Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

VIOLÊNCIA GERA VIOLÊNCIA


por Rejane Menezes

 Abomino qualquer tipo de violência, em todas as suas manifestações. O atentado ao jornal francês foi uma violência desmedida e totalmente condenável. Mas acho também que as charges que o jornal publicou são também uma forma de violência, uma vez que demonstram uma total falta de respeito com o islamismo e o Cristianismo. Tive a oportunidade de ver algumas charges e fiquei chocada com a falta de respeito e o mau gosto das charges. É claro que as pessoas não deveriam ter pago com a vida por isso. De jeito nenhum. Mas acho que a liberdade de expressão deveria ter um limite quanto ao respeito aos valores e às crenças dos outros.
 Respeito profundamente quem é ateu ou agnóstico. Todos têm o direito de acreditar ou não em Deus, de ter ou não uma religião. E, da mesma forma que, tenho certeza, os ateus e agnósticos querem ser respeitados em suas convicções, deveriam respeitar as dos outros.
Uma coisa é publicar matérias ou teorias sobre a não existência de Deus ou do mal que achem que a religião causa às pessoas. Outra coisa é publicar charges obscenas com Maomé, Deus, Jesus Cristo ou o Espírito Santo.  Da mesma forma que seria condenável publicarem charges obscenas com políticos ou celebridades de uma maneira geral. Um jornal que publica coisas para degradar pessoas ou religiões não deveria nem ser chamado de jornal. É um tipo de publicação que envergonha a classe. Não acho que podemos chamar de jornalismos esse tipo de coisa.
Dizer que a culpa é das vítimas por terem insultado os mulçumanos seria o mesmo que dizer que as mulheres são culpadas por serem estupradas por usarem shorts ou saias curtas. Não se trata disso. Trata-se de exigirmos uma imprensa mais séria, mais comprometida com os valores, que tenha mais respeito pelas pessoas, suas crenças, suas opções de vida e, sobretudo, com a verdade.
No Brasil temos vários exemplos de publicações, em papel ou virtual, que não estão comprometidos com a verdade ou com o respeito. E, que com suas publicações, geraram cenas de violência, como, por exemplo, na última campanha eleitoral.
A falta de respeito, como violência que é, gera mais violência. Isso não justifica o ataque, é claro. Mas mostra duas coisas: o baixo nível da imprensa em termos mundiais e a fragilidade em que se encontra a paz.
Com certeza o jornal pagou um preço muito alto por sua falta de respeito e deboche. Quiçá, pelo menos, tenham aprendido a lição e não façam dessa tragédia uma bandeira para continuarem a publicar suas arbitrariedades.
Na França a Lei de Imprensa data de 1891 e existe uma agência reguladora independente. Entre outras atribuições o órgão também é responsável por monitorar o cumprimento das obrigações por parte da mídia, como a função educativa. O descumprimento ocasiona a aplicação de multas. Não acho que as publicações do jornal Charlie Hebdo podem se enquadrar como função educativa e por que publicavam livremente coisas do tipo.
A Charlie Hebdo foi fundada em 1970, quando substituiu 'Hara Kiri', semanário que reivindicava seu tom 'estúpido e malvado', fundado por Cavanna - falecido no ano passado - e Georges Bernier.  Neste ano, misturando o drama de uma discoteca no qual 146 pessoas morreram com o falecimento de Charles De Gaulle, o jornal intitulou 'Baile trágico em Colombey (a localidade onde o general morreu): um morto'. O governo proibiu imediatamente a difusão da Hara Kiri.
A redação optou, então, por uma nova fórmula editorial que combinava quadrinhos com posições parecidas com as da Hara Kiri, mas sob um novo título, Charlie Hebdo, em referência a Charlie Brown, o Charlie dos Peanuts, as famosas tirinhas americanas de Charles Schulz.  Não acho que o autor de uma turminha tão legal deveria encarar isso como uma homenagem.
Ao mexer com uma figura pública como Charles De Gaulle, a publicação foi proibida.
A redação optou, então, por uma nova fórmula editorial que combinava quadrinhos com posições parecidas com as da Hara Kiri, mas sob um novo título, Charlie Hebdo, em referência a Charlie Brown, o Charlie dos Peanuts, as famosas tirinhas americanas de Charles Schulz.
Aprendi na faculdade que a imprensa tem três funções: informar, educar e divertir.
Como jornalistas tenho andado muito envergonhada ultimamente, em relação à uma grande parcela da mídia brasileira quando incita à violência, denigre a imagem dos outros ou publica mentiras. Quando procuro um mínimo de programas educativos e não encontro. Quando tento me divertir constato que as formas de diversão estão caindo cada vez mais de nível e se tornando bizarras.
E, como jornalista e cidadã, espero que o Marco Regulatório da Imprensa seja aprovado e que jornalistas e empresas sejam responsabilizados pelo que publicam. Quem sabe, assim, não melhoramos o nível de nossa mídia?

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