O
Rio Centro, o maior Centro de Convenções do Brasil e palco de grandes eventos
nacionais e internacionais, protagonizou um evento fora do padrão, em 30 de
abril de 1981, quando era conhecido como um pavilhão de exposições e eventos.
Era
noite e o local estava lotado para a realização de um show em comemoração ao 1º
de Maio, com previsão de reunir 20 mil pessoas.
Era o Show do Trabalhador, um evento anual que, na época, mobilizava o
Rio de Janeiro e era transmitido ao vivo pela Tv Bandeirantes. Inclusive, na internet, podem ser encontrados
vários vídeos dos artistas que se apresentaram
naquela noite, como Beth Carvalho, Clara Nunes, Gal Costa, Gonzagão, Gonzaguinha,
João Nogueira, entre outros.
Enquanto
dentro do pavilhão o show acontecia, no estacionamento uma trama, que não deu
certo, aguardava a hora para acontecer.
Por
volta das 21 horas, enquanto Elba Ramalho cantava no palco a música “Banquete
dos Signos”, um grande estrondo foi ouvido, vindo do lado de fora. Uma bomba
havia explodido dentro de uma carro onde estavam dois militares, no
estacionamento do Rio centro. O artefato, que seria instalado no edifício,
explodiu antes da hora, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e
ferindo gravemente o então capitão Wilson Dias Machado.
Entretanto,
já naquela época, essa hipótese não tinha sustentação. E, atualmente, essa
versão de que seria um ato terrorista de esquerda foi totalmente descartada por
depoimentos dados ao Ministério Público Federal, como parte da investigação
feita pelo órgão. O atentado do Rio Centro foi uma tentativa do governo,
principalmente do Centro de Informações do Exército - CIE e do Serviço Nacional de Informações –
SNI para convencer os setores mais moderados do governo de que era preciso
retomar a repressão no país para enfrentar o terrorismo. Na verdade o que
queriam era provocar supostos atos de terrorismo para dar um basta no processo
de redemocratização do país que, lentamente, estava em andamento.
O
plano incluía ainda uma segunda explosão na miniestação elétrica que fornecia
energia ao Rio Centro. Mas, parece que o universo conspirava a favor da
democracia naqueles idos de 1981 e a bomba, jogada por cima do muro, explodiu
no pátio e a não chegou a afetar o fornecimento de energia.
Um
dos depoimentos que confiram a farsa das bombas foi dado pelo delegado de
polícia Cláudio Guerra que foi ao local no dia do atentado para efetuar prisões
de pessoas que estariam falsamente ligadas ao s atentado.
Foram
muitos os envolvidos no atentado: além dos militares que estavam no carro,
havia ainda mais três generais. OS procuradores do MPF produziram 38 volumes de
documentos e 36 horas de gravações de depoimentos de áudio e vídeo.
Os
artistas cantavam, celebrando o 1º de Maio, trabalhadores e trabalhadores,
homens, mulheres, jovens adolescentes, talvez até crianças, cantavam, dançavam
e batiam palmas sem perceber que, lá fora, a morte os espreitava. Sem saber que manter o poder era muito mais
importante, para algumas pessoas, do que as suas vidas.
Vidas
inocentes seriam sacrificadas em nome de uma mentira para prolongar a vida de
uma ditadura agonizante.
Juntas,
aquelas vinte mil pessoas acalentavam um sonho maior que toda aquela tenebrosa
trama: o sonho da liberdade, de agir, de ter o direito de não concordar com as
ações do governo e continuar vivo, de cantar músicas proibidas como Apesar de
você ou Pra não dizer que Não falei de Flores e não ser preso.
Ao
contrário do foi planejado, parar o processo de redemocratização no Brasil, esse
episódio foi decisivo para a decadência do regime militar no Brasil.
Quatro anos depois, ainda que através de eleições indiretas, voltávamos a ter
um presidente civil no Brasil.
Deixo
aqui os links de dois momentos do show daquela noite:
Gal Costa - http://www.youtube.com/watch?v=EN5GEFGZ0Ec
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