Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

LEI DE GÉRSON

Como se a esperteza já não fizesse da natureza humana, algumas empresas resolveram, através da publicidade, dar uma “mãozinha” em suas campanhas, incentivando o mau-caratismo.


Tudo começou há pelo menos três décadas, quando uma marca de cigarro que realmente não lembro o nome, criou a famosa “Lei de Gérson”, onde o ex-jogador tricampeão, portanto idolatrado pelo país, sentado em uma cadeira, fumava o tal cigarro porque gostava de levar vantagem em tudo. A partir daí, a nova lei ganhou a estrada e se espalhou feito praga pelo país. A partir de então, a “Lei de Gérson” passou ser sinônimo de se dar bem, de saber tirar proveito em cima dos outros, como furar filas, por exemplo. Quem não levava vantagem, passou a ser um otário, numa inversão de valores vergonhosa.

Não que tenha sido Gérson ou sua lei que tenham levado as pessoas a serem aproveitadoras. Mas a “institucionalização” da lei, tirou o aproveitador da condição de criticado para se tornar um praticamente um herói.

Esse comportamento duvidoso, mas aclamado, tem feito parte “honrosa” em nossa cultura. Tanto que coisas como o pagamento de propinas quando se é multado é tão natural quanto se enganar quem nos presta serviço, pagando um salário indecente. As pessoas se vangloriam de inventarem deficiências para estacionarem nas vagas especiais, de sonegarem impostos, de pagarem para alguém fazer seus trabalhos escolares, de nunca terem sido pegos filando em provas, de terem comprado algo muito abaixo do preço porque quem vendeu estava com a corda no pescoço... enfim, ser honesto passou a ser coisa de imbecil.

Há alguns anos, uma indústria de automóveis usou crianças fazendo prova para mostrar as vantagens de ser abertos. As indústrias concorrentes eram representadas por crianças que não davam fila aos colegas. E a deles, ao dar fila, estaria se abrindo ao mercado. Que belo exemplo não? Fiquei tão chocada quando assisti pela primeira vez ao comercial, que achei não ter entendido realmente a mensagem. Para minha desilusão, era exatamente o que não quis acreditar: uma apologia à lei do menor esforço. Pra que estudar, se você pode se dar bem filando? Mas uma vez, não lembro o nome do produto. Fico tão indignada que não armazeno essas informações.

E, no dia seguinte, assistindo ao noticiário, praticamente entrei em choque ao assistir a mais um comercial reverenciando a desonestidade: um cara recebe uma encomenda para o vizinho: uma TV de plasma. Ele resolve abrir para ver se está inteira e daí se apossa da televisão. É claro que passam todas as vantagens sociais que ele tem a partir da tal TV. Daí, toca a campanhia e o vizinho pergunta: você não recebeu uma encomenda pra mim há alguns dias?

Não pude acreditar no que vi! Como promover um produto incentivando a esse tipo de atitude? A TV é tão boa que justifica o fato de se apossar dela?

Então eu me pergunto: existe diferença entre um sem teto invadir uma casa vazia para se abrigar, um sem terra invadir uma área improdutiva para tentar sobreviver e um vizinho se apossar da TV do outro porque ela é “o bicho”? Existe, é claro! O sem teto e o sem terra é pobre, não tem nenhuma perspectiva na vida e se apossar de algo que não lhe pertence é uma tentativa desesperada de conseguir ter uma vida menos ruim.

Vivendo em um país que está em franco desenvolvimento econômico e tecnológico, com um governo que, entrando em seu nono ano, trabalha para promover a inclusão social, já está na hora de começarmos a pensar em promover também a educação doméstica, o respeito aos outros e, acima de tudo, extirpar, de uma vez por todas de nossa cultura, essa maldita lei de Gérson.

2 comentários:

  1. Rejane, já tive várias fases em relação às posturas dos brasileiros. Já me estressei com gente estacionando em vaga especial, com gente jogando papel pelo vidro do carro, com policial pedindo propina, com gente tentando furar fila...ufa. Já me estressei tanto. Aí, resolvi estudar História do Brasil e, para minha tristeza, descobri que há mais de 500 anos somos o reflexo da nossa colonização. Só nos resta fazer o certo, agindo de acordo com a nossa consciência. É uma pena, mas enquanto a educação não for encarada de maneira séria no nosso país, não haverá mudanças. Mudança que perdure, só através da educação. A propósito, acho que o nome da marca de cigarros do Gérson era Mistura Fina. Pobre Gérson que caiu na armadilha de um texto publicitário. Acho que o redator ressente-se até hoje de tê-lo escrito. Ou não.

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  2. Titio, acho que era Vila Rica. Mas como não tinah certeza, não coloquei.
    bjs

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