Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

AS APARÊNCIAS ENGANAM?

O velho e bom ditado afirma que “aparências enganam”. Diz isso também, a música de Tunai e Sérgio  Natureza  , gravada em 1979, por Elis Regina:

“As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver”

Provavelmente a letra da música se refere a casos amorosos, a romances que se acabaram. Mas, bem que poderíamos ter, sobre a letra, um outro olhar, mais abrangente, digamos assim.

Vamos colocar a letra sob o olhar político, por exemplo. A política é apaixonante, envolvente e, em meio ao fogo do entusiasmo que essa paixão provoca, se promete e se acredita em promessas, com tal força que, em alguns casos, beira o fanatismo, vivendo-se a política como se fosse uma religião. As reuniões são como cultos, os chefes políticos viram deuses, seus assessores mais próximos se transformam em sacerdotes.

E, aí, como seguidores de uma religião ou seita religiosa, não se questiona o que é dito, o que é criticado, o que é apresentado como fato. A convicção política se torna, praticamente, uma questão de fé.

E, a adesão à nova “religião” se dá de maneira muito parecida com a troca de denominação religiosa: insatisfação com o partido em que se encontra, seja por se descobrir não comungando mais com a ideologia que abraçava até então, seja por não ter favores pessoais atendidos, seja por sentir ameaçada a sua zona de conforto, seja por antipatias pessoais. Enfim, são muitos os motivos que levam uma pessoa a mudar sua opção política. Algumas pessoas, inclusive, são levadas pelo entusiasmo dos colegas de trabalho, dos amigos, da família e abraçam uma causa sem nem saber exatamente por que. Tipo: “se as pessoas que convivo são contra, então também devo ser”. E por aí vai.

Somos um povo muito levado pela emoção e isso, muitas vezes, pode prejudicar as nossas escolhas. O ideal é fazermos opções tendo um equilíbrio, tendo a oportunidade de fazer uma escolha refletida, pensada, e não levada apenas pela emoção.

Na política, a emoção deve vir depois de nossa escolha e não ser a causa dela. O que aconteceu em Pernambuco, nessa eleição do dia 05 de outubro foi um caso concreto de voto regido pela emoção ou, melhor dizendo, pela comoção. Não tenho a menor dúvida que a morte repentina e trágica de Eduardo Campos foi o que levou a um resultado tão inesperado.

A morte de Eduardo Campos foi uma grande perda para o Estado. Eu podia até não concordar com o rumo que ele tomou a partir de 2012. Mas era um político com um grande futuro pela frente. Que tipo de linha seguiria, que tipo de política faria, nunca saberemos. Sabemos o tipo de política que os seus partidários fizeram, usando e abusando de sua imagem para comover a população e eleger os correligionários e aliançados, fazendo campanha dentro do espaço do velório e no enterro.

Foi um resultado exagerado, fora da realidade, bem acima do eleitorado normal do partido.

A morte de Eduardo, comprovadamente, alavancou a eleição de muita gente.  Alavancou Marina, por exemplo, mas que, por sua inconsistência política, não conseguiu se manter e chegar ao segundo turno. Isso não quer dizer que os outros que foram eleitos sob a sombra de Eduardo, sejam ou não competentes. É verdade que os candidatos ao legislativo estadual e federal não estavam expostos à mídia como os candidatos a cargos executivo e ao senado, por exemplo. Mas, boa parte contava com o apoio, inclusive, da família do ex-governador, lembrando sempre que elegê-los era a vontade dele.

A comoção vai passar. Mas, o resultado da eleição vai durar pelos próximos quatro anos.

Resta-nos então aguardar e esperar pelo desempenho dos que foram eleitos para administrar ou representar o estado de Pernambuco.

Quem conduziu, com seu voto, os deputados, senador e governador de Pernambuco aos cargos que irão ocupar a partir de 1º de janeiro de 2015, espero que mantenham um olhar crítico sobre as promessas de campanha e cobrem as mudanças e melhorias prometidas.

E, tomara que a oposição faça o seu papel de maneira consciente, coerente e responsável, fiscalizando, cobrando e, quando necessário, dando a sua colaboração para o desenvolvimento de nosso Estado.

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