Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

QUAL ERA MESMO O NOME DAS CARAVELAS?

Réplica da caravela de Colombo, datada de 1892: navegador genovês naufragou na costa do Haiti em 1492 Foto: REUTERS

 Como trabalho com mídias sociais passo o dia inteiro com Facebook aberto, seja postando, seja respondendo ou curtindo comentários. E, enquanto passo por faces de clientes, inevitavelmente, passo pelo meu, que é o gerenciador de todos. Daí vi uma postagem de um amigo que me chamou a atenção, contando uma história de uma inspeção em uma escola pública municipal, onde o inspetor de ensino do estado foi fazer uma avaliação. Ao perguntar a um aluno quem pôs fogo em Roma ele imediatamente respondeu que não havia sido ele. O inspetor sai da sala e conta o caso a professora, ao que ela responde que, se o aluno disse que não foi  ele é porque realmente não foi.

O inspetor vai então até o prefeito, conta o caso e sugere que a professora seja imediatamente demitida e substituída. O prefeito diz que não pode fazer isso porque ela precisa do emprego, sustenta a família e, além de tudo, foi indicado pelo presidente do partido. E propôs um acordo para o inspetor  que ele dissesse o valor do prejuízo, a prefeitura pagava a conta e não se falava mais naquilo.

Claro que essa história é caricata, mas, infelizmente, retrata a realidade da educação no Brasil.

Quando a minha filha mais velha era pequena, estudante da 1a série do primeiro grau menor, ensino fundamental hoje, chegou em casa toda entusiasmada dizendo que a professora havia ensinado o nome das três caravelas de Pedro Alvares Cabral: Santa Maria, Pinta e Niña. Para que ela não gravasse uma informação errada imediatamente falei pra ela que a professora havia se confundido. Que esses nomes eram das caravelas de Cristóvão Colombo e não das de Cabral.

Fui à escola falar com a diretora, pedagoga de formação e muito competente nessa área. Ela me olhou com um ar interrogativo, sem entender por que eu estava dizendo que a professora se equivocou. Então chamou a coordenadora pedagógica, que havia feito pós-graduação em Londres e me pediu para colocar a minha observação. A coordenadora, cujo ego era um tanto inflado, talvez pela pós no exterior, também me olhou com ar interrogativo e, ao mesmo tempo, incrédulo. E me perguntou: você tem certeza disso? Bem, naquele momento eu realmente não tive mais dúvidas: elas não sabiam do que eu estava falando.

E a coordenadora me perguntou o que eu estava pretendendo ao levar essa questão para a escola. Expliquei que a minha intenção era pedir que a professora corrigisse o erro e colocasse para as crianças que os nomes das caravelas que  aportaram no Brasil não eram aqueles. Então ela me disse que estava tudo bem, mas que antes iria consultar uma amiga dela, professora de história. E a amiga, depois de consultar uma enciclopédia, confirmou que eu estava correta. Depois de, finalmente, se convencer de que eu estava certa em relação a quem pertenciam as caravelas, a coordenadora me chamou até o terraço para conversar. E me disse que iria falar com a professora para retificar a informação, mas que eu não deveria me preocupar com isso, porque, certamente, s crianças iriam esquecer logo. Porque se ao menos fosse uma informação errada de matemática ou português, aí sim, seria preocupante, mas de história? Quem se lembra disso não é mesmo? E daí, se tocando que eu lembrava, ela olhou pra mim com cara de deboche e, ironicamente me perguntou: como você lembrava dessa informação? Olhei para ela e, sorrindo, respondi: deve ser porque eu jogo muito Master.

Saí de lá arrasada, não tanto pelo fato da diretora e da coordenadora não saberem o nome das caravelas, mas pela maneira como a coordenadora me tratou, como se eu fosse uma ET, que guarda informações desnecessárias e que não influenciam no aprendizado de uma criança. E ainda pelo fato dela não se preocupar por uma professora da escola estar ensinando coisas erradas. Mas era só  história, pra que se preocupar.

No dia seguinte minha filha chegou em casa e contou que a professora havia se desculpado pela informação errada e agradecido a mim por ter alertado isso. Bem, pelo menos recuperei a credibilidade com a minha filha. Mas, o meu olhar em relação à escola nunca mais foi o mesmo.

Ah, em tempo, quero salientar que não era uma escola pública. Era uma escola particular, bastante cara, dessas que têm cinco ou seis alunos em cada sala e que a metodologia usada era a melhor possível. Mantive a minha filha na escola por mais dois anos, porque a outra dona da escola era uma pessoa muito competente e, ironicamente, foi com ela que descobri Paulo Freire, o construtivismo e a educação integral, que informa e, ao mesmo tempo, forma.  Foi ela quem fez a minha cabeça em relação à educação que eu queria para as minhas filhas. Só faltou ela fazer a cabeça da outra sócia e das funcionárias. Mas isso é uma outra história.

Ah, só para finalizar, me dei ao trabalho ir atrás dos nomes das caravelas de Cabral, que não ficaram tão famosas quanto as de Colombo. A armada que Pedro Álvares Cabral trouxe ao Brasil foi composta por treze embarcações e mais de mil homens. Com exceção dos nomes de duas naus e de uma caravela, não se sabe como se chamavam os navios comandados por Cabral. A nau principal, que era a capitânia, não tem seu nome nos registros históricos. A segunda nau, a sota-capitânia chamava-se El Rei. E sabe-se ainda o nome de uma outra nau, a Anunciada e de uma caravela, a São Pedro. Mas quem quer saber disso não é mesmo? E eu nunca mais joguei Master...

terça-feira, 13 de setembro de 2016

CARLOS MAGNO E OS 12 CAVALEIROS DA TÁVOLA REDONDA OU O REI ARTUR E O IMPÉRIO CAROLÍNGIO

                            



Era uma vez um bardo chamado Merlin, nascido da união entre um demônio e uma virgem, que era bruxo ou feiticeiro ou, como é mais comum ser chamado, um mago.  Ele ajudava o rei Uther, tanto em suas batalhas quanto nas aventuras amorosas. Ao conhecer a duquesa Igrain, esposa do duque de Tintagel, o rei Uther ficou irremediavelmente apaixonado, chegando a adoecer de tanto amor. Merlin se propôs a ajudar ao rei desde que ele lhe prometesse que o filho, fruto da união com a duquesa Igrain lhe fosse entregue para criar. Merlin queria educar a criança e prepará-lo para cumprir o seu destino porque sabia que ele iria ser o maior rei da Inglaterra.

Após o duque de Carnaval ser morto em uma batalha contra as tropas do rei Luther, sua viúva casou-se com o apaixonado rei e, o primeiro filho do casal foi entregue a Merlin, conforme o acordado.

Merlin entregou o garoto para ser criado por sir Hector, um cavaleiro empobrecido que não fazia a menor ideia da origem da criança.

Quando o garotinho estava com dois anos o seu pai verdadeiro morreu e o reino entrou em um caos total, e uma fase de muita anarquia que durou vários anos. Até que Merlin convenceu o arcebispo de Cantebury e os nobres da corte de aconteceria um milagre que determinaria quem seria o sucessor legítimo de Uther. E logo depois, no cemitério próximo à igreja apareceu uma pedra com uma espada cravada, chamada Excalibur e que trazia em sua bainha a seguinte inscrição: “quem puder me retirar desta pedra será Rei de toda Bretanha por direito de nascimento”. Desnecessário falar sobre a quantidade de nobres que tentaram, em vão, tirar a espada da pedra. Como nenhum nobre conseguiu tirar a espada, foi decidido que os cavaleiros assistentes poderiam tentar tirar a espada. O garotinho, agora com 15 anos, ainda não tinha idade para participar. Iriam participar, no entanto, Sir. Hector e Sir Kay, pai e irmão adotivos do garoto. 


Quando a competição ia começar, Sir Kay se deu conta de que estava sem a sua espada e mandou o irmão pegá-la em casa. Mas, encontrando a casa trancada ele se lembrou da espada que estava na pedra e correu para pegá-la, retirando-a com a maior facilidade. Ao receber a espada, Kay a reconheceu e mostrou ao pai e os três voltaram ao cemitério, onde recolocaram a espada e pediram ao garoto para tirá-la mais uma vez. Ao ver que ele a tirou com toda facilidade, emocionado sir Hector lhe disse que ele seria o rei de toda Bretanha. E assim depois de tirar outras vezes a espada da pedra, o garoto foi coroado rei.  Ele pacificou o reino e foi um rei justo e bom. Ao pedir a mão de Guenevere, seu pai, o rei de Cameliard ficou encantado com o pedido e não apenas lhe concedeu a mão de sua filha como lhe deu de presente uma mesa redonda que havia sindo um presente do rei Uther.

O rei mandou colocar a mesa em um grande salão do palácio e decidiu que nela sentariam seus melhores cavaleiros, que teriam que fazer um juramento de fidelidade especial ao reino de Camelot, à Igreja e aos mais nobres costumes. Nenhum dos cavaleiros que fizesse o juramento poderia fazer atos ilegais, desonestos e muito menos criminais. Nascia assim a Ordem dos Cavaleiros da Távola Redonda. O número de cavaleiros que pertenciam à Ordem varia,  indo de 12 a 150, que, segundo consta, era o número máximo que a mesa comportava.


Essa é, em resumo, a história do rei mais famoso da Inglaterra e sobre o qual, na verdade, se ouviu falar, pela primeira vez, quando o romancista inglês Thomas Mallory escreveu a sua saga, enquanto cumpria um mandato de prisão em Londres. Ele criou uma das mais fantásticas histórias sobre cavalaria e que exerceu influência em geração após geração: a lenda do Rei Artur.
Pois é, se você estava pensando que eu estava falando sobre Carlos Magno, desculpe, mas quem teve a Távola Redonda foi o rei Artur, que chegou ao trono por merecimento e, como vimos lá em cima, não admitia deslizes entre seus cavaleiros e procurou governar com justiça.

Ao contrário de Carlos Magno, imperador que viveu no século VIII e que,  após a morte do pai, dividia o reino, que ia da França à Alemanha,  com o seu irmão, Carlomano .  Com a misteriosa morte de Carlomano,  três anos após a coroação, Carlos Magno se apossou de suas terras e se tornou um imperador único, dando um golpe nos sobrinhos e não permitindo que eles tivessem acesso às terras herdadas.

Carlos Magno, ao contrário do Rei Artur, com certeza jamais criaria uma Távola Redonda, cuja ideia, ao não ter cabeceiras, era que todos tivessem direitos iguais.

E o pensamento de Carlos Magno ainda hoje é bem atual, com a valorização da hierarquia e da busca incansável pelo poder, a qualquer preço, inclusive com alto custo humano.

É por isso que, infelizmente, Carlos Magno existiu e o Rei Arthur é apenas uma doce e sonhadora lenda.