Depois de morar há décadas no
mesmo endereço e de toda a família ser compradora regular via internet e de, ao
longo dos anos, ter recebido as compras sem nenhum problema, inclusive nos
últimos dois meses, eis que me deparo com um fato inusitado: o carteiro veio
por duas vezes fazer uma entrega e, por não encontrar o porteiro, não efetuou a
entrega com a notificação de : Entrega não efetuada – carteiro não atendido.
O interessante dessa história é
que eu estava em casa, junto ao interfone, aguardando que quem fosse trazer a
encomenda fizesse como sempre aconteceu nas dezenas de entregas anteriores:
apertar os botões do interfone, de maneira prática, rápida e fácil e eu ou
alguém aqui de casa descer e pegar a encomenda. Aliás, só para ilustrar, na
quarta-feira, quando o carteiro não foi atendido pela primeira vez, uma hora
antes eu desci para pegar uma outra encomenda, justamente atendendo ao
interfone.
Vendo a observação no site tentei
entrar em contato com os correios e, para minha surpresa, fui informada de que
o Centro de Entrega de Jaboatão não tem telefone e nem atende ao público. Como
assim não atende ao público se é um centro de distribuição das coisas que o
público comprou?
Em um outro telefone uma
funcionária me informou que isso provavelmente aconteceu porque o carteiro não
encontrou o porteiro. Claro que ele não podia encontrar um porteiro que meu
prédio não tem. E o funcionário estava em hora de almoço. Mas do lado de fora,
junto ao protão de entrada tem aquela caixinha mágica que falei lá em cima
conhecida como interfone ou intercomunicador, com preferirem e que funciona
perfeitamente.
A funcionária me falou de uma
Portaria que regulamente entregas de encomendas e que, de acordo com ela, o
carteiro não tem obrigação de interfonar para o destinatário. Oi? Como assim
cara pálida?
O pessoal de casa ficou dizendo que
a funcionária só podia ter feito piada comigo, que isso não era possível. Mas
pasme, é possível.
Na sexta-feira vi no histórico
que a encomenda havia saído de novo para entrega às 09h25 da manhã. Novamente
fiz plantão junto ao interfone e, inocentemente, achei que o carteiro não viria
no mesmo horário que da outra vez, entre 12h e 14h, já que ele sabia que não
encontraria nenhum funcionário. E pensei que, caso ele viesse mesmo nesse
horário, teria o bom sendo de interfonar. Porque jamais passou pela minha
cabeça que interfonar não fosse uma opção.
Sempre de olho no site, de
repente aparece novamente a anotação de entrega não efetuada – carteiro não
atendido. Desci imediatamente, mas ele já havia ido embora. Só que, dessa vez,
ele falou com o pessoal que está trabalhando aqui no prédio e que estava
almoçando. Perguntou pelo porteiro (que não temos) e o pessoal respondeu que
era de almoço. Ele falou que iria fazer outras entregas e que voltaria depois
do horário de almoço. E, mais uma vez, não se deu ao ínfimo trabalho de
interfonar para a parte interessada, a destinatária, que estava atenta, não
estava em horário de almoço, aguardando para ser chamada para pegar sua
encomenda.
Tentei fazer uma reclamação
formal no site dos correios, mas não consegui porque preciso do endereço e
outras informações do remetente, que não tenho. Como você saber o endereço
físico de uma compra pela internet?
Daí eu fui atrás das mídias
sociais para fazer algum contato. Consegui através do Facebook. E sabe o que me
responderam? Colocando a tal da portaria que justifica o fato do carteiro não
interfonar.
Sobre o questionamento
apresentado na linha do tempo sobre as entregas, segue informações:
“ Conforme a Portaria 567/2011, artigo 5º, a entrega postal de
encomendas pelos Correios em condomínio residencial e comercial, edifícios com
mais de um pavimento, centro comercial e outros considerados locais coletivos e
com restrição de acesso de pessoas, deve ser feita em caixa receptora única de
correspondências ou ao porteiro, administrador, zelador ou pessoa designada
pelo prédio para receber. Se esses locais não contarem com essa estrutura,
havendo solicitação dos moradores, a ECT pode efetuar a entrega em caixas
receptoras individuais, instaladas na entrada do prédio e desde que haja acesso
ao carteiro. Se a dúvida persistir, orientamos você a registrar uma
manifestação em nossos canais oficiais de relacionamento com o cliente. Você
deve entrar em contato pelo nosso site http://www2.correios.com.br/sistemas/falecomoscorreios”.
Não preciso dizer que fiquei de
queixo caído imaginando quem teria sido o redator dessa portaria. Com certeza
alguém que mora em um país de primeiro mundo, onde todos os prédios têm caixas
receptoras e, ainda por cima, de tamanho que caibam encomendas e não apenas
correspondência. Quanto a Porteiro já não teria muito a ver com primeiro mundo
porque nesses países só os prédios de altíssimo luxo têm porteiros.
Aqui no Brasil até que ter
porteiro é mais comum. Mas os prédios de classe média para baixo não têm. Gente uma boa parte dos prédios não tem nem
porteiro e nem interfone. E muito menos caixas receptoras.
Essa portaria é de uma alienação que incomoda. Mesmo que essas exigências sejam relativamente atendidas nas regiões Sul e Sudeste do País é sempre bom lembrar que existem ainda o Nordeste, o Norte e o Centro-oeste onde, talvez na capital até existam prédios dentro dos padrões dos correios. Mas só na capital mesmo.
Uma outra norma, regra o que
seja, diz que se forem feitas três tentativas e a mercadoria não for entregue,
ela será devolvida ao remetente. Como assim? O tal do destinatário fica
sem mais nenhuma chance de receber sua encomenda? Mesmo não tendo culpa de não ter recebido, ao menos não deveriam deixar a mercadoria no tal dentro de encomendas e avisar para pegar?
Uma Portaria como essa deveria
ter sido escrita para países onde o serviço público realmente funciona e onde a
realidade financeira permite prédios que se enquadrem nessas exigências
peculiares.
Um dos problemas do Brasil, entre
os milhares que existem, é que uma boa parte dos funcionários públicos não tem
compromisso com o seu trabalho e ainda acha que está fazendo favor ao usuário.
Tenho uma coisa para falar a
vocês senhores funcionários públicos que pensam assim: vocês são pagos para
atender os usuários com atenção e eficiência. Não é favor. É obrigação. Nós pagamos pelos serviços, seja indiretamente através de impostos, seja diretamente, como é o caso dos Correios, através do pagamento do frete que, inclusive em alguns casos, é mais caro que o valor do que está sendo comprado ou enviado.
No caso de entrega de encomendas
não faz sentido a regra ser deixar em caixas receptoras ou falar com o porteiro ou zelador
do prédio e não listar o destinatário como principal pessoa a ser contatada.
Então meus amigos e minhas amigas
que tiveram a paciência de chegar ate aqui, fica a lição: Se você morar em um
prédio que não tenha caixa receptora ou, pelo menos, um porteiro ou zelador que
esteja sempre a postos para receber as encomendas, então não compre nada pela
internet. Você poderá ser punido por não morar em um prédio chique e perder a
sua compra.
Finalmente hoje, segunda, 18 de fevereiro, a novela terminou. Novamente no horário em que sabe que é de almoço do funcionário do prédio, o carteiro veio mesmo assim, mas, dessa vez teve o bom senso de interfonar para o meu apartamento. Meu marido foi pegar a encomenda e perguntou por que ele não interfonou das outras vezes. E sabem o que o carteiro respondeu? " Eu não tenho obrigação de ligar pelo interfone. Você deviam colocar um porteiro". Espero que ele tenha o privilégio de morar em um prédio onde tenha um porteiro. Porque nem todos têm essa condição. Inclusive eu.
De posse da nota fiscal e de todos os dados do remetente fui fazer uma reclamação no site dos Correios. Preenchi todas as informações solicitadas e quando cheguei no final, não pude enviar a reclamação porque o que eu queria reclamar não está listado nas opções e não tem a opção "outros" . Pois é falar com os Correios é realmente uma coisa muito difícil. Mas vou continuar tentando fazer a minha reclamação, mesmo com toda essa blindagem que dificulta o acesso.
Finalmente hoje, segunda, 18 de fevereiro, a novela terminou. Novamente no horário em que sabe que é de almoço do funcionário do prédio, o carteiro veio mesmo assim, mas, dessa vez teve o bom senso de interfonar para o meu apartamento. Meu marido foi pegar a encomenda e perguntou por que ele não interfonou das outras vezes. E sabem o que o carteiro respondeu? " Eu não tenho obrigação de ligar pelo interfone. Você deviam colocar um porteiro". Espero que ele tenha o privilégio de morar em um prédio onde tenha um porteiro. Porque nem todos têm essa condição. Inclusive eu.
De posse da nota fiscal e de todos os dados do remetente fui fazer uma reclamação no site dos Correios. Preenchi todas as informações solicitadas e quando cheguei no final, não pude enviar a reclamação porque o que eu queria reclamar não está listado nas opções e não tem a opção "outros" . Pois é falar com os Correios é realmente uma coisa muito difícil. Mas vou continuar tentando fazer a minha reclamação, mesmo com toda essa blindagem que dificulta o acesso.
Em um país onde a classe média cresce a cada dia nos últimos dois anos, não por ascensão dos mais pobres, mas, ao contrário, pela perda de renda dos que estavam acima dela, se essa portaria ridícula não for revogada e substituída pro uma nova que seja redigida dentro da realidade brasileira ou agente arranja grana para morar em prédio que se enquadre nas regras ou pega emprestado o endereço de amigos ou parentes pra enviar o que comprarmos pela internet ou fazemos plantão na porta do prédio enquanto esperamos chegar o que pedimos ou, a solução mais prática, desistimos de comprar pela internet.
Do jeito que as coisas estão andando nesse país, nós, da classe média para baixo, seremos mesmo, aos poucos, banidos dessas conveniências. Afinal vivemos no Brasil – o país de poucos.