Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

INDIGNAÇÃO, AMNÉSIA E IMPEACHMENT

por Rejane Menezes

Tenho acompanhado pela mídia social que as “pessoas indignadas com a corrupção” estão convocando um evento para, mais uma vez, pedir o impeachment de Dilma.
Soube desse “evento” através de convite de uma pessoa “indignada” que, na verdade, me indignou ao enviar o convite. Faço questão de afirmar que sou petista, desde 1989 e, um convite desses, me ofende. Não consigo imaginar que alguém possa supor que eu participaria de algo antidemocrático assim. Eu respeito a vontade dos eleitores. Posso não concordar, como já aconteceu várias vezes, mas respeito.

Dilma foi reeleita em uma eleição lícita, que ocorreu dentro dos parâmetros legais da Constituição Brasileira, soberana e que deve ser respeitada por todos os brasileiros.
Essa história de ficar querendo o impeachment de Dilma parece coisa de turminha de escola que perde o jogo e tem que entregar a quadra e fica de birra, sem aceitar a derrota. Perdeu, pronto. Prepare-se para a próxima eleição. Porque essa acabou em outubro de 2014.

Sob a bandeira de luta contra a corrupção, as “pessoas indignadas” vão de novo às ruas pedir que o mandato de Dilma seja cassado. Como se fazia à época ditadura com políticos que eram contra o governo. Pensam que são os caras pintadas da época de Collor.

 Só pra refrescar a memória das "pessoas indignadas": vocês descobriram a corrupção agora? Sério? A gente descobriu faz tempo. Mas só o governo do PT permitiu e incentivou as investigações.

Querem acabar com a corrupção? De verdade? Comecem então fazendo uma auditoria em sua vida.  Vejam, com sinceridade, se vocês respeitam os direitos das pessoas que trabalham pra vocês, seja em casa ou em suas empresas. Vocês pagam todos os  direitos? Dão folgas semanais para seus empregados domésticos? Pagam hora extra se extrapolar as horas legais  semanais?

Ou é como aquela eleitora de Aécio, que odeia Dilma e é dona de um negócio, tem vários funcionários, mas não assina a carteira de nenhum, não paga férias, só paga o baixo salário depois do dia 10 de cada mês, o décimo terceiro, por muito favor, paga em fevereiro e exige o máximo que pode?

O imposto de Renda está chegando. Já comprou recibo ou prestou serviço sem dar recibo para não pagar imposto? Já colocou dependentes imaginários para diminuir o que deve ao fisco? Tem uma loja, mas não dá nota fiscal?

Já pagou propina pra não levar multa? Já usou seu cargo, presentes  ou dinheiro para obter benefícios ou privilégios?

Corrupção não é apenas desviar grandes somas de dinheiro público não. É usar o papel, a impressora, a caneta, a máquina de Xerox, os grampos ou os clips, comprados com o dinheiro público para ser usado no trabalho, para imprimir, grampear, tirar Xerox de coisas pessoais.


Tem também o caso de pessoas que têm empresas que administram condomínios e que, mesmo recolhendo, regularmente, as taxas mensais, não pagam, por exemplo, INSS ou FGTS dos funcionários, deixando a dívida para os condôminos pagarem no dia que descobrem que foram lesados.

É fácil gritar que é contra a corrupção, se indignar com ela, fazer grupos nas mídias sociais e até ir às ruas carregando bandeiras de indignação.

Difícil é confrontar-se consigo mesmo e fazer essa auditoria, buscando uma ficha limpa pessoal que, muitas vezes, está longe de existir.

Por isso a minha sugestão é: vamos fazendo uma autoanálise, revisando nosso comportamento diante de algumas dessas situações que falei acima. E, ao final da análise, mesmo que pedir o impeachment seja algo totalmente sem propósito, que atire a primeira pedra do impeachment aquele que nunca  corrompeu ou foi corrompido.