Não posso falar por outras
cidades, mas, com certeza, a vida dos recifenses é um horror quando o assunto é
locomoção.
Na semana passada dois protestos
travaram a cidade. Ir da zona Sul para o Centro foi impraticável.
Engarrafamentos enormes se espalhavam por todo lado, fechando os pontos de
encontro entre as diversas zonas da cidade. Para onde se ia, lá estava o
aglomerado infindável de carros.
Todos apontam a bicicleta como um meio de locomoção limpo
e eficiente. Bem, aqui no Recife, andar de bicicleta aos domingos e feriados é
ótimo, com as ciclo faixas ativadas, sinalização própria, automóveis sendo
obrigados a andar mais devagar. Uma maravilha. Mas só serve mesmo para o lazer.
As Ciclovias, como da Av. Boa viagem, são poucas, as ciclo faixas ficam desativadas
durante a semana e, por isso, para usar
a bicicleta no dia a dia é como se o ciclista estivesse em um jogo de vídeo
game, se livrando a todo instante dos obstáculos e dos automóveis e ônibus. E,
se o ciclista sobreviver às pedaladas no trânsito, quando chegar ao trabalho ou
colégio, por exemplo, precisará de um banho. E, nem todos os locais têm
banheiro com chuveiro à disposição de funcionários, alunos ou professores. E,
trabalhar molhado de suor não é uma boa opção. Mas, pensando bem, andar de ônibus é diferente, em relação ao
desconforto? Também nos ônibus, lotados e quentes, como é que alguém consegue
não ficar ensopado de suor?
Fervendo ou climatizado, os
ônibus estão sempre cheios. Então pra que melhorar a qualidade se, mesmo que o
serviço piore os clientes comparecerão em massa? Porque essa é a lógica do
capitalismo: o lucro em primeiro lugar. O bem estar, a qualidade de vida da
população? Isso está fora de debate e das decisões.
Não seria mais lógico climatizar e
aumentar o número de ônibus e de linhas, interligar toda a cidade e, assim,
diminuir o número de automóveis particulares, aliviando a circulação? Seria,
claro. Mas isso exige investimento e, como falamos acima, investir pra ganhar a
mesma coisa não faz parte da lógica capitalista. Ao contrário disso o que tem
acontecido é a retirada de circulação de algumas linhas como a CDU SHOPPING que
fazia um percurso que privilegiava muita gente, sobretudo alunos, professores e
funcionários da UFPE. A linha foi extinta e não foi substituída por nenhuma
similar. Quem quiser vir da Federal para Boa Viagem ou pega dois ônibus, ambos superlotados
ou, para pegar um só, tem que vir pela Caxangá. Ou seja, anteriormente poderia
se chegar da UFPE para Boa viagem em vinte minutos, dependendo do trânsito. Hoje,
não se gasta menos de uma hora, com bem mais aperto e bem mais trânsito. Não preciso
comentar sobre o trânsito caótico da Caxangá, com uma só pista para automóveis.
A empresa que retirou a linha
deve estar satisfeita, eu imagino. Mas, os usuários não. Mas quem se importa
com os usuários? Essa é a grande questão
da prestação de serviços de uma maneira geral, sobretudo os públicos em que as pessoas
não têm outra alternativa para usar. O alvo final, o usuário não é levado em
consideração.
Foram muitas as discussões, os
debates, as audiências sobre a mobilidade no Recife. Muitas sugestões, muitas
ideias, várias alternativas. Alguma coisa foi posta em prática? A mobilidade
tem melhorado? As pessoas estão mais satisfeitas quando se locomovem pela
cidade? A quantidade de linhas de ônibus existente atende à demanda da população?
E a quantidade de ônibus, é suficiente?
A quem interessar possa, a quem
tem o poder de interferir nessa história toda, já não está na hora de pensar o
Recife como uma cidade feita por pessoas e não por cifras e números?
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