Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CUIDADO COM AS SUAS TROCAS

por Rejane Menezes


Uma família da cidade, costumava passar as férias de inverno em sua luxuosa casa de campo, com dois pavimentos, piscina, quartos de hóspede, salão de jogos, sauna, salão de exercícios e uma infinidade de  acessórios e conveniências,  que tornavam as férias inesquecíveis.
É claro que havia um número exagerado de empregados, mal remunerados, que faziam de tudo para que a família e seus hóspedes tivessem sempre tudo à mão, sem precisar sair do lugar.
Mas foi aí que aconteceu o inesperado: um pequeno ratinho, uma catita, como chamamos por aqui, se mudou para dentro da casa, apesar de todas as telas, de toda limpeza, de todo o cuidado dos funcionários.
E o pequeno animalzinho foi se alojar em um cantinho da sala e, aqui e ali, um membro da família tinha um ataque histérico, quando via a aquela minúscula catitinha correndo pelos cantos da casa.
Houve perturbação geral na ordem perfeita da casa. Empregados foram demitidos, outros contratados, dedetizações foram feitas, ate para ratoeiras apelaram e nada. Colocaram um gato dentro de casa e nada. O bichano só queria tomar leite e dormir. Enquanto isso a catita se esgueirava aqui, se escondia ali e continuava a passear livremente pela casa.
E a família ia ficando cada vez mais irritada e com medo da catita. O pobre animalzinho não fazia nada de mal. Até comia uns bichinhos nojentos que sempre aparecem nessas casas de campo.
Mas a família não estava nem aí. Sua obsessão era exterminar a catita a todo custo. Não importa se os bichinhos nojentos sumiram depois que ela apareceu. A sua simples visão era nojenta e irritante. E, com certeza, devia estar roubando comida da cozinha. Mas ninguém nunca comprovou isso.
Enfim, passado um tempo e a catita sempre resistindo e, já perdendo o controle à simples menção da existência do pequeno animal, resolvera que aceitariam qualquer medida que aparecesse, desde que desse sumiço na criatura.
Foi aí que, em um momento de suprema loucura, foi sugerido que colocassem uma cobra dentro de casa. Cobras comem rato, então, o destino da catita estaria traçado.
Alguns amigos e os empregados diziam que isso era loucura. Que não fazia sentido por em risco a família, só por causa de uma pequena catita. Mas, ensandecida e movida por uma raiva sem tamanho pelo resistente bichinho, não mudaram de opinião. Diziam querer qualquer coisa, contanto que a catita fosse exterminada.
E assim foi feito. Capturaram a primeira cobra que apareceu no meio das árvores e a soltaram dentro de casa. Qualquer coisa é melhor que essa catita irritante e irreverente.
Dito e feito. A cobra cumpriu seu papel na primeira noite. Comeu a pobre catita de uma vez só e, de barriga cheia, foi procurar um local para descansar e... sumiu.
E, ninguém conseguia mais achar a cobra. Os empregados logo foram pedindo demissão e indo embora, porque se recusavam a trabalhar em um local onde havia uma cobra escondida.
Chamaram bombeiro, caçadores, gente acostumada no mato e ninguém conseguiu achar a danada da cobra.
A família resolveu antecipar o fim das férias, trancou a casa e voltou pra cidade na maior pressa, pois, depois de muitas confabulações, os especialistas chegaram à conclusão que a tal da cobra era do tipo bem venenosa.
Bem, se conseguiram achar a cobra eu não sei. Mas que até hoje se arrependem da decisão de terem colocado ela lá, ah isso se arrependem. E as férias na fabulosa casa de campo? Ah, essas, nunca mais foram as mesmas.

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