Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

terça-feira, 17 de março de 2015

O TAMANHO DA VERGONHA ALHEIA

Apesar de votar no PT desde 1989, não acho que o governo esteja perfeito, que está fazendo tudo o que tem que fazer. Tenho, como muita gente, críticas a muita coisa. Por isso respeito a oposição responsável que cobra o que tem que ser feito, que tem que ser consertado ou que precisa ser refeito. Mas, respeito o meu voto e acredito que a presidenta vai conseguir reorganizar as coisas e colocar o país no rumo certo.

Se na manifestação do dia 15 de março as pessoas tivessem ido às ruas para cobrar o cumprimento de promessas de campanha que julgam ainda não terem sido cumpridos, apesar de apenas três meses do mandato; se cobrassem a reforma política, mais rigor nas investigações e, com classe e educação, cobrassem o fim da corrupção, eu teria o maior respeito. Mesmo tendo a lucidez de saber que o fim da corrupção não depende do chefe de governo apenas. O fim da corrupção depende mesmo é de cada um de nós. Mas, enfim, pelo menos estaria havendo uma cobrança efetiva pelo combate a essa doença de caráter, enraizada em nossa cultura.

Mas não posso respeitar uma manifestação que vai às ruas com frases obscenas, incitando a violência ou querendo o fim de uma democracia conquistada com sangue, suor e lágrimas.

 Quando vi as imagens da manifestação do dia 15, nas ruas do Brasil, senti um certo choque. Não que tenham sido muito diferentes, em relação a sua essência, das manifestações anteriores. Mas, por observar que, mesmo depois de tantas críticas, avisos e a alertas, as pessoas foram às ruas levando as mesmas mensagens levianas, chulas, por vezes até mesmo violentas, quando falam que “comunista bom é comunista morto” ou penduram bonecos representando Dilma e Lula enforcados.

Em uma visão geral do que estava nas ruas, por exemplo, o que um estrangeiro que fale português pensaria? Se eu fosse estrangeira pensaria que o Brasil é um país de pessoas grosseiras, sem educação doméstica, sem conhecimento de história do próprio país e, ainda por cima, incoerentes.

OBSCENIDADES

O que podemos dizer de uma pessoa que veste uma camisa onde manda a presidente tomar ..... com todas as letras? Que é uma pessoa que tem uma educação refinada, como a gente supõe que deveria ter a elite branca deste país?
Em outra, que também me chocou, uma senhora, acredito que na faixa dos sessenta e poucos, carregava nas costas um cartaz, escrito à mão: “o povo está cansado de tomar” e daí, ao final do cartaz, havia uma grande seta apontando para vocês sabem onde. Em primeiro lugar, se essa senhora estava nas manifestações, com certeza não é uma pessoa do povo propriamente dito.  Tenho certeza que o povo não passou procuração para ela portar, em seu nome, um cartaz tão vulgar e chulo.
ATENTADO DE GÊNERO NÚMERO E GRAU

E o que dizer de uma mulher que porta um cartaz dizendo: “Feminicídio Sim  - Fomenicídio Não”, Fora PT.  Bem, pra começo de assunto o segundo termo nem existe. E quanto ao Feminicídio SIM? Então é errada a Lei que inclui o Feminicídio como crime hediondo? Prefiro pensar que a criatura que carregava o cartaz não tinha a menor ideia do que estava divulgando.

Duas crianças pequenas seguram um cartaz com quatro palavras escritas em formato de losango, com mais uma atravessada no meio e abaixo a pérola: triângulo da corrupção. Como assim? Se um losango tem quatro lados e as palavras são cinco, cadê o triângulo?

Prisão para Karl Marx! Essa foi uma das mais intrigantes. Como prender uma criatura que morreu em 1893? Desafio e tanto para quem propôs a prisão dele. Mas daí, passado o primeiro impacto, li o resto do cartaz e estava escrito “de Garanhuns”. Ah! Então mudou tudo. Era a Lula que ele estava se referindo.
Outro cartaz rico em asneira dizia “Fora Paulo Freire”. Fora como? Gente, ele faleceu em 1997 e agora querem tirar ele de onde? Da educação brasileira ou do reconhecimento internacional onde ele está enraizado como o maior educador do Brasil e um dos maiores do mundo? Paulo Freire foi  homenageado por instituições como Harvard, Cambridge e Oxford. Desde 2012, ele é considerado o Patrono da Educação Brasileira.  De onde saem tantas asneiras?

SANTA INCOERÊNCIA

Na avenida Boa Viagem, de acordo com a imprensa, as pessoas cantavam “Caminhando”, de Geraldo Vandré. Como assim pessoas que participavam de uma manifestação onde eram erguidas faixas e cartazes pedindo a volta da ditadura,  cantavam o hino dos que lutavam contra a ditadura?  E, mais intrigante ainda é as pessoas estarem nas ruas, protestando livremente contra o governo, xingando, escrachando, pedindo a morte da presidenta e do maior líder político do país, quererem, justamente, a volta de um tipo de governo que vai tirar de todos, inclusive deles, o direito de sequer ser contra o governo, quem dirá ir às ruas e protestar sem ter pagar com a vida por isso.
Fiquei esperando que começassem a cantar Apesar de Você e Vai Passar, mas parece que não chegaram a esse nível de incoerência e ridículo. Sei lá, de repente podem pensar que Chico escreveu pensando em Dilma quando diz “apesar de você,  amanhã há de ser outro dia”.

GOLPE NA LÍNGUA PÁTRIA

Em outra imagem uma jovem segura alegremente um cartaz onde se lê, escrito à mão: “Fim da corrupção com a prissão dos corruptos. PRISSÃO?

Em outra imagem um carrancudo senhor idoso porta o seguinte cartaz:Lula, anti-cristo , marginal. Só para esclarecer, marginal é quem vive à margem da sociedade, excluído dela, o que não é o caso de Lula, evidentemente. Anticristo? Sério?
I SPEEK ENGLISH

E as faixas em inglês? Minha gente, o que foi aquilo? Um pedido de ajuda aos estrangeiros? Ou será que queriam facilitar o trabalho da imprensa internacional?  Quando vi isso pensei com os botões quem nem tinha: interessante, escrevem em inglês, mas não entendem nada de história do Brasil e desconhecem as regras gramaticais de sua própria língua. Onde será que estudaram? Mais uma coisa intrigante.

INCITANDO A VIOLÊNCIA

Depois assisti a um vídeo onde jovens, adultos, idosos e crianças se refestelavam em pisar e chutar uma camisa do PT. Essa cena patética me lembrou brigas de crianças por causa de futebol, um querendo destruir a camisa do outro. E daí me lembrei que quando essas crianças crescem, formam as torcidas organizadas. Torcidas que brigam entre si com violência, que já terminou com várias mortes.
POLITIZAÇÃO ZERO, FUTILIDADE MIL

Mas uma das imagens que mais gostei de ver foi a de duas jovens sorridentes, de cabelos loiros, vestindo camisetas estampada com a foto de uma bolsa de grife e escrito em cima: “Presidente queremos nossa bolsa”. A imagem, para mim, era a mais pura representação da elite branca brasileira, cuja maior preocupação é andar na moda, não repetir roupas e, é claro, só usa grife.

LIÇÃO DE CIDADANIA?????

Depois da tão anunciada “lição de cidadania jamais vista neste país” tive esperança de que o nível de protestos fosse outro, com faixas pedindo a punição dos envolvidos em corrupção, uma investigação cada vez maior no escândalo das contas na Suíça e que exigissem a plenos pulmões a reforma política para que seja drenada a corrupção na política.

Lição de cidadania? O que vimos foi uma lição de vulgaridade, baixaria, falta de conhecimento da história do Brasil, da língua português e até de geometria.

Vimos pessoas com raiva, com ódio, sem nem saber exatamente por que.

Acredito que tenha havido pessoas que realmente estavam ali conscientes, exercendo o seu direito de protestar contra a corrupção e até mesmo contra atos do governo que não ache certos.

Mas, no balanço geral, houve de tudo, menos cidadania ou politização.

Passada a manifestação fica aquela sensação de desconforto de pertencer à mesma nacionalidade de quem vai às ruas pedir a morte de alguém, como se isso fosse uma coisa absolutamente normal. Fica a tristeza por ver que as pessoas que tiveram oportunidade de estudar nos colégios mais caros, não aprenderam muita coisa, sequer têm educação.

Uma coisa fico me perguntando, quando tudo isso passar, o governo se reorganizar, as manifestações cessarem e a mídia desistir de derrubar o governo e resolver voltar ao seu papel de informa, divertir e educar, as pessoas que xingaram, berraram impropérios contra os líderes políticos do PT e desejaram a sua morte, que escreveram obscenidades em suas roupas, que pediram o fim “da ditadura do PT” colocando no lugar uma ditadura militar, será que vão acordar e sentir vergonha do que fizeram? Tomara que sim, porque se quando caírem na real e a lucidez voltar, se essas pessoas não se arrependerem, e insistirem em continuar fazendo essas mesmas coisas, eu que sou patriota, que sempre tive orgulho do meu país, passarei a ter, definitivamente, vergonha de ser brasileira.


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