Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PODIA SER PIOR?

Conta a lenda que um homem morava em uma pequena casa, com a mulher, oito filhos, sogro e sogra e vivia na maior angústia.
Os filhos, ainda pequenos, não paravam de gritar e chorar o dia todo. Os sogros, já idosos, não paravam de reclamar e a mulher, coitada, com tantos afazeres, não tinha nunca um tempinho para ele.
        Voltar para casa, após um árduo dia de trabalho na roça, era pior do que ficar horas afio sob o sol e o calor intensos. Para tomar banho, era uma espera imensa. Jantar então, só depois que as crianças já estavam indo para a cama. Fumar seu cachimbo sossegado, só na porta da rua e assim mesmo, nem sempre podia ficar em paz.
        Existia nas montanhas próximas dali, um velho eremita, considerado um grande sábio. O atormentado homem resolveu consultar o eremita , em  busca de um conselho para melhorar a sua vida.
        O sábio então o aconselhou a comprar um bode. Mas como poderia comprar um bode, se nem quintal ele tinha para colocá-lo? Com uma casa tão pequena e tão cheia de gente, onde caberia um bode?
        Mas o sábio insistiu e pediu que o homem voltasse a ter com ele dali a um mês.
        E assim foi feito. Um mês depois, o homem, agora mais atormentado do nunca, subiu às montanhas em busca do sábio. Contou-lhe que estava desesperado. A casa vivia imunda, cheia de fezes do bode por todo o canto; que o bode comia tudo que aparecia à sua frente, inclusive roupas; que a casa fedia mais que um chiqueiro. Enfim, as coisas estavam tão ruins, que ele estava prestes a sair de casa.
        Então, o sábio lhe disse para ter um pouco de calma. Mandou-o voltar, vender o bode, fazer uma limpeza bem grande em casa e voltar depois de uma semana.
        Uma semana depois, o homem voltou. Estava alegre, tranqüilo, até mesmo cantarolando.
        E disse ao sábio que as coisas estavam ótimas, que a casa não fedia mais, que parecia até maior. E que havia desistido de deixar a casa.
     O sábio sorriu e disse que ele havia encontrado a solução para os seus problemas: vender o bode.
     Na casa do homem, depois que o bode saiu, apesar de tudo continuar o mesmo, ele teve a sensação de paz que procurava, afinal as coisas não eram tão ruins sem o bode.
    Quem não passa por momentos difíceis onde a vontade é parar o mundo e descer? Nestes momentos a convivência temporária com “um bode” poderia ser alívio para nossas tensões. Na verdade, devemos ter a consciência de que, mesmo passando por momentos difíceis, com certeza, poderia ser pior, bem pior.
     Dizem que as águias voam muito alto não apenas para poder observar melhor quem está em baixo, mas, também, para fazer quem está em baixo olhar pra cima, para o alto. 
     Com bode ou sem bode, com águias ou sem águias, cabe a cada um de nós escolher a maneira como vai encarar a vida. Dependendo das nossas escolhas nem é preciso ter um bode. E, mesmo sem águia, podemos, à noite, olhar para as estrelas.