Quando eu era pequena ouvia muito
uma história sobre os perigos e a força da mentira. Contava a história que, em uma
pequena cidade do interior, nada acontecia de novo, até a inauguração de um
cinema. Foi uma alvoroço só. Todo mundo mandando fazer roupa nova para a grande
inauguração. E, como era de se esperar, o cinema superlotou logo e muita gente
ficou de fora. O barbeiro, devido ao grande número de fregueses naquele dia,
quando chegou à porta do cinema, não lhe deixaram mais entrar. Homem muito
conversador e contador de histórias e divulgador das novidades, não se conformou
em ficar de fora de um tão grande acontecimento em sua cidade.
Matutou um pouco sobre o que faria quando, de repente, teve uma ideia. Chegou junto do constrangido porteiro que impediu a sua entrada e comentou: o amigo viu a baleia que colocaram no tanque da praça?
Matutou um pouco sobre o que faria quando, de repente, teve uma ideia. Chegou junto do constrangido porteiro que impediu a sua entrada e comentou: o amigo viu a baleia que colocaram no tanque da praça?
Ao que, abismado, respondeu o
rapaz que não tinha visto. Talvez tivesse passado por lá muito cedo. Depois,
animado, pediu detalhes. O barbeiro descreveu tão entusiasticamente a baleia da
praça que chamou a atenção dos dois lanterninhas e da moça da bilheteria.
Logo o zum zum zum foi entrando
pela sala de cinema e as pessoas que se amontoavam na sala de projeção foram ficando curiosas e
saindo para perguntar o que estava acontecendo. Ao saberem da baleia da
praça, iam correndo até lá para ver de perto a novidade. E a notícia foi se espalhando pela sala.
O barbeiro, atingido o seu
intento, se esquivou, discretamente e foi procurar um lugar para se sentar e
apreciar o filme.
Mas as pessoas não paravam de se
levantar e ir para fora, não retornando mais aos seu lugares. Embevecido com a
maravilha que era o filme, o barbeiro se envolveu de tal forma que, quando se
deu conta, a tela ficou escura, as luzes acenderam e não havia mais ninguém na
sala além dele.
Indignado levantou correndo e
esbarrou no funcionário que operava o projetor de filmes e perguntou o que
aconteceu. Por que o filme foi interrompido? Não vai voltar a exibir o filme?
O funcionário respondeu que não
teria mais filme por aquele dia. A inauguração do cinema tinha sido suspensa pelo dono, por falta de expectadores. E apressado ainda gritou para um boquiaberto
babeiro: estou indo ver a baleia e seus filhote, que estão no tanque da praça.
Todos já foram. Você não vem?
O barbeiro coçou a cabeça,
franziu a testa e ainda mais intrigado se perguntou: rapaz, será que havia
mesmo uma baleia no tanque da praça e eu não vi? E com um filhote? E, sem
pensar duas vezes, correu atrás da multidão para não deixar de ver a baleia.
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