Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

terça-feira, 29 de março de 2016

CARTA ABERTA AOS SENHORES DEPUTADOS FEDERAIS E SENADORES DO BRASIL


Cada um de nós é coautor da história da humanidade. Cada atitude que tomamos ou deixamos de tomar determina o rumo, não apenas de nossas vidas, mas, também da vida de outras pessoas. E, dependendo da função que exerçamos, do cargo que ocupemos, as decisões tomadas podem chegar a influenciar a vida de milhões de pessoas, para melhor ou para pior.

Para escrevermos a história de nossa vida, cada um escolhe as próprias tintas, pincéis e cores. E, para entrar na história que vai ser contada no boca a boca, nos livros ou nas mídias sociais, cada um escolhe a porta pela qual quer entrar, se pela porta da frente ou pela porta de trás. Carlos Lacerda, Hitler, Mussolini, entre outros, escolheram a porta dos fundos e hoje estão na história, é verdade, mas do lado ruim, do lado escuro, do lado que todos gostariam que nunca houvesse existido.

Assim vai ser para os que hoje insistem em tomar o poder a força, querendo derrubar um governo legitimamente eleito pela vontade do povo. Porque ninguém se iluda com o fato de, no Congresso Nacional e em uma parte privilegiada da população, essa parecer a vontade da maioria, porque não é. O povo que elegeu a presidente da República e que quer que ela cumpra seu mandato até o fim, é em número bem maior do que os que não querem. A diferença  não está sendo percebida claramente porque  essa maioria nem sempre  tem fácil acesso às mídias sociais, à internet ou  aos meios de comunicação em geral. E, necessariamente, não está sendo ouvida também nas pesquisas.  Entretanto essa maioria tem uma outra maneira para expressar a sua vontade : o voto.

Senhores deputados e senadores, não se trata de ser contra ou favor do PT. Não é isso que está em jogo hoje no País. Não se trata de expurgar a corrupção do poder, porque sabemos, igualmente, que isso não acontecerá, caso consigam tirar a presidente do governo.

Se trata, meus caros senhores, e todos vocês sabem muito bem disso, de ser contra ou a favor da democracia. De respeitar ou não a constituição e a vontade do povo.

Podem ter certeza que a escolha que cada um fizer é que vai determinar a porta pela qual entrará para a história. E, podem ter certeza, derrubem ou não o governo, daqui a alguns anos, Lula vai estar na história como o melhor presidente que o  Brasil já teve e vocês, se derrubarem um governo que o povo elegeu, usando, desculpem o trocadilho, “pedaladas políticas”, entrarão para a história como aqueles que feriram a democracia,  tão duramente conquistada, com o alto custo de vidas, sangue e imenso sofrimento.

Se os senhores seguirem em frente com essa guerra para derrubar a presidente do poder, consigam ou não o seu intento, daqui a alguns anos, podem ter certeza, ninguém se lembrará de seus nomes individualmente. Vocês serão lembrados como o pior Congresso que o Brasil já teve, que levou o País ao descrédito internacional, pois, a partir daí, quem garante que outros presidentes eleitos conseguirão levar seus mandatos até o fim?

Ainda há tempo dos senhores levarem em consideração duas coisas muito importantes: o valor do voto e a vontade da população. Da maioria da população, evidentemente.

 E então senhores deputados, senhores senadores, como irão querer ser lembrados em um  futuro não muito distante, como heróis ou vilões ?  Nesse momento o voto é seu. Você decide por qual porta vai querer entrar para a história.


quarta-feira, 23 de março de 2016

VERMELHO: QUE MEDO VOCÊS TÊM DE MIM???? OLHA AÍ ....

 A COR DO TERROR


Desde pequena que tenho uma cor preferida. Uma daquelas coisas que criança escolhe, descobre, sei lá, se apega e não se encontra explicação. Já nasci apaixonada pela cor vermelha. E, com certeza, quando nasci, não tinha opção política para associar cor à ideologia, por exemplo.

Eu sempre escolhia tudo vermelho, das minhas roupas às roupas das bonecas, tinha que ter vermelho. Não sei hoje, mas, quando estava noiva e fazendo enxoval, a gente escolhia a cor das roupas de cama e banho, para o dia do casamento. E, é claro que os lençóis e toalhas foram vermelhos. Os móveis da cozinha também, fogão, geladeira, mesa, armários, liquidificador, batedeira, tudo vermelho. No final dos anos setenta, as cores dos eletrodomésticos e armários eram bem variadas, talvez  para se contrapor ao branco que reinava sozinho há décadas. Essa moda durou alguns anos. Não sei quando, exatamente, o branco voltou e as cozinhas coloridas passaram a ser “cafonas”. Hoje, até chamar “cafona” é cafona. Já foi bokomoko, em algum momento.

Enfim, contei isso para dar a dimensão do vermelho em minha vida. Isso me veio à memória porque, ontem, li uma matéria falando sobre cinco agressões a mães, com bebês de colo, por causa da cor vermelha.  Fiquei tão impressionada com os depoimentos que não penso em outra coisa desde então. Lembrei que, quando minha primeira filha nasceu, a cor de tudo que ela usou no primeiro dia, foi, é claro, vermelho. E havia muitas peças no enxoval dela na cor vermelha. Então, se fosse hoje, eu e ela correríamos o risco de sermos agredidas na rua.
Fiquei me perguntando se isso está mesmo acontecendo. Não teria sido notícia falsa? Não consigo imaginar cinco mães inventarem essas histórias.  Houve casos em que a mãe estava com alguma roupa vermelha. Mas, houve dois casos ainda mais inacreditáveis: em um, o bebê estava com uma roupinha vermelha da Minnie e, em outra, a mãe usava um Wrap dryfit, também conhecido como “canguru” , para carregar o bebê. Teve agressão na rua, em
restaurante e até no trânsito ( conferir matéria: http://outraspalavras.net/alceucastilho/2016/03/21/ja-sao-tres-os-casos-de-maes-com-bebe-agredidas-por-uso-de-vermelho/) *


O ódio que toma conta de uma parte dos brasileiros está se tornando cada vez mais perigoso. Agressões como essas acima a pessoas que não apoiam o impeachment têm acontecido a toda hora. Algumas se tornam conhecidas por serem com gente famosa, como a que sofreu Chico Buarque, ao sair de um restaurante. Mas, agressão a crianças, é algo muito, muito grave e assustador. Em um dos casos jogaram pedra, à altura da cabeça da criança. Em outro ameaçaram atirar na mãe e no bebê, por causa da cor vermelha.

Minha gente, está na hora das pessoas pararem e revisarem o seu comportamento absurdo, agressivo e criminoso. Ainda vivemos em uma democracia e, pelo que eu saiba, não existe proibição de uso de qualquer cor, em nenhuma parte da Constituição Brasileira. Se bem que, citar a constituição nem vale mais a pena, já que, também ela, vem sendo desrespeitada ultimamente.

PAREM com tanto ódio. PAREM com tanto desrespeito. Nem usar vermelho significa que a pessoa apoia o governo, o PT ou Lula e, muito menos, apoiá-los é crime. Crime é agredir alguém pela cor que usa, pelas causas que apoia, pela opção de gênero, por estar do lado dos mais pobres, pela religião que abraçou.

CRIME é impedir, pela ameaça e pela agressividade, que as pessoas expressem as suas opções. CRIME é fechar os olhos à miséria, à pobreza, à injustiça social. CRIME é impedir que as pessoas mais pobres também tenham os mesmos direitos que os mais abastados.

Se o ódio que vivenciamos hoje fosse na época em que casei, provavelmente eu não teria comprado os móveis e eletrodomésticos da cozinha na cor vermelha, porque as lojas já teriam sido atacadas por venderem produtos nessa cor e, provavelmente, proibidas de repor o estoque. E, se caso houvesse comprado antes da onda de terror se espalhar, minha casa seria apedrejada por ter tanto vermelho na cozinha. Talvez pichassem o muro com “vai pra Cuba”, “Petralha” e coisas afins. Mas não, eram outros tempos. Tempos em que se o presidente da República fosse chamado de “feio”, provavelmente algumas dezenas de suspeitos seriam presos, torturados e, o “culpado”, não voltaria para casa. Eram tempos onde o vermelho era derramado por muitos, nas salas de tortura, para que, no futuro, a presidenta da República fosse chamada de “quenga” e, as pessoas que carregavam a faixa onde isso estava escrito pudessem voltar para casa, tranquilamente, sem serem incomodadas.

Eram tempos onde até pensar era perigoso. Tudo era proibido, tudo era subversivo, tudo era terrorismo, se fosse contra o governo. Ao contrário de hoje, onde, ser a favor do governo é que é proibido.

O sangue que escorreu das veias esgotadas de tantos maus tratos, pintou as cores da democracia neste País. Os corpos que nunca foram encontrados forjou a liberdade de expressão e o direito de ser contra o governo e continuar a andar e a se expressar  sem perigo de desaparecer.

O jogo se inverteu. Perigoso hoje é apoiar o governo. Não é possível que tanto sofrimento, tanta dor, tanto sangue derramado tenha garantido apenas três décadas de democracia. Não é possível que a própria democracia seja a responsável por sua morte. NÃO! Democracia não é para isso. Democracia é para saber que o meu limite termina onde começa o do outro. Democracia é para respeitar as diferenças, em todos os sentidos. Democracia é para governar para todos, para todas, não importa classe social, cor, religião ou gênero. Democracia é para valorizar a vida. A VIDA DE TODOS. E não penas de quem tem dinheiro ou poder.

Da próxima vez que você vir alguém, seja adulto ou criança, com alguma roupa vermelha, lembre-se você deve a essa cor, a cor do sangue, o direito de estar nas ruas gritando e protestando, chamando a quem quer de ladrão e voltando pra casa vivo.
Mais respeito minha gente. Basta isso. Mais respeito...

* Sobre o autor do blog Alceu Luís Castilho

Alceu Luís Castilho é jornalista desde 1994, formado pela Universidade de São Paulo (USP). Entre 1994 e 2001, trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo. Em 1999, venceu o prêmio Fiat Allis de Jornalismo Econômico. Foi fundador e editor-executivo da Agência Repórter Social, pela qual obteve o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, o Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo e o Prêmio Andifes. É também Jornalista Amigo da Criança, título oferecido pela Agência de Notícias de Direitos da Infância (Andi) em 2007.