Depois da publicação de várias notas chamando os
cristãos e cristãs a lutarem por seu direitos, a CNBB - Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil convida a todos para uma “Jornada de Oração pelo
Brasil, a ser realizada nas comunidades, paróquias, dioceses e regionais do
país, de 1º a 7 de setembro próximo. Os bispos decidiram mobilizar os cristãos,
por meio da oração, após a análise da realidade brasileira feita na última
reunião do Conselho Episcopal Pastoral da entidade, dias 10 e 11 de agosto”.
E, esse convite, essa
sugestão, levou algumas pessoas, como o sociólogo e escritor Pedro Oliveira, a
refletir sobre essa espécie de recuo por parte da CNBB em relação ao chamado
dos cristãos e cristãs a irem ás ruas ou mesmo participar de greves
gerais, reivindicando de volta o que lhes está sendo tomado: o direito a uma
vida digna e a justiça social (http://jornaloporta-voz.blogspot.com.br/2017/08/a-cnbb-recolhida-em-jejum-e-oracao_23.html)
“O Dia de Oração e Jejum
sugerido é o dia 7 de setembro, data que marca a Independência do Brasil”,
ainda de acordo com a nota.
Ora, o dia 07 de
setembro é, desde 1995, o dia em que vai ás ruas o GRITO DOS EXCLUÍDOS, gestado a partir da iniciativa da Pastoral Social da
mesma CNBB e de movimentos sociais. O 1º Grito dos Excluídos saiu levando às ruas o tema da Campanha da
Fraternidade daquele ano: “A Fraternidade e os Excluídos”.
E aqui colocamos a pergunta que não quer calar: por que jejum e oração e
nenhuma menção ao Grito? Não poderia
ter sido sugerido que a jornada proposta fosse encerrada com a participação, em
todo o Brasil, no 23º Grito, cujo tema para esse ano é: “Vida em primeiro
lugar. Por direitos e democracia, a luta é todo dia” ?
Por que jejum? Em um mundo onde milhões de pessoas passam fome, pessoas
que dariam tudo por um pouco de alimento, não dá para entender como pessoas que
têm acesso á alimentação deixariam de comer em prol de um país melhor. E as
pessoas que já jejuam forçadamente todos os dias? Se o jejum fosse uma forma
eficaz de melhorar o país, a privação dessas pessoas já não deveria ser
suficiente para o país sair da crise? Então a injustiça social, a miséria, a
fome diária pela qual passa a população carente do Brasil já não seria sacrifício
suficiente? Ou o sacrifício dessas pessoas já é tão natural que não conta? O
jejum que conta é de quem tem o que comer todos os dias e pode se dar ao luxo
de deixar de comer quando quer? Se sofrimento físico modificasse o mundo,
tornasse o mundo melhor, já não teriam sido suficientes as guerras e toda a
miséria, por exemplo, de uma Etiópia? Baseado na suposta eficácia do jejum, o
planeta hoje já não deveria ser um novo éden?
Por que então não propor um jejum diferente ás pessoas de boa vontade? Um
jejum de egoísmo, de ódio, de intrigas, de corrupção, de perseguição? Por que
não propor que na primeira semana de setembro se faça jejum dos preconceitos nossos
de cada dia? Que tal então, por uma semana, ao menos por um dia se deixar de
lado a misoginia, machismo, homofobia, preconceito racial e de classe?
Por que não propor ao Povo de Deus, caros bispos e arcebispos da CNBB e religiosos
e religiosas de todo o Brasil, que faça jejum de desrespeito, de ameaças, de
desprezo?
Esse tipo de jejum sim, com toda certeza, nos tornaria pessoas muito
melhores. E, aliado a esse jejum, de atitudes e não de comida, faríamos nossas
orações, não apegados ás orações já prontas, mas em um momento de íntima
relação com Deus, onde com sinceridade rogaríamos pela justiça social, pela
dignidade da vida, para todos e todas e não apenas para quem pode se dar ao
luxo de jejuar quando quer.
E depois desse jejum e dessas orações , estaríamos prontos de coração e
alma, para sair ás ruas no dia 07 de setembro engrossar o coro dos que clamam
por democracia e justiça. Para sermos ativos reivindicadores e, acima de tudo, promotores
da vida em abundância para todos.
Em Recife: concentração a partir das 09h da manhã na praça deo Derby |
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