Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

sábado, 26 de junho de 2010

“TODO MUNDO 'PENSANDO' EM DEIXAR UM PLANETA MELHOR PARA NOSSOS FILHOS... QUANDO É QUE 'PENSARÃO' EM DEIXAR FILHOS MELHORES PARA O NOSSO PLANETA?"

“TODO MUNDO 'PENSANDO' EM DEIXAR UM PLANETA MELHOR PARA NOSSOS FILHOS... QUANDO É QUE 'PENSARÃO' EM DEIXAR FILHOS MELHORES PARA O NOSSO PLANETA?"
Rejane Menezes

Essa pergunta foi vencedora em um congresso sobre vida sustentável. Desde que minha filha, adolescente, me encaminhou um e-mail com um texto falando sobre a “involução’ da educação nos últimos anos, iniciado com a esta pergunta, que eu tenho pensando neste assunto com muita preocupação.
A grande preocupação mundial é com “que planeta nós deixaremos para os nossos filhos". É claro que esta é uma preocupação procedente. Imprescindível se queremos deixar alguma vida no planeta. Mas e as pessoas que vão habitar o planeta no futuro? Estamos preocupados com isso?
Eu confesso que sempre estive. Tenho três filhas, duas adultas e uma adolescente e a educação em sua totalidade sempre foi a grande preocupação em nossa casa.
Educar é função dos pais. Desde a educação doméstica, que prepara a criança para o convívio social até a educação formal, escolar, pois a qualidade desta depende da escolha da escola onde colocarão os filhos.
Sempre, eu e meu marido, demos muita importância à educação formal. Elas sempre estudaram em escolas onde fossem formados cidadãos e não pelotões de vestibulandos. Sempre tivemos muito claro que, como pais, nossa obrigação era formar pessoas inteiras e não seres obcecados com vestibular. Formar pessoas preparadas para viver o futuro, com todos os seus desafios e dificuldades. E, essas dificuldades não podem ser amenizadas ou superadas apenas se aprendendo a marcar o “x” no quadradinho certo.
Mas, se observamos atentamente as crianças, adolescentes e jovens ao nosso redor, o que vemos? Vemos que as crianças estão cada vez mais mimadas, cheias de vontades, histéricas, egoístas e autoritárias. Como os pais trabalham cada vez mais, têm cada vez menos tempo para os filhos e, procuram compensar isso ou comprando tudo o que eles querem ou permitindo que façam tudo o que querem. Parece que “limite’ é uma palavra que sumiu do dicionário familiar.
O choro, arma poderosa das crianças, continua cada vez mais poderoso. E parece que hoje, elas conseguem gritar e chorar mais alto que antigamente. Prestem atenção quando estiverem em shoppings, caminhando no calçadão ou mesmo em baixo nos prédio. É sempre uma profusão de gritos e choros que, confesso, acho enlouquecedor.
Incomoda o fato de perceber que os adultos estão se deixando dominar pelas crianças. Crianças que são sua responsabilidade de educar, de formar, de ajudar a serem adultos humanizados, fraternos e solidários.
Mas o que vemos são adultos omissos e crianças fazendo o querem sem, contudo, ter ainda o discernimento necessário para conduzir sua vida.
Há alguns, passando um São João em Gravatá, assistimos a uma cena deprimente e revoltante, ao mesmo tempo. Um adolescente, de dezesseis ou dezessete anos tomou a chave do motorista e foi levar a namorada no condomínio onde estava hospedada. Enquanto entrava no condomínio, este adolescente, que dirigia uma Hi Lux resolveu dar uma cheiradinha em uma “loló’. Não sei se desmaiou, se ficou doidão, só sei que era para ter virado a esquerda e não virou e entrou com tudo no terraço da casa que ficava no final da rua, derrubando as pilastras e o telhado ficando apoiado na capota do carro. Por sorte, por pura sorte mesmo, ninguém se feriu. Naquele terraço dormiriam vários jovens. Se fosse um pouco mais tarde, poderia ser uma imensa tragédia. Corremos todos para prestar ajuda, mas, graças a Deus, nem o irresponsável à direção se machucou. No dia seguinte veio algum responsável assumir os prejuízos causados. E, comentou que o motorista tinha sido despedido, pois a culpa havia sido dele por ter deixado o rapaz pegar as chaves. E o rapaz que dirigia? Deve ter sido premiado com um carro poderoso ao fazer 18 anos. Ou antes, quem sabe?
Paremos um pouco e realmente tomemos a sério a pergunta que inicia este artigo: que filhos vamos deixar para o planeta? Serão pessoas conscientes de sua responsabilidade na preservação do meio ambiente? Serão cidadãos que não jogam lixo pela janela, que não poluem os rios ou ar? Ou que respeitam os outros seres humanos não jogando fumaça na cara de quem fuma ou ouvindo o som do carro ou do quarto em um volume que não incomode os outros?
Estamos preparando pessoas para viverem em comunidade? Nossos filhos estacionam o carro ocupando apenas uma vaga? Respeitam as filas? Desligam o celular quando estão no cinema?
Recebemos muitas críticas quando minhas filhas eram pequenas por causa do rigor com as quais as criamos. Mas hoje, vejo feliz o resultado das sementinhas que plantamos: elas respeitam o meio ambiente e os seres vivos que nele habitam, dos animais às pessoas.
Não nos arrependemos de nenhum não que demos ás nossas filhas. Ao contrário, cada um pode ter doido naquele momento, mas hoje, o comportamento delas só demonstra o quanto foi necessário. Amar os filhos é educá-los, prepara-los para viver o futuro com responsabilidade, dignidade e, sobretudo, como cidadãos conscientes de seu papel na história que está sendo escrita.
Não se iludam, não adianta fazer parte de ONGs ambientalistas, ser engajado em partidos políticos, movimento sociais ou religiosos, lutar com todas as forças por um mundo melhor para os nossos filhos se não criarmos filhos melhores para o nosso mundo. Se não despertamos a consciência para esse detalhe, toda, toda a nossa luta terá sido em vão.
Publicado no jornal Linha de Frente -edição junho /julho-2010.