Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

sábado, 12 de outubro de 2013

GREVE: DIREITO MESMO DE QUEM?

Sou uma pessoa que sempre defendeu a democracia e que lutou por ela, desde a juventude. Aprendi, muito cedo, a respeitar os direitos dos outros, mas, também, a exigir os meus direitos. Isso me foi passado como sendo algo fundamental à cidadania: a garantia e o respeito aos direitos.

Sempre concordei que a greve é um instrumento de reivindicação dos direitos, quando eles não estão sendo respeitados pelos patrões. Quando os professores da escola onde minhas filhas estudavam, quando pequenas, faziam greve em solidariedade aos colegas que não tinham seus direitos assegurados como eles, eu entendia e apoiava.

Hoje, diante da greve dos ônibus alguns meses atrás, e, recentemente, da dos bancários, dos correios e de 24h do metrô, tenho me questionado quanto a esse direito de fazer greve. E vou explicar por que.

Na minha cabeça a greve é um instrumento de alerta, um sinalizador para os patrões onde os funcionários passam o recado de que não estão satisfeitos com salário ou condições de trabalho, por exemplo. Com a paralisação, o patrão, para evitar maiores prejuízos financeiros, negocia com os funcionários sua pauta de solicitações.

Em tempos de ditadura, a greve era o único instrumento de protesto que os trabalhadores tinham diante da opressão, inclusive, econômica.
Ultimamente o que observamos com as greves é um transtorno insano à vida da população que paga seus impostos e que vê sua vida transformada em um caos por fatores acima de seu poder de decisão.

Vejamos a greve das Universidades Federais, quem mais se prejudicou? Os alunos que atrasaram praticamente um semestre inteiro e agora, as aulas são dadas corridas, com recessos menores do que  férias, com as pessoas se formando em março, abril setembro, desconectados do calendário regular de aulas.

E em relação à greve dos bancos e dos correios? Quem se prejudica? As pessoas que não usam internet para acessar o banco, as pessoas que não tem acesso nem a terminais de caixas eletrônicos e que, dessa forma, não podem pagar suas contas. Isso sem falar que muita gente sequer recebeu suas contas em dia, por causa da greve dos correios.

Resultado, contas pagas com atraso, juros, multas, cartões bloqueados por falta de pagamento, serviços suspensos, enfim, uma série de aborrecimentos e prejuízos financeiros que a população passa e que me questiono se isso é justo.

Durante a paralização de 24 horas do metrô, vi na TV pessoas desesperadas para chegar aos seus trabalhos e não sabiam como, outras que em lugar de pegar o metrô apenas, teria que pegar três ônibus. 

Acho que nós, trabalhadores, temos direito a boas condições de trabalho e a um salário justo. Mas é preciso repensar a prática da greve como instrumento de reivindicação quando os maiores prejudicados tem sido, vez após vez, os usuários. 

Aprendi, desde cedo que, o meu direito termina quando começa o do outro. E aí fica a minha pergunta: se a greve invade o direito da população aos serviços que estão sendo negados, não estaria ultrapassando os limites dos direitos dos outros? 

Sei que muitos, ao lerem este texto irão se horrorizar, me chamar de reacionário ou coisa pior, que a greve é um direito legal e tal. Não sou reacionária. Apenas acredito que direito tem que ser aplicado a todos. Determinada classe tem o direito de lutar por suas reivindicações. E, ao mesmo tempo, a população tem o direito de ter assegurada a prestação dos serviços. E, por isso, faço mais uma pergunta: tudo que é legal, realmente é justo?