Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

RAÍZES DE UMA ESCOLHA

por Rejane Menezes
    
     Quando eu tinha nove anos, o Brasil sofreu uma grande mudança. Na época eu não tinha noção do que estava acontecendo, mas lembro de cada detalhe daquele dia e foi angustiante. O medo tomava conta de todos e, depois de correr com minha mãe até o SAPS, um mercadinho próximo lá de casa e comprar mantimentos, nos trancamos em casa.
     Durante cinco anos, acompanhei, de longe, as manifestações de rua, pois, ao ir ou voltar do colégio, tinha que atravessar a Conde da Boa Vista. Lembro que algumas vezes saia do colégio correndo porque as ruas estavam tomadas pelos “baderneiros”.  E o interessante é que eu não tinha medo dos manifestantes. Tinha pavor era da polícia, montada em cavalos enorme que colocavam por cima do povo.
     Aos 14 anos, acompanhando meus pais em reuniões de um grupo que se reunia para refletir o Evangelho da semana, descobri que a arquidiocese de Olinda e Recife tinha um arcebispo fantástico, chamado Dom Helder Camara. As pessoas ne reunião falavam dele com tanto carinho, tanta ternura, que fui me apaixonando também por ele e pelo que defendia.
     Um tempo depois, uma das integrante do grupo me convidou para uma reunião de um grupo de jovens, que iria acontecer na casa dela. Fomos eu e minha irmã. Fomos apresentadas ao SOS, a vários jovens entusiasmados para transformar o mundo e àquele que se tornou meu guru, espiritual e politico, o saudoso Pe. Ivan Teófilo. Um cearense de sorriso enorme e coração cheio de amor e esperança.
     Com o SOS aprendi o que é justiça social e encontrei o meu lugar no mundo que, com certeza, não era ao lado dos que governavam o país.
     Eram tempos difíceis. A gente falava baixinho, pelos cantos, com medo de ser delatado, ser preso e até desaparecer.
     Desde então, e já se vai um longo tempo, fiz minha opção política pela esquerda, porque, naqueles tempos de Dom Helder, aprendi que a partilha era a coisa mais importante para o cristianismo. Partilha do tempo, do carinho, do amor, do abraço e do pão.
  Votei pela primeira vez para governador em 1982, para prefeito em 1985 e para presidente, em 1989, ano em que comecei a votar no PT e o escolhi para ser o meu partido.
   Política para mim é coisa séria. Voto é direito e não obrigação. Adoro o dia da eleição, adoro votar, me emociono ao confirmar o voto em um candidato que eu acredite.
     Voto em projetos e não contra pessoas. Voto no projeto que mais chegue perto do que defendo, do que acredito.
     Existe algum projeto perfeito? Não. Em todo projeto há falhas, deslizes, desvios de caminho. Porque o ser humano é instável, alguns são venais e em outros, a ambição, a ganância, falam mais alto.
     Desde os tempos da ditadura que não via tanto ódio em uma eleição. Mas isso é porque, exatamente, algumas pessoas não estão votando a favor de um candidato. Estão votando contra a candidata do PT. É tanto ódio, tanto rancor, que vai envenenando o sangue, causando mau humor e mais e mais raiva.
     Nesta eleição, como venho fazendo sempre, voto em um projeto que realmente está dando certo, que está distribuindo renda neste país. Voto no projeto que, implantado há doze anos, está permitindo a realização de sonhos, que, anteriormente, só se realizavam entre as pessoas de renda mais alta.
     Não voto para ter favorecimentos pessoais. Talvez por isso nunca tenha conseguido ficar rica e continue fazendo parte da classe média média.
     Voto para que o pedreiro possa comprar a sua própria casa e não continue apenas a construir casas para os outros. Para que o estudante pobre tenha acesso às universidades federais e possa estudar no exterior através do Ciência sem Fronteiras.
     Voto para que a faxineira do hospital possa ver sua filha se formar em medicina. Para que a empregada doméstica tenha seus direitos respeitados, com horário de trabalho como todo mundo.
     Voto para que pessoas de sandália japonesa possam frequentar os shoppings da vida e comprar televisão, geladeira, micro-ondas e computador. Para que os nordestinos que migraram para São Paulo fugindo da seca, possam pegar o avião e voltar para visitar a família e para que as famílias que migraram para o sul e sudeste, possam voltar para sua terra natal, onde agora tem emprego.
      Voto para eleger aqueles que podem transformar o País, diminuindo o fosso social e melhorando a qualidade de vida daqueles que sempre foram esquecidos.
    O meu voto não é meu. O meu voto é do outro. O meu voto é para todos.
     Tenho orgulho de meu voto e da minha família. No próximo domingo todos votaremos 13, porque queremos DILMA DE NOVO.

2 comentários:

  1. Gostei muito do texto, sobretudo nos parágrafos em que você explica as razões do seu voto. Voto a favor de um projeto que permitiu a realização de sonhos antes acessíveis apenas aos mais favorecidos. Uma bela síntese sobre a qual o Brasil podia refletir.

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    1. Obrigada Paulo. Acredito realmente no que escrevi. A partilha é realmente a única forma de termos uma sociedade justa. Tomara que os eleitores brasileiros saibam escolher com sabedoria para que mais sonhos se realizem.

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