Quando eu tinha nove anos, o Brasil sofreu uma grande mudança. Na época eu não tinha noção do que estava acontecendo, mas lembro de cada detalhe daquele dia e foi angustiante. O medo tomava conta de todos e, depois de correr com minha mãe até o SAPS, um mercadinho próximo lá de casa e comprar mantimentos, nos trancamos em casa.
Durante cinco anos, acompanhei, de longe, as manifestações
de rua, pois, ao ir ou voltar do colégio, tinha que atravessar a Conde da Boa
Vista. Lembro que algumas vezes saia do colégio correndo porque as ruas estavam
tomadas pelos “baderneiros”. E o
interessante é que eu não tinha medo dos manifestantes. Tinha pavor era da
polícia, montada em cavalos enorme que colocavam por cima do povo.
Aos 14 anos, acompanhando meus pais em reuniões de um grupo
que se reunia para refletir o Evangelho da semana, descobri que a arquidiocese
de Olinda e Recife tinha um arcebispo fantástico, chamado Dom Helder Camara. As
pessoas ne reunião falavam dele com tanto carinho, tanta ternura, que fui me
apaixonando também por ele e pelo que defendia.
Um tempo depois, uma das integrante do grupo me convidou
para uma reunião de um grupo de jovens, que iria acontecer na casa dela. Fomos
eu e minha irmã. Fomos apresentadas ao SOS, a vários jovens entusiasmados para
transformar o mundo e àquele que se tornou meu guru, espiritual e politico, o
saudoso Pe. Ivan Teófilo. Um cearense de sorriso enorme e coração cheio de amor
e esperança.
Com o SOS aprendi o que é justiça social e encontrei o meu
lugar no mundo que, com certeza, não era ao lado dos que governavam o país.
Eram tempos difíceis. A gente falava baixinho, pelos cantos,
com medo de ser delatado, ser preso e até desaparecer.
Desde então, e já se vai um longo tempo, fiz minha opção
política pela esquerda, porque, naqueles tempos de Dom Helder, aprendi que a
partilha era a coisa mais importante para o cristianismo. Partilha do tempo, do
carinho, do amor, do abraço e do pão.
Votei pela primeira vez para governador em 1982, para
prefeito em 1985 e para presidente, em 1989, ano em que comecei a votar no PT e
o escolhi para ser o meu partido.
Política para mim é coisa séria. Voto é direito e não
obrigação. Adoro o dia da eleição, adoro votar, me emociono ao confirmar o voto
em um candidato que eu acredite.
Voto em projetos e não contra pessoas. Voto no projeto que
mais chegue perto do que defendo, do que acredito.
Existe algum projeto perfeito? Não. Em todo projeto há
falhas, deslizes, desvios de caminho. Porque o ser humano é instável, alguns
são venais e em outros, a ambição, a ganância, falam mais alto.
Desde os tempos da ditadura que não via tanto ódio em uma
eleição. Mas isso é porque, exatamente, algumas pessoas não estão votando a favor
de um candidato. Estão votando contra a candidata do PT. É tanto ódio, tanto
rancor, que vai envenenando o sangue, causando mau humor e mais e mais raiva.
Nesta eleição, como venho fazendo sempre, voto em um
projeto que realmente está dando certo, que está distribuindo renda neste país.
Voto no projeto que, implantado há doze anos, está permitindo a realização de
sonhos, que, anteriormente, só se realizavam entre as pessoas de renda mais
alta.
Não voto para ter favorecimentos pessoais. Talvez por isso
nunca tenha conseguido ficar rica e continue fazendo parte da classe média
média.
Voto para que o pedreiro possa comprar a sua própria casa e
não continue apenas a construir casas para os outros. Para que o estudante
pobre tenha acesso às universidades federais e possa estudar no exterior através
do Ciência sem Fronteiras.
Voto para que a faxineira do hospital possa ver sua filha se
formar em medicina. Para que a empregada doméstica tenha seus direitos
respeitados, com horário de trabalho como todo mundo.
Voto para que pessoas de sandália japonesa possam frequentar
os shoppings da vida e comprar televisão, geladeira, micro-ondas e computador. Para
que os nordestinos que migraram para São Paulo fugindo da seca, possam pegar o
avião e voltar para visitar a família e para que as famílias que migraram para
o sul e sudeste, possam voltar para sua terra natal, onde agora tem emprego.
O meu voto não é meu. O meu voto é do outro. O meu voto é
para todos.
Tenho orgulho de meu voto e da minha família. No próximo
domingo todos votaremos 13, porque queremos DILMA DE NOVO.
Gostei muito do texto, sobretudo nos parágrafos em que você explica as razões do seu voto. Voto a favor de um projeto que permitiu a realização de sonhos antes acessíveis apenas aos mais favorecidos. Uma bela síntese sobre a qual o Brasil podia refletir.
ResponderExcluirObrigada Paulo. Acredito realmente no que escrevi. A partilha é realmente a única forma de termos uma sociedade justa. Tomara que os eleitores brasileiros saibam escolher com sabedoria para que mais sonhos se realizem.
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