Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

domingo, 10 de julho de 2016

PARA ONDE FOI O RESPEITO?


 Ainda está semana estava dando uma olhada no Instagran e, uma das páginas que acompanho é Pernambuco Arcaico,  que posta fotos belíssimas de muitos anos atrás.

Uma das fotos postadas esta semana foi de uma parada de ônibus, na Av. Guararapes, da década de 40. A fila era perfeita, as pessoas esperando pacientemente, sem ninguém avançando, sem fila dupla. E, vários comentários giraram em torno do fato de, na foto, dar para perceber o respeito à fila e ao ambiente pois, ao fundo, se veem paredes limpas, sem nada escrito ou rabiscado.  E então alguém pergunta: para onde foi o respeito de uns pelos outros?


Fiquei pensando exatamente nisso: Em que ponto esse respeito se perdeu?

Sim, é verdade, naquela época havia respeito às filas, aos mais velhos, aos professores, aos vizinhos, aos pais.

Até a década de 1960 a educação doméstica era muito rigorosa. Bastava um olhar mais severo da mãe ou do pai e as crianças já deixavam de lado o que estavam fazendo, só em perceber que não estava sendo aprovado. Não estou aqui para julgar se era certa ou errada a maneira como se educava até a segunda metade do século passado. Mas, não acredito que a repressão, a violência física ou os castigos dolorosos fossem uma maneira amorosa de educar.

Surtia efeito, eu sei, havia o respeito do qual estamos falando aqui e, embora a educação fosse feita de maneira equivocada, surtia efeito.  Até que, uma nova geração de adultos, fruto de cinturões usados com raiva e força, gritos, castigos de joelho em cima de caroço de milho ou coisas similares se rebelou e resolveu criar seus filhos de maneira diferente da qual foi criada. E surgia uma nova forma de educar, que, diga-se de passagem tinha ótimas intenções ao por abaixo a violência física e os castigos absurdos que, embora hoje parece absurdo, houve épocas em que até nas escolas, eram práticas admitidas.

Mas, se por um lado houve a conscientização de que os pais não têm o direito de bater em seus filhos, de maltratá-los, por outro lado, a abertura passou do ponto e o NÃO passou a ser uma palavra proibida no cotidiano das crianças. E, não sou estudiosa do assunto, não tenho autoridade nem argumentos científicos para embasar minha teoria, apenas a vivência, o acompanhamento de crianças educadas como se fossem os reis do mundo, acreditando que tudo lhes era permitido, que tudo era possível e de a sua vontade era o limite entre o certo e o errado.

Em minha opinião foi aí que o respeito ao outro se perdeu e nunca mais foi recuperado em larga escala.

Quando fumar não era proibido em quase todos os lugares, um bom exemplo da falta de respeito era os fumantes terem liberdade de fumar quando e onde quisessem, sem se importar se incomodava, se fazia mal, se havia grávidas ou crianças no ambiente ou pessoas com problemas alérgicos, como o meu caso. Quantas vezes não voltei para casa com os olhos vermelhos e ardendo e o nariz entupido, sem conseguir respirar direito porque as pessoas não se preocupavam em perguntar se alguém se incomodava com o cigarro.  
E assim era em muitas outras situações. Havia, inclusive, um ditado que dizia: os incomodados que se mudem. Poderia ser mais desrespeitoso?

E, chegamos ao século XXI vivendo em um país onde a palavra respeito deixou de fazer parte do dicionário faz muito tempo.  E isso acontece em todos os níveis, desde os sociais aos profissionais. É o motorista de ônibus que não respeita os idosos, que queimas paradas, sãos os passageiros jovens que sentam nos locais destinados aos idosos e não levantam, os médicos que deixam os pacientes esperando horas nos consultórios para serem atendidos, os políticos corruptos que se apropriam do dinheiro público, os funcionários públicos que atendem mau aos usuários, como se estivessem lhes fazendo um favor, os autoritários que não se importam com o que os outros realmente querem, os perdedores que não aceitam a decisão da maioria, enfim.

Em resumo, vivemos em 2016 em um país onde idosos deveriam ser descartados para morrerem sozinhos e não incomodarem, crianças, criadas sem limites, se sentem livres para gritar, perturbar onde e quando quiserem, colégios fazem festas em quadras abertas com um volume de som como se só houvesse eles nas redondezas e os vizinhos que se virem para tentar abafar o barulho infernal que fazem, jovens que veem esse exemplo nos colégios e fazem o mesmo em suas casas e apartamentos, bares que tocam música alta até a madrugada, apartamentos que fazem consertos barulhentos à noite em final de semana, sem permitir aos vizinhos momentos de descanso, motoristas que estacionam em portões e saem, estando nem aí para os moradores que chegam e querem entrar.

No momento em que escrevo este artigo, no colégio ao lado de meu prédio está havendo um evento, uma festa, o que seja, com um som bastante alto e que, em plena noite de domingo, não nos permite um pouco de paz e descanso para começarmos bem a semana.

Não há respeito pelos deficientes, pelos gordos, pelos muito magros, pelos mais pobres, pelos menos inteligentes ou pelos que gostam muito de estudar. Ridiculariza-se os Nerds, os ingênuos, os que não querem levar vantagem em tudo, os que, sendo a exceção da regra, agem com respeito, aos outros, aos animais, às situações enfim.

Estaciona-se em fila dupla, joga-se lixo pelas janelas, nas praias, menosprezam-se as pessoas mais simples, torce-se o nariz para quem não tem carro ou roupa de grife, depreda-se a natureza sem nenhum remorso ou pudor.

E, acima de tudo, não se respeita as diferenças. Ou as pessoas pensam como se quer ou então passa para nossa lista negra. E, a partir daí, tudo é possível: delações, intrigas, fofocas, desprezo.

Esse é o Brasil de hoje, essa é a nossa Pátria, já não tão amada, dilapidada, desconstruída, desfazendo-se, pouco a pouco, por falta de uma coisa tão simples: respeito.

Se os limites dados antigamente pelos pais à base de cinturadas e maus tratos funcionava, embora fosse uma forma deplorável de educar os filhos, a falta de limites, a permissividade desenfreada, a abolição da palavra NÃO, com certeza não está funcionando. Nenhuma dessas duas formas de educar é uma forma de amar os filhos.

Diante de tantas campanhas ecológicas para salvarmos o planeta terra, penso naquela conhecida frase que diz que devemos nos preocupar com que filhos vamos deixar para o mundo.

Enquanto não nos preocuparmos com isso, não acredito que esse tal de respeito volte ao dicionário e à prática de vida dos brasileiros.

Educar com amor, é tão simples, tão prático, tão essencial. Basta isso. Porque quem ama, quer o melhor para seus filhos. E, com toda certeza, o melhor para os nossos filhos é viver em um país, em um mundo, onde haja respeito.



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