Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

sábado, 30 de novembro de 2013

ÉRAMOS MAIS FELIZES ???




Quando me lembro de coisas da minha infância, sobretudo no Facebook, costumo sempre avisar: sou velha não, sou antiga. Daí começo a listar as coisas que não existiam naquela época e constato que fui feliz, mesmo sem elas. Mas e hoje, como faria sem os avanços tecnológicos? 

Eu sempre digo que a gente não sente falta daquilo que nunca teve. Quando nasci não havia televisão por estas bandas. Os dois primeiros canais de TV foram inaugurados quando eu tinha entre cinco e seis anos de idade. Ainda lembro do meu programa preferido: PIM PAM PUM, patrocinado pela Estrela, exibido pela Tv Rádio Club e produzido pela TV TUPI. Passava às seis horas da noite. Quando acabava era hora de ir dormir. Esse era o máximo de acesso à tecnologia que nós, crianças, tínhamos na década de 1960. E a TV era preto e branco. TV colorida no Brasil só em 1972. E, assim mesmo, a programação foi se colorindo aos poucos. Não chegou de um dia para o outro.

Hoje, as crianças de cinco, seis anos, mexem com computador, tablete, ipods e smartphones, às vezes, melhor que seus pais. Jogam videogames de última geração com uma habilidade que nos deixa de boca aberta. Apesar de mídias sociais como o Facebook, por exemplo, terem a exigência de ser maior de 18 para participar dele, as crianças estão fazendo perfis cada vez mais cedo.
E eu me lembro que o máximo de brincadeira na área de comunicação que tínhamos era aquele telefone que fazíamos com um cordão e uma lata em cada ponta.

Telefone, fixo é claro, era uma fortuna para comprar. E a conta também. Ter uma linha de telefone era praticamente ter um bem, como um carro, por exemplo. Tinham pessoas que ganhavam a vida alugando telefone. Depois de casada só vim ter telefone em casa uns três anos depois e alugado. A primeira linha própria da família foi comprada em 36 prestações e só recebemos quando acabamos de pagar. Vejam vocês. Hoje, o preço caiu tanto que é apenas simbólico.

Eu vivi sem televisão e sem telefone um bom tempo da minha infância. Vivo um tempo maior ainda sem supermercado, sem tv colorida e sem controle remoto. E outro tempo ainda maior ainda sem CDS, MP3, DVD, computador, internet e celular.

Sobrevivi a tudo isso, eu sei. Mas, quando vejo toda a tecnologia que dispomos hoje, todas as facilidades que nos ajudam em nosso dia a dia, me pergunto como conseguimos viver sem essas coisas?

Sou uma fã incondicional da tecnologia. Apareceu uma novidade estou logo pesquisando sobre o que é, o que faz, pra que serve. Não sou de comprar nada logo de cara, assim que sai, pelo simples prazer da novidade. Só compro se constatar que realmente vai facilitar a minha vida. Não sou escrava da tecnologia mas acho que sem ela, a vida seria bem mais difícil. Sem um computador eu não poderia estar, neste momento, escrevendo esse texto para ser postado em seguida. E, sem a internet, você não poderia ler esse texto em tão pouco tempo depois que o escrevi, por exemplo, morando em outra cidade. Comunicação é uma grande paixão. E, consequentemente, tudo que facilita a comunicação, me encanta, como computadores e internet.

Smartphone é outra paixão. Pena que custe tão caro. Mas como não ser apaixonada por um aparelhinho que cabe na sua mão e permite que você fale com pessoas do outro lado do mundo, não apenas da forma tradicional mas pelo Skype, pelo hangout ou pelo próprio Facebook? E ainda permite acessar as mídias sociais, assistir a vídeo e ler livros? Isso sem falar nas músicas que podemos ouvir e nos joguinhos que ajudam a passar o tempo.

Lembro com alegria de minha infância, adolescência e juventude. Foram fases gostosas e felizes da minha vida. Mas acho que as crianças de hoje podem ser ainda mais felizes se souberem aliar as brincadeiras tradicionais às tecnológicas. Para elas o leque de opções de diversão é bem mais amplo. Só precisam ser orientadas a escolher bem.

Então viva a tecnologia que nos interliga e permite que nos comuniquemos uns com os outros, em tempo real, onde quer que estejamos.

sábado, 12 de outubro de 2013

GREVE: DIREITO MESMO DE QUEM?

Sou uma pessoa que sempre defendeu a democracia e que lutou por ela, desde a juventude. Aprendi, muito cedo, a respeitar os direitos dos outros, mas, também, a exigir os meus direitos. Isso me foi passado como sendo algo fundamental à cidadania: a garantia e o respeito aos direitos.

Sempre concordei que a greve é um instrumento de reivindicação dos direitos, quando eles não estão sendo respeitados pelos patrões. Quando os professores da escola onde minhas filhas estudavam, quando pequenas, faziam greve em solidariedade aos colegas que não tinham seus direitos assegurados como eles, eu entendia e apoiava.

Hoje, diante da greve dos ônibus alguns meses atrás, e, recentemente, da dos bancários, dos correios e de 24h do metrô, tenho me questionado quanto a esse direito de fazer greve. E vou explicar por que.

Na minha cabeça a greve é um instrumento de alerta, um sinalizador para os patrões onde os funcionários passam o recado de que não estão satisfeitos com salário ou condições de trabalho, por exemplo. Com a paralisação, o patrão, para evitar maiores prejuízos financeiros, negocia com os funcionários sua pauta de solicitações.

Em tempos de ditadura, a greve era o único instrumento de protesto que os trabalhadores tinham diante da opressão, inclusive, econômica.
Ultimamente o que observamos com as greves é um transtorno insano à vida da população que paga seus impostos e que vê sua vida transformada em um caos por fatores acima de seu poder de decisão.

Vejamos a greve das Universidades Federais, quem mais se prejudicou? Os alunos que atrasaram praticamente um semestre inteiro e agora, as aulas são dadas corridas, com recessos menores do que  férias, com as pessoas se formando em março, abril setembro, desconectados do calendário regular de aulas.

E em relação à greve dos bancos e dos correios? Quem se prejudica? As pessoas que não usam internet para acessar o banco, as pessoas que não tem acesso nem a terminais de caixas eletrônicos e que, dessa forma, não podem pagar suas contas. Isso sem falar que muita gente sequer recebeu suas contas em dia, por causa da greve dos correios.

Resultado, contas pagas com atraso, juros, multas, cartões bloqueados por falta de pagamento, serviços suspensos, enfim, uma série de aborrecimentos e prejuízos financeiros que a população passa e que me questiono se isso é justo.

Durante a paralização de 24 horas do metrô, vi na TV pessoas desesperadas para chegar aos seus trabalhos e não sabiam como, outras que em lugar de pegar o metrô apenas, teria que pegar três ônibus. 

Acho que nós, trabalhadores, temos direito a boas condições de trabalho e a um salário justo. Mas é preciso repensar a prática da greve como instrumento de reivindicação quando os maiores prejudicados tem sido, vez após vez, os usuários. 

Aprendi, desde cedo que, o meu direito termina quando começa o do outro. E aí fica a minha pergunta: se a greve invade o direito da população aos serviços que estão sendo negados, não estaria ultrapassando os limites dos direitos dos outros? 

Sei que muitos, ao lerem este texto irão se horrorizar, me chamar de reacionário ou coisa pior, que a greve é um direito legal e tal. Não sou reacionária. Apenas acredito que direito tem que ser aplicado a todos. Determinada classe tem o direito de lutar por suas reivindicações. E, ao mesmo tempo, a população tem o direito de ter assegurada a prestação dos serviços. E, por isso, faço mais uma pergunta: tudo que é legal, realmente é justo?

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A CAMINHO DO PRIMEIRO MUNDO?



 Sempre que leio  ou ouço alguma coisa sobre o Brasil estar se preparando para ser do primeiro mundo,  eu me questiono sobre todo esse conceito. Há a preocupação com "tecnologia de primeiro mundo", "carro de primeiro mundo" etc etc. 

Mas será que para ser um "país de primeiro mundo", bastaria ao Brasil ser desenvolvido econômica e tecnologicamente ? Ou ser um "país de primeiro  mundo" vai muito além disto?

Moro em um prédio espremido entre um colégio e um enorme edifício que praticamente "abraça o meu. Durante o dia, o colégio faz um barulho tão grande, que me questiono com relação à aprendizagem dos alunos do lá. O colégio que é  de tamanho digamos assim de médio a pequeno porte, mas com mania de grandeza, para qualquer aviso, ensaio ou similares, usa  em sua quadra (colada ao muro do meu prédio) um sistema de som, que acreditem, seria adequado ao Geraldão. Para o tamanho da quadra, nem seria preciso microfone para dar avisos.

Quando têm festas então, é o começo do caos. As caixas de som são tão potentes, que as janelas dos quartos vibram, quando começam a tocar. Nesses dias, não se pode ouvir uma música, uma TV, até conversar fica difícil, em nosso prédio. Para dormir então, é impossível, mesmo com todo o apartamento fechado e ar condicionado ligado.  Graças a Deus, as festas noturnas não são todos os dias, como o são  o recreio e jogos.

Mas, quando não há festas e o colégio finalmente silencia, começa o turno do prédio vizinho, onde crianças e adolescentes ligam o seu som e se deleitam ouvindo o que há de mais irritante e de mau gosto na música da atualidade. Seus pais, com certeza, do outro lado do prédio, descansam tranqüilamente, assistem à sua TV sem serem perturbados, enquanto nós,  os vizinhos, que temos o "privilégio" de nossas salas serem ao lado da piscina deles, para conversarmos ou assistirmos ao jornal, temos que nos trancar no quarto. Isso se tivermos sorte e a criançada não estiver correndo em bando e gritando como loucas, na parte do prédio delas  que se avizinha aos quartos do nosso.

Dia desses, depois das 22h., enquanto eu tentava dormir com toda a gritaria que vinha do lado de fora, fiquei pensando nessa história de primeiro mundo. Para mim, isso vai realmente muito além. Envolve cultura e educação do povo. Uma educação que o povo brasileiro está ainda muito longe de ter.

Quando falo em educação, não me restrinjo à educação escolar que sabemos, é capenga. Da mesma forma que se aspira ao primeiro mundo, deixando-se de lado a miséria que assola o país, deixa-se também de lado os conceitos básicos de respeito e cidadania.

Cada vez que alguém pára em um sinal vermelho, mesmo que do outro lado não venha nenhum carro, está agindo com respeito às leis e exercendo a sua cidadania. Mas, atrás desta pessoa, sempre haverá alguém impaciente, buzinando no primeiro segundo em que o sinal vai abrindo. Se o sinal está aberto e paramos para não fechar o cruzamento,  para muitos, quem parou é "idiota" porque está atrapalhando a vida dos outros. É a tal famigerada "Lei de Gérson", que impinge a quem cumpre a lei a marca de "babaca" e a quem a burla sem punição, a marca "gloriosa" da esperteza.

O futuro será diferente de hoje? Quem ensinará às crianças e adolescentes de hoje a ter respeito por seus semelhantes, se nem nos colégios, nem em muitas casas elas estão aprendendo isso? Um colégio que ignora os apelos dos vizinhos e continua fazendo seu barulho à vontade, está mostrando o que aos seus alunos? Que a liberdade deles nunca terminará, não importa onde começa a do outro. E em casa, pelo visto, o conceito é o mesmo. Se as crianças querem se divertir, mesmo que incomodando os vizinhos, ninguém tem nada a ver com isso. Afinal, para onde foi o velho ditado “os incomodados que se mudem”?

É claro que estou generalizando e que existem raríssimas exceções, onde escolas ensinam aos seus alunos a serem realmente cidadãos. E há algumas poucas famílias que também têm essa preocupação com relação aos filhos.

Mas quando soube que em Viena, nos prédios durante a noite não permitido dar descarga no banheiro, para não incomodar os vizinhos, confesso que cheguei a achar até engraçada essa minha pretensão de nós, brasileiros, um dia fazermos parte de um grupo de pessoas, aonde o respeito ao outro chega a este nível de precaução.

É lamentável que, a maioria da população brasileira viva como se não existisse ninguém do lado, preocupados apenas como "o próprio umbigo".  E nessa perspectiva de centro do universo, vai-se fazendo ultrapassagens perigosas, virando-se à esquerda em locais proibidos, avançando-se sinais, fechando-se cruzamentos, furando filas, fumando em locais fechados e fazendo-se cada vez mais barulho, obrigando o mundo a conviver com o que se gosta,  e que na maioria das vezes é de gosto duvidoso. Por que, afinal de contas, uma boa educação doméstica, invariavelmente, está ligada a um bom gosto, logo, quem ouve boa música, só a compartilhará com os vizinhos, se estes estiverem em sua casa, jamais na casa deles, por tabela.

Para a maior parte dos brasileiros, para chegar à cidadania, falta ainda emprego, comida, saúde e educação escolar.

Mas para quem tem tudo isso, o caminho poderia estar bem mais perto. Mas, infelizmente, essa ainda não é a nossa realidade. Estamos vivendo uma era desastrosa para o nosso país, em meio a tantas revelações desagradáveis, tanta corrupção, com tantos jovens que votaram pela primeira vez sem o menor estímulo, e que olham, assustados, para o futuro do país, sem esperar grandes melhorias. Que bom seria que surgissem pessoas dispostas a investir nesse atalho esquecido, no caminho para o primeiro mundo: o do respeito por si mesmo e por seus semelhantes.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PODIA SER PIOR?

Conta a lenda que um homem morava em uma pequena casa, com a mulher, oito filhos, sogro e sogra e vivia na maior angústia.
Os filhos, ainda pequenos, não paravam de gritar e chorar o dia todo. Os sogros, já idosos, não paravam de reclamar e a mulher, coitada, com tantos afazeres, não tinha nunca um tempinho para ele.
        Voltar para casa, após um árduo dia de trabalho na roça, era pior do que ficar horas afio sob o sol e o calor intensos. Para tomar banho, era uma espera imensa. Jantar então, só depois que as crianças já estavam indo para a cama. Fumar seu cachimbo sossegado, só na porta da rua e assim mesmo, nem sempre podia ficar em paz.
        Existia nas montanhas próximas dali, um velho eremita, considerado um grande sábio. O atormentado homem resolveu consultar o eremita , em  busca de um conselho para melhorar a sua vida.
        O sábio então o aconselhou a comprar um bode. Mas como poderia comprar um bode, se nem quintal ele tinha para colocá-lo? Com uma casa tão pequena e tão cheia de gente, onde caberia um bode?
        Mas o sábio insistiu e pediu que o homem voltasse a ter com ele dali a um mês.
        E assim foi feito. Um mês depois, o homem, agora mais atormentado do nunca, subiu às montanhas em busca do sábio. Contou-lhe que estava desesperado. A casa vivia imunda, cheia de fezes do bode por todo o canto; que o bode comia tudo que aparecia à sua frente, inclusive roupas; que a casa fedia mais que um chiqueiro. Enfim, as coisas estavam tão ruins, que ele estava prestes a sair de casa.
        Então, o sábio lhe disse para ter um pouco de calma. Mandou-o voltar, vender o bode, fazer uma limpeza bem grande em casa e voltar depois de uma semana.
        Uma semana depois, o homem voltou. Estava alegre, tranqüilo, até mesmo cantarolando.
        E disse ao sábio que as coisas estavam ótimas, que a casa não fedia mais, que parecia até maior. E que havia desistido de deixar a casa.
     O sábio sorriu e disse que ele havia encontrado a solução para os seus problemas: vender o bode.
     Na casa do homem, depois que o bode saiu, apesar de tudo continuar o mesmo, ele teve a sensação de paz que procurava, afinal as coisas não eram tão ruins sem o bode.
    Quem não passa por momentos difíceis onde a vontade é parar o mundo e descer? Nestes momentos a convivência temporária com “um bode” poderia ser alívio para nossas tensões. Na verdade, devemos ter a consciência de que, mesmo passando por momentos difíceis, com certeza, poderia ser pior, bem pior.
     Dizem que as águias voam muito alto não apenas para poder observar melhor quem está em baixo, mas, também, para fazer quem está em baixo olhar pra cima, para o alto. 
     Com bode ou sem bode, com águias ou sem águias, cabe a cada um de nós escolher a maneira como vai encarar a vida. Dependendo das nossas escolhas nem é preciso ter um bode. E, mesmo sem águia, podemos, à noite, olhar para as estrelas.