Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

quinta-feira, 26 de março de 2020

AMOR EM TEMPOS DE CORONA ????




Corona já foi sinônimo de “banho de alegria em tanta gente”. Também nos lembra o ator Lauro Corona, que morreu muito jovem, mas que marcou uma época. E, mais recentemente, virou  nome de cerveja.

A crise mundial provocada pelo Corona vírus é devastadora. Além de sua disseminação ser em progressão geométrica, ele traz uma consequência que vai além dos males físicos: a solidão.

O isolamento que se faz necessário, imprescindível, cortou, sabe-se lá por quanto tempo, as interações sociais, tão importantes na vida do ser humano.

E, por outro lado, força uma convivência mais frequente entre as famílias, pessoas que moram na mesma casa, mas que, por força dos horários de trabalho, escola, faculdade, estágios, atividades físicas e coisas afins, nunca se viram obrigados a estranha coisa que estão experimentando agora: conviver.
Para muitas famílias, nem nos finais de semana essa tal de convivência acontece. Mesmo onde têm crianças, a convivência nem sempre acontece de maneira frequente.

A rotina familiar mudou. Em lugar de saírem para trabalhar ou qualquer outra atividade e deixarem os filhos por conta de babás, tem muita gente chiando porque está sendo obrigada a dar atenção aos filhos e o que é pior: cuidar deles.

Imaginem as famílias onde os filhos são cuidados por enfermeiras ou babás desde que saem da maternidade, pais e mães que nunca trocaram uma fralda ou prepararam um leite, porque sempre tiveram babás em tempo integral?
Os problemas causados pelo isolamento são muitos e alguns, embora normais no dia a dia de qualquer pai ou mãe, podem ser o apocalipse para outros. Penso até que a solução para algumas famílias tenha sido proibir suas babás e domésticas de irem para suas casas e ficarem trabalhando, se não poderiam perder seus empregos.

Agora tem uma coisa que não tem nada a ver com o vírus: a hipocrisia. Acabei de assistir a um vídeo de uma pessoa, se dizendo médico há 30 anos e que estava muito preocupado com os pobres. E daí fala mal dos presidentes do senado e da câmara, do Congresso de uma maneira geral, e defende que tem que afrouxar o isolamento porque, se não, as pessoas pobres vão morrer de fome. Ninguém está pensando nelas insistindo nesse isolamento austero. Porque os ricos podem ir ao supermercado, comprar dois mil reais e ficar em casa, tranquilo, se precisar de hospital, vai a um particular. Mas os pobres estão presos em casa, com a comida acabando e vão fazer o que, quando a comida acabar e a mercearia da esquina não tiver mais nada também? E, a solução pra ele é afrouxar o isolamento, essas pessoas voltarem ao trabalho, evitar que a economia entre em crise e daí não morrerão de fome. E chega ao cinismo de dizer que podem até morrer alguns por causa da gripe. Mas morrerão muito mais de fome, se não afrouxar o isolamento e a economia não voltar a girar.

Não conheço a criatura que falou essas coisas absurdas, mas, se conhecesse, com certeza perguntaria a ele, que está tão preocupados com os pobres, por que não sugere que os ricos doem o correspondente a uma ou duas viagens anuais para instituições que estão ajudando os mais necessitados?

Por que esse médico tão preocupado com a fome do povo, não faz um apelo aos mais ricos para doarem o que gastam com seus uísques 50 anos, a gasolina do barco, do avião, para a compra de equipamentos hospitalares, produtos de higiene, por exemplo, para ajudar aos hospitais públicos?

Uma outra sugestão que esse médico poderia ter dado era que os donos das grandes empresas não cortassem os salários dos empregados. Que as pequenas empresas que, não tenham suporte para aguentar a crise, negociem com seus empregados, uma forma de pagar os salários, parcelados, uma parte agora, outra mais adiante. Que o governo ajude as pequenas e microempresas e não as grandes corporações.

É muito interessante ver que as pessoas sempre fazem sugestões para sacrificar os mais pobres. Nunca os mais ricos.

Ter o descaramento de, como médico, conhecendo todas as recomendações, recomendar o afrouxamento do isolamento, para movimentar e economia, é de uma crueldade tão grande que a gente não entende como uma pessoa que estudou para salvar vidas, propõe essa sentença de morte.

O mundo está assistindo, praticamente impotente, a um extermínio de uma parte da população, por um vírus microscópico, resistente e, para o qual, não existe vacina e os tratamentos são experimentais ou paliativos.

Li, recentemente, um excelente artigo de Fernanda Torres, “Ninguém sairá o mesmo dessa quarentena”

Em seu artigo ela comenta sobre o livro que leu, da historiadora Barbara Tuchman, sobre a calamidade no século XIV. E comenta sobre as procissões de penitentes em meio à peste negra, que dizimou dois terços da população europeia.

Segundo Fernanda a autora descreve o caos daquela época com realismo e minúcia desoladora. Os tementes que ainda estavam sadios, iam se somando às romarias, que saiam às ruas para pedir a Deus proteção contra a doença. Ficavam doentes durante o percurso e o final eram as covas rasas. Só depois que o número de mortos foi se multiplicando que os dirigentes religiosos, finalmente, suspenderam as missas, as procissões e as aglomerações.

Sete séculos depois a história se repete, não por parte da Igreja Católica que, pelo menos aqui no Brasil, está agindo de maneira lúcida e apoia as medidas tomadas pelos Estados. Mas por outras denominações religiosas que, preocupadas, como o governo federal, com a queda de suas finanças, insistem em manter os cultos e, criminosamente, dizem aos fiéis que ali os doentes se curam e os sãos não contraem doenças.

Mas não sejamos injustos. Várias empresas, em âmbito mundial e nacional, têm contribuído para a luta contra o Corona Vírus. Empresas de TV por assinatura liberam canais pagos, e-books são liberados gratuitamente, pessoas criam vídeos os mais diversos para ajudar a entreter as crianças, cursos on line ficam grátis por esse período, empresários se juntam para comprar equipamentos, outros suspendem a fabricação de bebidas para fabricar álcool 70% ou álcool em gel. O tal médico deveria citar isso em seu vídeo e apelar para que mais empresas tomem atitudes como essa.

Mas ele preferiu ficar ao lado de pessoas como o dono de uma famosa rede de restaurantes que chegou a dizer que 5 a 7 mil mortes não são nada diante do colapso da economia.

E, claro, que não poderia deixar de falar sobre a ação do  Armazém do Campo, o MST, a Arquidiocese de Olinda e Recife, e uma dezena de sindicatos, ONGs e outras instituições, que se juntaram para cuidar do pessoal em situação de rua, fornecendo café da manhã, jantar e banho. Além de, com ajuda das Mulheres de Brasília Teimosa e das Mulheres do polo têxtil do agreste, confeccionar máscaras de proteção para distribuir com o pessoal.

Ações assim precisam de nosso apoio, seja divulgando, seja indo para lá para ajudar na preparação das comidas (quem não está no grupo de risco) e na distribuição, seja contribuindo, financeiramente, para que continuem.

Claro que, se não somos milionários, mas o que pudermos contribuir, será importante.

Coloco abaixo as informações da conta, para contribuição.

Mesmo em casa, no isolamento, podemos contribuir para ajudar aos mais necessitados e também a movimentar a tal da economia, comprando via whatsapp no Armazém do Campo e nos pequenos empresários que estão entregando em domicílio.

Em casa, se protegendo e protegendo às outras pessoas, podemos continuar a não largar a mão de ninguém e a viver o amor, sempre, mesmo em tempos de Corona.





Entrem na página do Armazém do Campo, no Instagran e assistam ao vídeo do primeiro dia de entrega das marmitas às pessoas em situação de rua.

Clique aqui




Um comentário:

  1. Pois além da solidariedade, encontrei um amor nestes tempos de \corona. Parodiando Gabo

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