendo o seguinte: “Há poucos instantes conversei com o responsável pelo setor de liberação do produto e recebi a confirmação de que foi solicitada a liberação do aparelho no inicio desse mês, exatamente no dia 01/08/2017.  Levando em conta o prazo para autorização da liberação do aparelho, assim que disponível para rota, iremos direcioná-lo ao endereço de entrega. Por isso, provavelmente o produto será entregue no fim da próxima semana, ou no inicio da semana decorrente”. Ou seja, mais prazo, mais espera e uma pergunta que não quer calar: seria o e-mail e a nota fiscal recebidos em 07 de junho falsos? Alguém entrou na conta da LG e nos enviou esses e-mails? E os telefonemas e os outros e-mails que culpavam a SEFAZ sabe-se lá de que estado? Era tudo falso? Foram haqueados?  Enviei e-mail hoje perguntando isso e ainda não me responderam.

Enfim, hoje é 14 de agosto, oitenta e um dias “inúteis” se passaram desde que a Tv foi entregue na assistência técnica e, na verdade não temos uma explicação que seja realmente esclarecedora  ou uma informação precisa quanto ao real prazo de entrega de uma Tv que foi despachada por uma transportadora, por terra e, curiosamente, estava retida na SEFAZ de algum aeroporto, entre sei lá onde fica a fábrica de Tvs da Vida é Boa  e a casa da minha mãe e, de repente, não foi nada disso. A autorização só saiu dia 01 de agosto. Talvez nunca saibamos o que realmente aconteceu. Alguém errou, alguém fez besteira e a minha mãe que está pagando o pato. E estou vendo que, do jeito que nos estão enrolando, talvez tenha mesmo que entrar nas Pequenas Causas para receber a TV.

Na minha família, com certeza, ninguém nunca mais vai comprar um produto LG. E, esta história vai ser divulgada nas mídias, no boca a boca, da forma que for, cada vez que eu lembrar do mal que a LG está causando a minha mãe  que, com 89 anos e meio, hipertensa, com dificuldade de locomoção e cuja distração é assistir à TV.


A Vida é Boa? Com certeza. Mas, por ironia, não para quem compra um produto LG.