Não assisto à programação regular das TVs, nem aberta,
nem fechada. Não gosto realmente dos noticiários da mídia tradicional. Acompanho
as noticias pela internet, escolhendo o que quero ou não quero ler. Quero
preservar esse direito. Isso, algumas vezes, me deixa desatualizada por um
tempinho, pois só me inteiro do que acontece no mundo quando ligo o computador,
pela manhã. A não ser quando a notícia já está nas mídias sociais, que, por
questões profissionais, vejo logo que acordo.
E ontem fui surpreendida, no instagran, por algumas
pessoas postando a bandeira de um time de futebol sobre o qual eu nunca tinha
ouvido falar. Na verdade, gosto tanto de futebol quando de televisão. Ou seja,
zero. Então eu não conhecer um time de futebol não é novidade. Mas, enfim,
acabei descobrindo o motivo das postagens logo depois. E, desde então, percebo
que na mídia não se fala em outra coisa. O que é também muito comum pois a
mídia espreme das tragédias até a última gota de sangue.
Um time internacional ofereceu jogadores para ajudar o
chapecoense a se reestruturar, o time que ia jogar com ele pediu para cancelar
a final e declarar o time de Santa Catarina o campeão. A torre Eiffel se
iluminou de verde, analistas do mundo todo dão sua opinião sobre o acidente e
muitas e muitas notícias continuam rolando por aí. Em nível mundial.
Foi uma tragédia? Claro que foi. De Grandes proporções?
Claro que sim. Mas foi uma tragédia porque morreram mais de setenta pessoas.
Foi uma tragédia porque morreram pessoas que eram pais, mães, irmãos, irmãs,
filhos, filhas, sobrinhos, sobrinhas, netos, netas, primos, primas ou amigos ou
amigas de alguém. Não importa se jogavam futebol, vendiam sapatos, davam aulas
ou viviam de renda. Morreram pessoas, ponto. Tudo indica que foi por aquela
economiazinha desprezível que os empresários fazem para aumentar os lucros e
que já derrubaram prédios, viadutos e aviões. Aquela economia que estica o
prazo da manutenção ou que encolhe a quantidade de combustível a ser usada no
voo.
A tragédia se torna maior por saber que se o avião
tivesse tido permissão para pousar um pouco antes ou se a quantidade de
combustível fosse um pouco maior, todas aquelas pessoas estariam vivas hoje.
Diante de todos os comentários de lamentações pelo time
que se desfez, pela dificuldade que o clube vai ter em reorganizar o time e
coisas afins, eu me pergunto: alguém vai oferecer um pai para emprestar a
alguma família? Alguém tem um filho que possa ficar temporariamente no lugar de
um que morreu no acidente? Alguma noiva, esposa, namorada vai querer um
companheiro temporário para aplacar a sua dor? NÃO. Porque ninguém pode ser
substituído na dor de uma perda, na tristeza de uma saudade que nunca mais vai
acabar.
Quando soube da tragédia o meu primeiro pensamento foi:
como estarão agora as famílias dessas pessoas? Porque isso é o que
verdadeiramente importa.
Daqui a algum tempo o Chapecoense terá contratado novos
jogadores, receberá um ou outro emprestado e voltará aos treinos. Provavelmente
nos primeiros jogos entrará de luto, prestará homenagem aos que se foram e, depois,
tudo se resumirá a uma homenagem em alguma estante ou parede do clube.
Mas e as famílias que perderam seus entes queridos? Por
toda a sua vida sentirão a dor da perda e da saudade.
Então por que não deixamos de lado o fato de terem
morrido jogadores de futebol e, em lugar de “sermos todos chapecoenses” não
podemos ser todos solidários com as famílias que sofreram perdas tão duras e
lamentarmos a morte de todos os que estavam naquele avião e que, de maneira
inesperada e violenta, tiveram interrompido o seu futuro?
Pode parecer novidade mas futebol não é tudo na vida. E
sim, existe vida inteligente além do futebol. Na verdade, posso até dizer que
existe vida inteligente, apesar do futebol.
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