Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

DE VOLTA AOS TEMPOS DE BARBÁRIE: AQUI VAMOS NÓS.

por Rejane Menezes




Não sei se estarrecida seria a palavra para definir como me senti no domingo, 05 de novembro, ao ver as notícias sobre o comportamento de algumas pessoas nas portas de locais de realização do exame do ENEM.

Seria só eu ou muita gente também ficou horrorizada e indignada com o comportamento de pessoas que, em diversas cidades do país, foram se divertir com a agonia de quem se atrasou e não conseguiu entrar?

Confesso que minha cabeça deu um nó ao ler que as pessoas saíram de suas casas, em uma manhã de domingo, para fazer piquenique, tomar cerveja, se divertir, à custa de quem não conseguiu chegar a tempo para prestar o exame. Que país é essa minha gente, onde o sofrimento de uns é motivo de badalação para outros?

É com muita preocupação que venho acompanhando as notícias do retrocesso do Brasil em todas as áreas: social, ambiental, econômica, religiosa e humana, com a exacerbação dos preconceitos e da intolerância. A divisão de classes está cada vez mais acentuada e acirrada. A homofobia vem fazendo vítimas de violência, inclusive física, assim como a intolerância religiosa, com o fanatismo e o fundamentalismo se espalhando e indo na contramão do que qualquer religião prega: a justiça.

E agora, do nada, sem uma razão sequer, nos deparamos com camarotes distribuindo cerveja para os retardatários, com corredores de pessoas gritando e até mesmo atrapalhando quem chega desesperado para conseguir encontrar o portão aberto.

O que é isso minha gente? Será que as pessoas não conseguem mais racionar como animais racionais? A racionalidade, a única coisa que nos diferencia dos outros animais, estaria atrofiando? Será que o ciclo de evolução se fechou e agora estamos no processo inverso?
Fico me perguntando o que leva um grupo de jovens a “assistir” ao atraso dos candidatos ao ENEM, tomando cerveja gelada e ainda a comentar que “esse ano foi fraco. Mas valeu o rolê”.

Se esses jovens são uma representação do futuro do Brasil, sinto informar que não haverá futuro.

Sempre fui uma pessoa otimista. Sempre me orgulhei de ser brasileira e, sobretudo, de ser nordestina. Hoje me resta apenas o orgulho de ser nordestina, porque em ser brasileira, só sinto vergonha.

Não consigo entender a diversão em ver pessoas correndo para conseguir acessar os portões e fazer uma prova cujo resultado poderá mudar totalmente sua vida.

Quantos sonhos foram destruídos ontem ou, pelo menos, adiados, para os que encontraram os portões dos locais de prova fechados? Quantos planos foram por água abaixo, diante da impossibilidade de tentar acesso ás universidades públicas?

Quantas daquelas pessoas que chegaram atrasadas já não tentaram entrar na faculdade mais de uma vez?

Para muitos dos que se divertiam com a desgraça dos outros, entrar na faculdade não foi ou não será um problema. Afinal, se não entrar nas públicas, seus pais podem pagar. Mas e quem não pode pagar por uma universidade privada? Não vivemos mais em tempos em que o financiamento estudantil era uma realidade plausível e que ajudou a muitos estudantes pobres a conquistarem seus diplomas. Isso é passado. Aos menos abastados a única opção é a universidade pública. E perder o exame do ENEM não tem nada de engraçado.

O exame do ENEM não é um espetáculo, um show, uma apresentação, que deva mobilizar público, seja para torcer, como alguns disseram estar fazendo, seja para assistir ou, pior ainda, atrapalhar, como pudemos ver em matérias na mídia.

Os motivos de quem chegou atrasado são inúmeros e cada um tem o seu. E, em nenhum caso, com certeza, diz respeito a quem estava aglomerado nas imediações dos locais de prova. E é aí que a realidade atual do país mais me assusta: a intromissão na vida pessoal de estranhos está se tornando uma constante, na verdade, eu diria, está deixando de ser um desvio de conduta, antes criticado, para se tornar uma prática, aplaudida e noticiada, por algumas mídias, com bom humor e descontração.

Não minha gente, nunca essas práticas de invasão na vida dos outros pode ser encarada como uma notícia leve, engraçada ou bem humorada.

Bater em uma mãe e uma filha ou em dois irmãos, por achar que são homossexuais, tem que ser motivo de indignação e de combate. É uma violência e um desrespeito à individualidade de cada ser humano. Se uma pessoa é adepta de uma religião de matriz Afro, ela tem que ser respeitada por pessoas de outras religiões, porque respeito e acolhimento é um princípio básico de qualquer religião.

Estão nos tirando todos os direitos:à educação, à saúde, à aposentadoria, à moradia, trabalhistas, ambientais, de opção sexual e religiosa. Estão destruindo a nossa dignidade. E, ao vermos todo esse comportamento absurdo em relação aos que perderam a hora do exame do ENEM, temos a sensação de que as pessoas estavam comemorando o infortúnio, trazendo para fora dos muros da prova o clima de competição e animosidade que acreditam que deva existir entre os competidores.

Cada um que chegar atrasado é um competidor a menos e, por consequência, uma chance a mais para quem está fazendo a prova. Se for esse o raciocínio, se para quem chegou a tempo, quanto menos pessoas fizerem o exame, melhores as chances, mais se confirma o meu prognóstico de que não há um futuro para esse país.

Por isso é preciso despertar desse torpor, desse caminhar automático, sem olhar para os lados e nem para trás. É preciso despertar desse pesadelo que estamos vivendo nos últimos tempos e questionarmos as nossas atitudes, as nossas supostas convicções.

Não é divertido tomar cerveja enquanto as pessoas estão desesperadas porque perderam a hora do exame. Isso é sintoma de uma doença nacional grave,  muito grave: a desesperança. É a sinalização de uma desilusão profunda, de um sentimento de não ter por que lutar.

Por isso, depois de vermos uma parte de nossa população ir às ruas e ter uma atitude como essa, de transformar a desgraça alheia em uma fonte de diversão e laser, acredito que, como povo, chegamos ao fundo do poço. E, a partir de agora, qual será a fonte de diversão? Sentarmos em uma de nossas magníficas e caríssimas arenas e assistirmos, extasiados aos leões devorarem quem não consegue pagar o aluguel? Ou batermos palmas e incentivarmos as lutas corporais entre candidatos a uma vaga de emprego?

É isso mesmo produção? É isso que queremos para o futuro de nossos descendentes? Selvageria e barbárie? Violência como diversão?
Depois do que ocorreu nesse domingo, 05 de novembro, penso que  temos o dever cívico de nos desacomodarmos e começarmos a tecer as cordas que nos ajudarão a subir pelas paredes desse poço, enquanto ainda estamos no fundo.
Se não fizermos nada, haverá grandes possibilidades de, até o ano que vem, no próximo exame do ENEM não estarmos mais no fundo poço e sim de estarmos caindo em um poço sem fundo.

A escolha é nossa. Ainda há tempo de subirmos em busca da nossa dignidade roubada, enquanto ela ainda não está totalmente perdida.


sábado, 23 de setembro de 2017

CIDADANIA EU QUERO UMA PRA VIVER!


 Quem mora nas proximidades de algum colégio sabe que é um inferno. Isso porque os educadores e os pais dos alunos e alunas parecem não saber o que significa cidadania.

Todo mundo reclama do trânsito que fica complicado, dos carros estacionados nas calçadas, fila dupla ou portões e a gente fica se perguntando como pode isso acontecer justamente nas vizinhanças de um local que se propõe a educar.
Quem mora nos arredores do Colégio Anchieta, com certeza, não sabe o que significa sossego. O barulho no colégio começa antes das sete da manhã e  vai até dez da noite, quando não ultrapassa.

 Quando os alunos não estão gritando loucamente, estão ensaiando para alguma apresentação ou estão jogando na quadra, tudo sempre muito, muito alto. A quadra do colégio funciona como uma espécie de amplificador e a turminha não economiza nos gritos.  Pense em uma combinação explosiva.

Durante toda essa semana ocorreram ensaios para uma festa que se acreditava estar acontecendo todos os dias, durante os dois expedientes, tal era a altura do som. Algo surreal de estar acontecendo em um colégio onde nem todos deviam estar ensaiando e, portanto, alguns deveriam estar estudando. E não adianta pedir para baixarem o som porque a resposta é: estamos no horário permitido. Permitido para que? Para incomodar a vizinhança? Para não permitir que os bebês durmam ou quem trabalhe à noite possa descansar?

Mas hoje a sexta-feira começou diferente. Havia silêncio no colégio. Nenhum grito, nenhum ensaio, nenhuma voz ... O que teria acontecido? Finalmente tinha ensinado aos alunos a lição de cidadania onde temos o dever de respeitar os nossos semelhantes? Ou que os nossos direitos terminam quando começam os dos vizinhos?

Sabe aquela calmaria que antecede um tsunami? Quando o mar recua, parecendo tranquilo e depois volta com tudo? Pois foi exatamente isso que aconteceu.  A calma com a qual fomos agraciados pela manhã e parte da tarde foi um engodo, uma pausa para o que estava por vir.

E vamos combinar que o  Anchieta, dessa vez, se superou. Promoveram uma festa em uma sexta-feira, final de tarde e não se preocuparam com as possíveis consequências de fazer um evento sem planejamento, sem se preocupar com ordenamento do trânsito.

Digamos assim que  Colégio Anchieta dessa vez se superou na maneira de promover suas festas. Os pais além de verem as apresentações de seus filhinhos, a um volume ensurdecedor, que incomoda todo o quarteirão, ganharam um brinde: Todos os carros estacionados ao longo da rua, inclusive fechando entradas de prédios, foram multados.

Muito falta de sorte né papais e mamães? Como vocês iam adivinhar que dois agentes da CTTU estariam passando pelas redondezas e, vendo o caos que estava o trânsito, iriam multar logo seus inocentes carrinhos? Caramba, que coisa né? Mas isso é o que acontece quando não se está nem aí para os outros e estaciona o carro de qualquer jeito, porque o importante é não perder a apresentação da prole né? Quem se importa se do jeito que estacionam o carro vai impedir trabalhadores exaustos de entrarem em seus prédios?

Quem se importa se, por causa dos seus carros estacionados indevidamente travou o trânsito do quarteirão inteiro? "É uma festa minha gente"! Teve quem dissesse, tentando justificar seu carro estacionado atrapalhando o trânsito.

Quem se importa que moradores dos prédios vizinhos tenham levado mais de uma hora para andar 50 metros e ao chegar não tinham como entrar? Afinal, os filhos de quem está obstruindo sua garagem está dançando. Quem quiser entrar em casa que espere.

E esse foi o saldo da festa de hoje:

1 - De tão alto o som, vizinhos não podiam ouvir sequer suas Tvs ou conversar normalmente.

2 – Trânsito travado no quarteirão inteiro, chegando o engarrafamento ás ruas transversais e paralelas.

3 – Moradores dos prédios e casas vizinhas levando de meia a uma hora para percorrer uns poucos metros.

4 – Vários desses moradores sem conseguir entrar em suas garagens por estarem obstruídas por carros estacionados.

5 – E multas. Muitas multas. Ainda que por obra do acaso, benditos sejam os agentes da CTTU que chegaram em meio ao caos e ordenaram o trânsito e acabaram com o engarrafamento causado pelo transtorno de carros estacionados em todo canto, impedindo o fluxo dos carros.

Já diziam os romanos que “Non omne quod licet honestum est”,ou seja que  “nem tudo que é legal é honesto”, ou poderíamos dizer também que “nem tudo que é legal é lícito ou ético”.  Se a lei diz que se pode fazer barulhos durante determinado horário, o bom senso,  o raciocínio civilizado e a ética nos dizem que é preciso respeitar os outros. Sobretudo quando se tem uma instituição de ensino que deveria preparar os cidadãos de agora e do futuro.

Tomara que essa cutucada nos bolsos de quem não está nem aí para as leis de trânsito ou não se preocupam com as normas da boa convivência, provoque uma repensada em seus conceitos.

Ver os filhos se apresentando nas festas do colégio é tudo de bom. Nunca perdi nenhuma. Mas atrapalhar a vida dos outros é tudo de ruim. É um péssimo exemplo para os filhos. Um forma distorcida de viver a vida.

Hoje os parabéns vão para os agentes da CTTU que agiram com eficiência organizando o caos provocado pelos pais do colégio Anchieta e os pêsames vão para esse colégio e os pais /parentes de seus alunos que, esquecendo que vivemos em uma coletividade, só pensam em seus umbigos e estão pouco se importando com os outros.

E, no final das contas, quem perde é o futuro, porque com exemplos desses, que filhos esses pais e educadores deixarão para o mundo?



quarta-feira, 23 de agosto de 2017

JEJUM EM TEMPOS DE GRITO

Depois da publicação de várias notas chamando os cristãos e cristãs a lutarem por seu direitos, a CNBB -  Conferência Nacional dos Bispos do Brasil convida a todos para uma “Jornada de Oração pelo Brasil, a ser realizada nas comunidades, paróquias, dioceses e regionais do país, de 1º a 7 de setembro próximo. Os bispos decidiram mobilizar os cristãos, por meio da oração, após a análise da realidade brasileira feita na última reunião do Conselho Episcopal Pastoral da entidade, dias 10 e 11 de agosto”.

E, esse convite, essa sugestão, levou algumas pessoas, como o sociólogo e escritor Pedro Oliveira, a refletir sobre essa espécie de recuo por parte da CNBB em relação ao chamado dos cristãos e cristãs a irem ás ruas ou mesmo participar de greves gerais, reivindicando de volta o que lhes está sendo tomado: o direito a uma vida digna  e a justiça social (http://jornaloporta-voz.blogspot.com.br/2017/08/a-cnbb-recolhida-em-jejum-e-oracao_23.html)
“O Dia de Oração e Jejum sugerido é o dia 7 de setembro, data que marca a Independência do Brasil”, ainda de acordo com a nota.

Ora, o dia 07 de setembro é, desde 1995, o dia em que vai ás ruas o GRITO DOS EXCLUÍDOS, gestado a partir da iniciativa da Pastoral Social da mesma CNBB e de movimentos sociais.  O 1º Grito dos Excluídos saiu  levando às ruas o tema da Campanha da Fraternidade daquele ano: “A Fraternidade e os Excluídos”.

E aqui colocamos a pergunta que não quer calar: por que jejum e oração e nenhuma menção ao Grito? Não poderia ter sido sugerido que a jornada proposta fosse encerrada com a participação, em todo o Brasil, no 23º Grito, cujo tema para esse ano é: “Vida em primeiro lugar. Por direitos e democracia, a luta é todo dia” ?

Por que jejum? Em um mundo onde milhões de pessoas passam fome, pessoas que dariam tudo por um pouco de alimento, não dá para entender como pessoas que têm acesso á alimentação deixariam de comer em prol de um país melhor. E as pessoas que já jejuam forçadamente todos os dias? Se o jejum fosse uma forma eficaz de melhorar o país, a privação dessas pessoas já não deveria ser suficiente para o país sair da crise? Então a injustiça social, a miséria, a fome diária pela qual passa a população carente do Brasil já não seria sacrifício suficiente? Ou o sacrifício dessas pessoas já é tão natural que não conta? O jejum que conta é de quem tem o que comer todos os dias e pode se dar ao luxo de deixar de comer quando quer? Se sofrimento físico modificasse o mundo, tornasse o mundo melhor, já não teriam sido suficientes as guerras e toda a miséria, por exemplo, de uma Etiópia? Baseado na suposta eficácia do jejum, o planeta hoje já não deveria ser um novo éden?

Por que então não propor um jejum diferente ás pessoas de boa vontade? Um jejum de egoísmo, de ódio, de intrigas, de corrupção, de perseguição? Por que não propor que na primeira semana de setembro se faça jejum dos preconceitos nossos de cada dia? Que tal então, por uma semana, ao menos por um dia se deixar de lado a misoginia, machismo, homofobia,  preconceito racial e de classe?

Por que não propor ao Povo de Deus, caros bispos e arcebispos da CNBB e religiosos e religiosas de todo o Brasil, que faça jejum de desrespeito, de ameaças, de desprezo?

Esse tipo de jejum sim, com toda certeza, nos tornaria pessoas muito melhores. E, aliado a esse jejum, de atitudes e não de comida, faríamos nossas orações, não apegados ás orações já prontas, mas em um momento de íntima relação com Deus, onde com sinceridade rogaríamos pela justiça social, pela dignidade da vida, para todos e todas e não apenas para quem pode se dar ao luxo de jejuar quando quer.


E depois desse jejum e dessas orações , estaríamos prontos de coração e alma, para sair ás ruas no dia 07 de setembro engrossar o coro dos que clamam por democracia e justiça. Para sermos ativos reivindicadores e, acima de tudo, promotores da vida em abundância para todos. 

Em Recife: concentração a partir
das 09h da manhã na praça deo Derby

terça-feira, 15 de agosto de 2017

ABANDONADOS EM UM PAÍS SEM RESPEITO ÀS LEIS

Nos últimos meses viver no Brasil se tornou uma verdadeira desventura. Vemos todos os nossos direitos sendo tirados, a possibilidade de morrer sem conseguir se aposentar fica cada vez mais real e nós, o povo brasileiro, sendo desrespeitado em todas as instâncias, enquanto os que detêm o poder econômico estão cada vez mais fortalecidos.

O respeito à nossa cidadania, conquistado a duras penas, está sendo apagado, pouco a pouco, em todas as instâncias, inclusive na de consumidor.

No passado tive algumas experiências difíceis para garantir meus direitos de consumidora, antes do tal do código. Batalhas que ganhei não pelo respeito aos meus direitos pelas empresas, mas pela persistência em lutar por eles.

Com o advento do Código do Consumidor, as coisas evoluíram um pouco e trocar um produto com defeito de fábrica ficou mais fácil.

Porém em tempos de Brasil sem Lei, o código do consumidor parece já não ser mais temido pelos empresários. Pelo menos é o que parece estar acontecendo na mais recente batalha que ainda estou travando com a LG- Life’s Good (lg.com.br). Bem, a vida pode ser boa para os sócios, quem sabe até para os funcionários. Mas, com certeza, não é tão boa assim para quem compra os produtos da LG . Uma das maiores fabricantes de eletroeletrônicos do mundo.

Compramos, em novembro de 2016, uma televisão LG para minha mãe, quando a dela quebrou e não teve mais conserto. Depois de muita pesquisa de preço e de modelos, a compra foi efetuada pela internet, no site do Extra e chegou sem nenhum problema, antes do prazo previsto e funcionando normalmente.

Em maio uma desagradável surpresa: apareceu uma daquelas famigeradas linhas vermelha na tela. O defeito que a Tv antiga levou uns seis a sete anos para apresentar, a nova apresentou em menos de seis meses. Em 26 de maio levamos a Tv para a assistência técnica indicada no site da LG. No dia 02 de junho, por SMS, fomos informados pela LG que a TV seria trocada e que entrariam em contato em até cinco dias. No dia 07 de junho recebemos, via e-mail, a confirmação de que o processo de autorização de troca havia sido concluído,  em seguida encaminharam a nota fiscal do novo aparelho e informaram o  prazo de entrega era de 10 úteis, ou seja, deveria estar chegando até o dia 20 de junho.

Entrei em contato com a LG por telefone e foi confirmado o envio. O tempo passou e a Tv não chegou. Dei um prazo até o final de junho. No início de julho voltei a entrar em contato com a LG e, para minha surpresa, eles não sabiam dizer o que havia acontecido. Informação que recebemos: “a coordenação do suporte irá ser notificada, entrará  em contato com a transportadora e que ligássemos dali a cinco dias para saber uma posição”. Achei estranho um contato entre o suporte da LG e a transportadora que presta serviços para ela levar cinco dias. Liguei três dias depois. E, como se fosse uma gravação, sem ser,  foi dito a mesma coisa, além da observação que eu havia ligado três dias antes e que eles estavam no prazo para a resposta. Ironizando o fato perguntei por que em lugar de escrever uma carta para a transportadora não usavam o telefone? A LG ainda não havia descoberto o e-mail? O Whatszap ou telegram? Não dá para entender por que esse contato levaria cinco dias em plena era da comunicação. A pessoa que atendeu disse apenas que o prazo era aquele e que não podia fazer nada. E ainda completou dizendo que eu precisava entender que a Tv estava sendo mandada de outra cidade. Ao que respondi: “Isso eu entendo perfeitamente, uma vez que, na minha cidade não tem fábrica da LG. O que realmente não entendo é esse prazo para uma coisa tão simples quanto entrar em contato para saber onde anda a Tv”.

O tempo continuou passando. E essa resposta da coordenação entrar em contato com a transportadora foi dada mais algumas vezes. Até que, depois de muitas ligações e e-mails, a resposta mudou: a Tv estava retida na SEFAZ, por causa da Nota Fiscal que estava errada. Eles iam resolver e deram a opção de reembolsar o dinheiro ou aguardar de dez a quinze dias úteis. Liguei no nono dia, o que foi imediatamente mencionado pela pessoa do suporte. Dessa vez disseram que já haviam substituído a nota e o prazo continuava de dez a quinze dias úteis.

Já no final de julho, sabe-se lá que dia útil exatamente seria, décimo segundo talvez, a minha mãe, que tem 89 anos de idade, resolveu ela mesma ligar. Disseram que já pagaram a multa (??) e que não podiam fazer nada quanto ao prazo. Quando minha mãe perguntou qual era a SEFAZ que a TV estava retida informarem que era do aeroporto. Mas não disse em qual aeroporto. “Todo aeroporto tem uma  SEFAZ senhora”, foi a resposta. Sério?

Interessante é que, anteriormente, em uma das vezes que liguei e ainda não sabiam informar o que havia ocorrido, pedi que me dessem o número do código de rastreamento e a resposta foi: “senhora, código de rastreamento só existe para encomendas enviadas via correio. O aparelho de Tv é muito grande para ir por avião. Foi enviado por terra, então não tem código de rastreamento”. Como então foi parar na SEFAZ de um aeroporto, se vinha por terra?

Vocês devem estar se perguntando por que não aceitamos logo o reembolso. Por um motivo muito simples: a Tv foi comprada em novembro, em uma promoção, tanto no valor dela quanto do frete. Provavelmente o que pagamos em novembro não daria para comprar uma Tv igual agora.  Teríamos que recomeçar todo o processo de pesquisa de preços, loja por loja, site por site, ou seja,  ter todo o trabalho de novo por causa de um problema que não causamos e que, aparentemente, a Life’s Good não está muito empenhada em resolver, mesmo em se tratando de uma cliente de 89 anos. Mas quem disse que no Brasil a idade avançada merece respeito?

Tanto por e-mail quanto pelo telefone a desculpa agora era da SEFAZ, essa sequestradora de Tvs alheia e que não tinham como prever quando liberariam a nossa, mesmo depois do resgate pago, digo, da multa paga. E sempre dando prazos novos. E aí, de repente,  no dia 3 de agosto, não se fala mais em SEFAZ e recebemos um e-mail dizendo o seguinte: “Há poucos instantes conversei com o responsável pelo setor de liberação do produto e recebi a confirmação de que foi solicitada a liberação do aparelho no inicio desse mês, exatamente no dia 01/08/2017.  Levando em conta o prazo para autorização da liberação do aparelho, assim que disponível para rota, iremos direcioná-lo ao endereço de entrega. Por isso, provavelmente o produto será entregue no fim da próxima semana, ou no inicio da semana decorrente”. Ou seja, mais prazo, mais espera e uma pergunta que não quer calar: seria o e-mail e a nota fiscal recebidos em 07 de junho falsos? Alguém entrou na conta da LG e nos enviou esses e-mails? E os telefonemas e os outros e-mails que culpavam a SEFAZ sabe-se lá de que estado? Era tudo falso? Foram haqueados?  Enviei e-mail hoje perguntando isso e ainda não me responderam.

Enfim, hoje é 14 de agosto, oitenta e um dias “inúteis” se passaram desde que a Tv foi entregue na assistência técnica e, na verdade não temos uma explicação que seja realmente esclarecedora  ou uma informação precisa quanto ao real prazo de entrega de uma Tv que foi despachada por uma transportadora, por terra e, curiosamente, estava retida na SEFAZ de algum aeroporto, entre sei lá onde fica a fábrica de Tvs da Vida é Boa  e a casa da minha mãe e, de repente, não foi nada disso. A autorização só saiu dia 01 de agosto. Talvez nunca saibamos o que realmente aconteceu. Alguém errou, alguém fez besteira e a minha mãe que está pagando o pato. E estou vendo que, do jeito que nos estão enrolando, talvez tenha mesmo que entrar nas Pequenas Causas para receber a TV.

Na minha família, com certeza, ninguém nunca mais vai comprar um produto LG. E, esta história vai ser divulgada nas mídias, no boca a boca, da forma que for, cada vez que eu lembrar do mal que a LG está causando a minha mãe  que, com 89 anos e meio, hipertensa, com dificuldade de locomoção e cuja distração é assistir à TV.


A Vida é Boa? Com certeza. Mas, por ironia, não para quem compra um produto LG.

terça-feira, 25 de julho de 2017

A FELICIDADE NA VITRINE


Fulana estava em casa, assistindo à sua Smart Tv de cinquenta e tantas polegadas, talvez mais, ouvindo o altíssimo som que saia do seu home theatre, tomando o seu delicioso vinho de uma safra e uva especiais, beliscando um daqueles queijos com crosta azul ou verde.

Ao seu lado, o companheiro, envolvido com  seu iphone 7 ou algum mais novo, não prestava atenção, nem ao que estava passando na enorme tela de alta resolução e muito menos a ela.

Fulana se levanta e vai até a varanda de sua cobertura a beira-mar de alguma cidade litorânea brasileira, capital, quase certeza, olha as ondas do mar indo e vindo, vê a paleta de cores formadas pelos guarda-sóis fincados na areia quente, os pontos que se mexem para lá um lado e outro, para dentro e para fora do mar, faz uma careta de abuso, só de imaginar que todos aqueles pontos são homens, mulheres e crianças torrando naquele sol de quase meio-dia, se besuntando de protetores solar baratos, grudando areia no corpo como se fosse um camarão empanado, se molhando naquela água que vai e vem, sabe-se lá o que levando e o que trazendo de volta à areia.

Fulana tomou mais um gole de seu delicioso e gelado vinho, sentou em uma das espreguiçadeiras caríssimas que comprou em uma sofisticada loja de decoração e fez uma careta de reprovação ao imaginar as cadeiras de alumínio e plástico em que as pessoas se esticavam lá na praia, tomando caldinhos cuja preparação ela se negava a pensar.

Fulana sorriu e pensou, quase chegando a sentir pena daquelas pessoas, apinhadas naquela areia quente, provavelmente cheia de restos de comida e descartáveis, o quanto ela era feliz, em seu maravilhoso tríplex de cerca de 800 metros quadrados, com sua piscina privativa, suas cadeiras para banho de sol importadas, um bar repleto de bebidas para todos os gostos sofisticados, som da melhor qualidade de reprodução, petiscos variados e deliciosos, onde os camarões empanados eram de verdade e filés de lagosta nunca faltavam.

Olhou de volta para o sofá da sala de Tv, viu o seu companheiro rindo e respondendo a alguma mensagem, continuando alheio e ignorando que ela não estava mais ali do lado. Era domingo, a praia estava cheia de gente que se apertava, se esbarrava, corria, comia, bebia, jogava, nadava e... se divertia.
Era domingo e a sua maravilhosa piscina, com suas confortáveis cadeiras, bebidas, petiscos e som puro, estava vazia. Completamente vazia. Tudo estava limpo, guardado e arrumado. Porque não tinha ninguém para estar ali.

Fulana encheu mais outra taça de vinho, que vinha da segunda ou talvez terceira garrafa que bebia sozinha, fechou os olhos e tentou se imaginar lá na praia, no meio daquela multidão que ria e curtia o domingo, com a família e amigos. Sentiu pavor, agonia, repulsa, raiva, angústia, inveja. Inveja? Inveja de estar empapada de suor, empanada de areia, disputando um lugar para sentar?

Não, disso não. Arrepiava-se só em imaginar um grão de areia grudado no suor de seu corpo. Sentiu inveja dos sorrisos sinceros, das gargalhadas que vem da alma, da alegria que contagia e se espalha pela areia, em meio a toda aquela gente. Olhou novamente o companheiro que agora tomava uma cerveja importada e, ainda sem perceber que ela não estava mais ali, mudou de canal e começou a assistir a uma partida de futebol. Como Fulana odeia futebol! Mas parece que seu companheiro estava ignorando totalmente isso, inclusive aumentando o volume daquelas potentes caixas de som, estrategicamente distribuídas, inclusive ao longo da enorme varanda que circundava todo o andar onde estavam.

Fulana poderia pegar um dos controles remotos espalhados pela varanda, bem ali, em uma mesinha ao lado e desligar as caixas que estavam perto dela. Mas não o fez. Deixou que aquele som irritante se espalhasse pela varanda, sem conseguir tirar os olhos da praia lá embaixo.

Estava inquieta, angustiada. Mas não era apenas por causa da voz falsamente eufórica do narrador do jogo que entrava por seus ouvidos sem pedir licença. Esse som ela poderia desligar quando quisesse. O que a incomodava eram aquelas pessoas lá embaixo, na areia, irritantemente felizes. Essa imagem ela não podia desligar. Não dava para mudar de canal. Não tinha como deletar. Mesmo que se levantasse e fosse para outro cômodo, as pessoas ainda continuariam ali, se divertindo e aproveitando a folga do domingo.

E ela, para qualquer parte de seu imenso apartamento que fosse, continuaria sozinha, tendo como companhia apenas a sua taça de vinho. Olhou mais uma vez para as pessoas lá embaixo, pontinhos que se mexiam e ignoravam a sua existência. Pensou em como o seu companheiro parecia fazer de conta que ela nem existia.


Pegou o seu iphone 7 ou mais novo, o que fosse, tirou uma self com o mar e o céu se confundindo lá no horizonte, foi até a sala, acenou para o companheiro sorrindo, soltando um beijo. Ele olhou para ela distraído e, talvez, sem nem perceber, retribuiu o beijo e voltou à atenção para a o futebol. Então ela postou as fotos no Facebook e no instagram e comentou: “Mais um dia lindo para ser feliz com o meu amor”. #oamornaoelindo? #diaperfeito. E ficou olhando fixamente para a tela do iphone,  aguardando as curtidas e, com sorte, talvez até alguns comentários.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

A BANCA DO DESTINO


 Lendo as matérias postadas no Facebook, onde, confesso, costumo me atualizar por não ter paciência para ler, ouvir ou ver notícias na mídia tradicional, fui ficando um tanto impaciente com toda essa arbitrariedade reinante hoje no Brasil, onde quem está a frente dos quatro poderes (sim quatro, incluindo a Mídia) faz o que quer, como quer, com quer e só é punido quem estiver do lado oposto desses poderes: ou sejam a maior parte da população brasileira.

E, afora essas arbitrariedades institucionais, ainda existem as do cotidiano, praticadas pelas pessoas sem poder, sem dinheiro algumas vezes, mas que sonham com eles e, por isso, agem como se estivessem com o mando de campo nas mãos. Daí se dão ao direito de serem homofóbicas, racistas, misóginos, machistas, classistas, menosprezam os portadores de deficiências, os idosos, os índios e que destilam todo o seu ódio e veneno contra quem, a duras penas, conquistou algum direito como por exemplo comer três vezes por dia, ter um emprego remunerado dignamente, estudar ou ter uma casinha para morar.

Não foram poucas as pessoas que se revoltaram porque as domésticas conquistaram o direito de ter o seu horário de trabalho regulamentado.  Algumas ignoram a lei e continuam explorando seus empregados domésticos com uma jornada diária das cinco da manhã às dez da noite. Sei de casos em que o patrão pode chegar em casa dez da noite, a funcionária pode estar dormindo, não importa. Tem que levantar e colocar o jantar par ele. E a funcionária se submete porque não entendeu ainda que a sua força de trabalho e só sua, o patrão não pode tirar isso dela e ela poderia trabalhar em outro lugar.

E daí li um artigo, de um professor da UFBA, Rodrigo Perez, onde ele finaliza dizendo: “Não se enganem, meus amigos, o golpe quer ver Lula morto não pelos seus erros. Os erros de Lula todos nós conhecemos e só o povo brasileiro, nas urnas, pode julgá-lo. O golpe quer ver Lula morto pelos seus acertos”.

E foi aí que me veio à cabeça a letra de uma música bem antiga, chamada A BANCO DO DESTINO, de Billy Blanco. Pesquisando sobre ela, encontrei a sua origem, que compartilho agora com vocês.

De acordo com o que pesquisei, Billy Blanco compôs a música inspirado em um fato contado a ele por Dolores Duran, em meados dos anos 1950, quando ela se apresentava em das boates boate de Copacabana, no então famosíssimo “Beco das Garrafas”. Havia um homem que ia frequentemente aos shows de Dolores Duran e que era extremamente preconceituoso e racista. O tal “doutor”, como o chamavam, ia aos shows, sentava na primeira fila, mas ficava de costas par ao palco. Gostava da voz dela, mas não olhava ou se dirigia nunca a ela diretamente porque não falava com negros. Quando queria ouvir uma música , acenava para o garçom, (Albérico Campana, posteriormente dono do “Plataforma”, no Rio de Janeiro) com um bilhetinho na mão e lhe dizia: “Manda a neguinha cantar essa música aqui!”. E, paciente e profissionalmente, Dolores Duran atendia aos pedidos cantando as músicas solicitadas.

E, depois do show, comprava seu jantar para levar para casa mas não carregava até o carro, porque isso era serviço de negro. Mandava o garçom levar.

Dizem que, naquela época, ela e Billy Blanco tinham um romance e que, um dia, aborrecida com a grossura do tal “doutor”, desabafou com ele a história que inspirou, imediatamente, o samba, cantado por ela na noite seguinte, em julho de 1959.

Posteriormente o samba foi gravado por Dóris Monteiro, Elza Soares, Neusa Maria, Jair Rodrigues, Leila Pinheiro e Elis Regina, entre outros.
Confiram abaixo a letra da música e imaginem que poderia ter sido composta ontem, dada a sua atualidade. Coloco também alguns links, de algumas das gravações. É só escolher. Vale a pena ouvir e cantar: pra que tanta pose doutor, pra que tanto orgulho?

A BANCA DO DESTINO

Billy Blanco

Não fala com pobre, não dá mão a preto

Não carrega embrulho

Pra que tanta pose, doutor

Pra que esse orgulho

A bruxa que é cega esbarra na gente
E a vida estanca
O enfarte lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim, põe o bobo no alto
E retira a escada
Mas fica por perto esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
Todo mundo é igual quando a vida termina
Com terra em cima e na horizontal

LINKS COM DIVERSOS CANTORES E CANTORAS:


https://www.youtube.com/watch?v=9Px3un8selk – Teresa Cristina e Joanna

https://www.youtube.com/watch?v=4PSPgpg8MUk – Billy Blanco e Billynho Blanco

quarta-feira, 8 de março de 2017

PORQUE, PARA AS MULHERES, TODO DIA É DIA LUTA!



Hoje eu não quero flores, não quero chocolates, não quero presentes embrulhados em papeis bonitos. Hoje não é o meu aniversário, o Dia das Mães ou dos Namorados.

Hoje eu não quero votos de um feliz dia ou parabéns porque é simplesmente o Dia Internacional da Mulher. Não foi para isso que esse dia foi criado. Não sou feminista ou ativista das causas feministas. Sou mulher. E hoje, o que quero, é o que ainda não conseguimos conquistar, depois de tantos anos de luta. Sabem o que mais quero hoje? RESPEITO.

Quero respeito às minhas escolhas, à minha opção de gênero, à maneira como visto, ao meu corpo, ao meu trabalho, à minha vida.
Para quem quiser prestar alguma homenagem nesse dia de hoje, vou dar uma dica: Em lugar de Feliz Dia da Mulher, diga assim: parabéns mulheres que acreditam em sua força, que lutam bravamente por um mundo onde não haja mais misóginos. Um mundo onde a igualdade de gêneros seja uma realidade e não apenas palavras politicamente corretas.

O Da Internacional da Mulher foi criado não para se dar presentinhos, flores ou chocolates. Existe para lembrar às mulheres que a sua luta não tem trégua. Conquistar nossos direitos é uma luta diária. Portanto, se quer homenagear as mulheres hoje, apoie nossas lutas, vibre com nossas conquistas, não se sintam ameaçados ou diminuídos por nossos sucessos. Divida as tarefas domésticas sempre e sem reclamar. Lembre-se que  cuidar da casa e dos filhos não é obrigação apenas de uma parte do casal. É uma obrigação das duas partes que dividem um teto e uma família.

Parabenize as mulheres por sua força. Nada de Feliz Dia da Mulher. E sim: Parabéns por serem sempre guerreiras, sem fugir da luta, mergulhando em suas batalhas do dia a dia com garra e coragem.

O que temos a comemorar? Muitas conquistas que deveriam ser naturais, como o são para os homens: sermos donas do nosso próprio dinheiro, do nosso corpo ou, simplesmente, poder votar. 

Homens deem às mulheres o direito de se vestirem como quiserem sem ter que andar nas ruas ouvindo gracinhas e cantadas. Tenho pena dos homens que não conseguem enxergar as mulheres como seres humanos e veem nelas apenas objeto de prazer. Pobres mentes essas que, além de sexo, futebol e cerveja, não conseguem pensar em mais nada. Quanta ociosidade em um cérebro que até poderia ter sido brilhante.

Portanto, hoje é um dia de celebração pela lutas e pelas conquistas. Um dia para rememorar a luta e o martírio daquelas mais de cem mulheres queimadas em uma fábrica de Nova York.

Um dia para trazer à tona uma parte da história, que pouca gente sabe, comenta ou relembra hoje: o centenário da participação importante das mulheres na Revolução Russa. A retirada do poder dos Czars foi protagonizada pelas operárias da indústria têxtil, que organizaram um ato público, de forma espontânea, insurrecional e pela base.

Era o Dia Internacional da Mulher, 23 de fevereiro, instituído sete anos antes, na Segunda Conferência de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague com delegadas de dezessete países, com um caráter internacional e cuidadosamente preparado, tendo como foco a promoção da propaganda pelo voto feminino. E, de acordo com Tróstski em sua “História da Revolução Russa”, as mulheres foram a vanguarda da Revolução de Fevereiro.

Só para esclarecer, à época era usado o calendário juliano e, nele, o dia 23 de fevereiro corresponde ao dia 08 de março no calendário gregoriano, usado atualmente.

Temos muitas batalhas ainda pela frente. Que elas nunca nos amedrontem ou nos façam recuar.

Que hoje consigamos conquistar mais respeito e derrubar preconceitos. E, se os machões, misóginos e afins, pararem para pensar, eles podem até se sentir superiores e poderosos, mas jamais poderão fazer tudo o que uma mulher consegue fazer. Afinal de contas, se, de repente, as mulheres fossem extintas da face da terra, deixando apenas vivos os homens, a humanidade logo também seria extinta. Já, se ficassem só as mulheres, a humanidade continuaria. Pensem nisso e respondam, no final das contas, o poder é de quem mesmo?



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

E EU... GOSTAVA TANTO DE VOCÊ...


Para nós, nordestinos, quando alguém fala “coxinha”, logo vem à cabeça (e ao paladar) o delicioso salgado, feito de batata e galinha desfiada, às vezes com catupiri, em sua versão “large”, que não pode faltar nas festas de aniversário, principalmente se forem infantis. Menos nas festas mais sofisticadas. Porque nessas, servir coxinha é “brega”. Mas, a palavra tem outro significado, que faz mais sentido para os paulistas do que para nós, meros moradores de uma parte do Brasil que o pessoal lá de baixo gostaria que não existisse.

“Coxinha” é uma gíria paulistana que eles acham que se espalhou pelo Brasil, a partir dos anos 80. Surgiu para, pejorativamente, chamar os policiais de São Paulo que eram visto, com frequência, comendo coxinhas em lanchonetes. Ou, mais depreciativamente ainda, também faria referência aos policiais porque tinham baixo poder aquisitivo e seu vale-refeição só dava mesmo pra comprar coxinha.

Posteriormente, a gíria ganhou outra conotação, ainda em São Paulo, que definiria, mais ou menos, o que por aqui chamamos de “Mauricinho” e Patricinha”. Mantendo, entretanto, o seu caráter depreciativo. Em sua nova versão paulistana “Coxinha” passou a designar as pessoas conservadoras, que se preocupavam em se comportar de maneira a serem aceitas pela maioria. Por exemplo, houve uma época no Brasil, não muito distante, em que ser politicamente correto era moda. Então, nessa época, os coxinhas eram politicamente corretos, acreditem se quiserem. Alguém lembra desse tempo? Eu lembro. Era um tempo mais respeitoso.

Ainda dentro dessa definição paulistana para “Coxinha”,  seria alguém com alto poder aquisitivo, usando roupas de grife e assíduos frequentadores da “night” ou das baladas, se preferirem. Nem sei algum dos dois termos ainda é atual. Extremamente preocupados com a imagem, os “coxinhas” passam muito tempo na academia, para ficarem “sarados” ou, “rasgados”, como eles falam entre si, passando, dessa forma, muito tempo na academia... de ginástica.

Ah, não podemos esquecer que há também algumas palavras ou neologismos que são parte do vocabulário dos “coxinhas” paulistanos como por exemplo: "tenso", "futebas" (significa futebol), "doleta" (para se referir ao dólar), etc. Para definir que algo é legal, muito bom etc. os termos usados são: "top", "topíssimo", "premium" e "insano". O que talvez distinga os nossos “mauricinhos” e ”patricinhas” nativos, dos “coxinhas” paulistanos seja o tempo que dedicam à cultura ... do corpo.

A partir de junho de 2013, aí sim, a gíria  se espalhou pelo Brasil, com uma espécie de adendo ao significado paulistano anterior. Entretanto, a partir de então, com certeza, uma característica já não faz mais parte de sua definição: ser politicamente correto.
Então, de acordo com o que pesquisei na internet (sim, me dei a esse trabalho), as características de “coxinha” seriam : pessoa da elite financeira ( ou que pensa que faz parte dela), política e moralmente conservadora, sempre preocupada com a aparência e o status social, que defende os chamados “valores familiares” (questionáveis como valores, pelo menos por mim), que não têm vergonha de serem racistas, classistas e homofóbicos.  Pessoas que acham que chamar alguém de “gay” é xingamento e que não respeitam as religiões de origem afro e também usam palavras como “macumbeiro” para xingar os que fazem parte dessas religiões.

Odeiam Lula, Dilma, PT, a esquerda em geral. Gritaram e bateram panelas contra a corrupção, mas agora estão quietos e sequer ensaiam uma postagem nas redes sociais criticando o atual governo e seus integrantes, mesmo que, a partir do presidente, boa parte esteja sendo citada, indiciada, processada ou prestes a ser presa, se não estivesse sobre a proteção das asas de norte a sul federais.

Adoram postar xingamentos, piadas de mau gosto e depreciativas em relação à esquerda. Postam tudo que falar mal do PT, sem se dar ao trabalho de conferir se é ou não verdade. E, quando por acaso, constatam que é mentira, não estão nem aí pra isso. Afinal, de acordo com a lógica “coxista” se não é verdade, poderia ser. Então deixa pra lá. Postam ainda dicas de como matar uma pessoa em cirurgia e comemoram a morte de qualquer um que esteja ligado à esquerda. Pare eles é como se essas pessoas fossem personagens de um filme, de uma novela e não seres humanos, de carne e osso, com sentimentos e uma vida de verdade.

O “coxinha” se apropriou das cores verde e amarela e saiu às ruas gritando “quero o meu Brasil de volta”. Eu, particularmente, fiquei muito triste com isso. Logo eu, que era tão patriota, agora não consigo mais usar uma camisa amarela da seleção. Para mim passou a significar tudo que mais abomino em um povo: alienação, preconceito, falta de respeito e intolerância. Sim, porque outra característica do  “coxinha” é a intolerância, ampla, geral e irrestrita.

Eles acham natural piadas racistas, homofóbicas ou classistas. Acreditam que brincadeiras desse tipo não são ofensas. As pessoas é que são sensíveis demais e se ofendem por bobagens. Rir de piada ridicularizando as pessoas negras, homossexuais ou pobres, é coisa natural, um direito de se divertirem.  E quando se menciona que o direito de cada um termina onde começa o direito do outro, dizem que quem se ofende é que deveria respeitar o seu direito de falar o que pensa. Riem de vídeos que fazem piadas com mortes, até mesmo de bebês, de piadas com estupros, preconceito racial ou religioso, pessoas gordas ou magras demais, dos nerds, dos que são os mais estudiosos da sala, enfim, riem e ridicularizam tudo que lhes incomode. E acham super natural.

Estão confortáveis e seguros agora, porque acreditam que os pobres, os negros, os homossexuais, os “petralhas” a esquerda em geral, estão neutralizados, não são mais uma ameaça ao seu padrão de vida. Sentem-se à vontade para não cumprir a Lei das Domésticas e sabem que, com todas as PECs que o governo está aprovando, a população brasileira vai ficar cada vez mais pobres e, com isso, mais dependente da elite financeira para sobreviver. Dão as cartas e jogam de mão, como diz o velho ditado.

E, feito rastilho de pólvora a intolerância a falta de respeito ao próximo e a intransigência, se espalharam Brasil afora, contaminando até mesmo quem não faz parte dessa tal elite financeira e que está sendo prejudicado por tudo o que acontece no país. Alienados, anestesiados, os “coxinhas” da parte inferior da pirâmide financeira aplaudem as reformas e medidas, que vão lhes tirando pouco a pouco, todos os direitos conquistados a duras penas e, alguns, até se sentem orgulhosos de serem chamados de “coxinhas”. É como certa vez me disse um amigo “têm bolso de trabalhador da cana e cabeça de canavieiro”.

Só para constar para ser, oficialmente, “coxinha”, não precisa se enquadrar em todos os itens que definem o perfil. Ser da elite financeira, por exemplo, não tem sido uma condição essencial para o enquadramento.

Apesar de muitos terem experimentado a fatia do bolo que os governos do PT repartiram, sem usar a velha de desculpa de “esperar o bolo crescer para fatiar”, hoje não lembram mais do delicioso sabor daquela fatia do bolo. Apagaram da mente como foi possível a ascensão social, o acesso às universidades e à casa própria.

E, muitos fazem isso para serem aceitos e continuarem a fazer parte dos círculos de amizade. Porque outra consequência muito cruel desse tempo é que as pessoas não estão mais conseguindo interagir com quem pensa politicamente diferente delas. Amigos deixaram de se ver regularmente ou ao menos de se falarem por telefone ou nas mídias. Os “petralhas” não são mais bem-vindos nas reuniões sociais de amigos, onde antes jamais deixariam de ser convidados. Vivemos em uma nova Era. A Era do “quem não está comigo está contra mim”, mesmo que o “não estar comigo” signifique apenas não concordar com as novas posições políticas.

Ainda que extraoficialmente, fui deixando de ser convidada, por alguns amigos, para encontros, almoços ou jantares, comemorações, aniversários, sem alarde, silenciosamente, mas, com toda certeza, por minha posição política, que faço questão de deixar muito clara. Mas, por outro lado, ainda tenho grandes amigos que têm opiniões políticas diferentes das minhas, mas que convivemos maravilhosamente bem. Até hoje, mesmo divergindo na política, temos em comum algo essencial: respeito pela posição do outro. Comigo esses amigos têm compartilhado as emoções, as comemorações, as festas, os aniversários e os momentos dolorosos e sofridos. Seguimos com a nossa amizade, por inteiro, como se houvesse um pacto sem palavras, onde, subliminarmente estaria acordado que amizade vai continuar na concordância e na divergência.

Uma observação: ser de direita e ser coxinha não são sinônimos. Para ser coxinha, tem que ser de direita. Mas, para ser de direita, não tem que ser coxinha. Ainda bem.

Com tudo isso que vem acontecendo no Brasil, com tristeza vi se perder em mim o orgulho de ser brasileira, o amor por minha pátria, a emoção de cantar o hino nacional, o respeito ao voto e a alegria de cantar, com Ivan Lins,  “aqui é o meu País, Dos sonhos sem cabimento, aqui sou um passarim, que as penas estão por dentro, por isso aprendi a cantar, voar, voar, voar,me diz, me diz, como ser feliz em outro lugar”.

Hoje estou mais para cantar com Tim Maia “Não sei por que você se foi, quantas saudades eu senti, e de tristezas vou viver, e aquele adeus não pude dar, você marcou em minha vida, viveu, morreu na minha história, chego a ter medo do futuro, e da solidão que em minha porta bate. E eu, gostava tanto de você, gostava tanto de você. Eu corro, fujo desta sombra, em sonho, vejo este passado, e na parede do meu quarto, Ainda está o seu retrato. Não quero ver pra não lembrar, pensei até em me mudar, lugar qualquer que não exista, o pensamento em você”.

Logo eu. Que gostava tanto tanto de você.