Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

sexta-feira, 6 de março de 2015

O DIFÍCIL TRÂNSITO NOSSO DE CADA DIA

Por Rejane Menezes



Não posso falar por outras cidades, mas, com certeza, a vida dos recifenses é um horror quando o assunto é locomoção.

Na semana passada dois protestos travaram a cidade. Ir da zona Sul para o Centro foi impraticável. Engarrafamentos enormes se espalhavam por todo lado, fechando os pontos de encontro entre as diversas zonas da cidade. Para onde se ia, lá estava o aglomerado infindável de carros.

 
Todos  apontam a bicicleta como um meio de locomoção limpo e eficiente. Bem, aqui no Recife, andar de bicicleta aos domingos e feriados é ótimo, com as ciclo faixas ativadas, sinalização própria, automóveis sendo obrigados a andar mais devagar. Uma maravilha. Mas só serve mesmo para o lazer. As Ciclovias, como da Av. Boa viagem, são poucas, as ciclo faixas ficam desativadas durante a semana e, por isso,  para usar a bicicleta no dia a dia é como se o ciclista estivesse em um jogo de vídeo game, se livrando a todo instante dos obstáculos e dos automóveis e ônibus. E, se o ciclista sobreviver às pedaladas no trânsito, quando chegar ao trabalho ou colégio, por exemplo, precisará de um banho. E, nem todos os locais têm banheiro com chuveiro à disposição de funcionários, alunos ou professores. E, trabalhar molhado de suor não é uma boa opção. Mas, pensando bem,  andar de ônibus é diferente, em relação ao desconforto? Também nos ônibus, lotados e quentes, como é que alguém consegue não ficar ensopado de suor?

 
 E já que estamos falando em ônibus, pois é, está aí uma opção de transporte que, se fosse de qualidade, seria a solução para diminuir a quantidade de carros nas ruas. Nos países frios, todos ônibus têm aquecimento. Por que então, nos países quentes, eles não são, por lei, obrigados a ter ar-condicionado? Uma suposta resposta martela na minha cabeça, mas preferiria que não fosse a certa. Nos países da Europa ou no Canadá, por exemplo, todo mundo anda de ônibus e de metrô, tanto o executivo, o político, o professor, quanto o aluno ou a pessoa que tenha um trabalho mais simples. Pessoas que às vezes até têm carro, mas, como o transporte público oferece serviços de qualidade, preferem deixar o carro em casa. No Brasil, não é bem assim. Quem tem carro dificilmente anda de ônibus. Talvez, por isso, as empresas não vejam necessidade de dar mais conforto aos seus usuários.

Fervendo ou climatizado, os ônibus estão sempre cheios. Então pra que melhorar a qualidade se, mesmo que o serviço piore os clientes comparecerão em massa? Porque essa é a lógica do capitalismo: o lucro em primeiro lugar. O bem estar, a qualidade de vida da população? Isso está fora de debate e das decisões.  
 
Não seria mais lógico climatizar e aumentar o número de ônibus e de linhas, interligar toda a cidade e, assim, diminuir o número de automóveis particulares, aliviando a circulação? Seria, claro. Mas isso exige investimento e, como falamos acima, investir pra ganhar a mesma coisa não faz parte da lógica capitalista. Ao contrário disso o que tem acontecido é a retirada de circulação de algumas linhas como a CDU SHOPPING que fazia um percurso que privilegiava muita gente, sobretudo alunos, professores e funcionários da UFPE. A linha foi extinta e não foi substituída por nenhuma similar. Quem quiser vir da Federal para Boa Viagem ou pega dois ônibus, ambos superlotados ou, para pegar um só, tem que vir pela Caxangá. Ou seja, anteriormente poderia se chegar da UFPE para Boa viagem em vinte minutos, dependendo do trânsito. Hoje, não se gasta menos de uma hora, com bem mais aperto e bem mais trânsito. Não preciso comentar sobre o trânsito caótico da Caxangá, com uma só pista para automóveis.

A empresa que retirou a linha deve estar satisfeita, eu imagino. Mas, os usuários não. Mas quem se importa com os usuários?  Essa é a grande questão da prestação de serviços de uma maneira geral, sobretudo os públicos em que as pessoas não têm outra alternativa para usar. O alvo final, o usuário não é levado em consideração.

Foram muitas as discussões, os debates, as audiências sobre a mobilidade no Recife. Muitas sugestões, muitas ideias, várias alternativas. Alguma coisa foi posta em prática? A mobilidade tem melhorado? As pessoas estão mais satisfeitas quando se locomovem pela cidade? A quantidade de linhas de ônibus existente atende à demanda da população? E a quantidade de ônibus, é suficiente?

A quem interessar possa, a quem tem o poder de interferir nessa história toda, já não está na hora de pensar o Recife como uma cidade feita por pessoas e não por cifras e números?

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