Réplica da caravela de Colombo, datada de 1892: navegador genovês naufragou na costa do Haiti em 1492 Foto: REUTERS |
Como
trabalho com mídias sociais passo o dia inteiro com Facebook aberto, seja
postando, seja respondendo ou curtindo comentários. E, enquanto passo por faces
de clientes, inevitavelmente, passo pelo meu, que é o gerenciador de todos. Daí
vi uma postagem de um amigo que me chamou a atenção, contando uma história de
uma inspeção em uma escola pública municipal, onde o inspetor de ensino do
estado foi fazer uma avaliação. Ao perguntar a um aluno quem pôs fogo em Roma
ele imediatamente respondeu que não havia sido ele. O inspetor sai da sala e
conta o caso a professora, ao que ela responde que, se o aluno disse que não
foi ele é porque realmente não foi.
O
inspetor vai então até o prefeito, conta o caso e sugere que a professora seja imediatamente
demitida e substituída. O prefeito diz que não pode fazer isso porque ela precisa
do emprego, sustenta a família e, além de tudo, foi indicado pelo presidente do
partido. E propôs um acordo para o inspetor que ele dissesse o valor do prejuízo, a
prefeitura pagava a conta e não se falava mais naquilo.
Claro
que essa história é caricata, mas, infelizmente, retrata a realidade da
educação no Brasil.
Quando
a minha filha mais velha era pequena, estudante da 1a série do primeiro grau
menor, ensino fundamental hoje, chegou em casa toda entusiasmada dizendo que a
professora havia ensinado o nome das três caravelas de Pedro Alvares Cabral:
Santa Maria, Pinta e Niña. Para que ela não gravasse uma informação errada
imediatamente falei pra ela que a professora havia se confundido. Que esses
nomes eram das caravelas de Cristóvão Colombo e não das de Cabral.
Fui
à escola falar com a diretora, pedagoga de formação e muito competente nessa
área. Ela me olhou com um ar interrogativo, sem entender por que eu estava
dizendo que a professora se equivocou. Então chamou a coordenadora pedagógica,
que havia feito pós-graduação em Londres e me pediu para colocar a minha
observação. A coordenadora, cujo ego era um tanto inflado, talvez pela pós no
exterior, também me olhou com ar interrogativo e, ao mesmo tempo, incrédulo. E
me perguntou: você tem certeza disso? Bem, naquele momento eu realmente não
tive mais dúvidas: elas não sabiam do que eu estava falando.
E
a coordenadora me perguntou o que eu estava pretendendo ao levar essa questão
para a escola. Expliquei que a minha intenção era pedir que a professora
corrigisse o erro e colocasse para as crianças que os nomes das caravelas que aportaram no Brasil não eram aqueles. Então
ela me disse que estava tudo bem, mas que antes iria consultar uma amiga dela,
professora de história. E a amiga, depois de consultar uma enciclopédia,
confirmou que eu estava correta. Depois de, finalmente, se convencer de que eu
estava certa em relação a quem pertenciam as caravelas, a coordenadora me
chamou até o terraço para conversar. E me disse que iria falar com a professora
para retificar a informação, mas que eu não deveria me preocupar com isso,
porque, certamente, s crianças iriam esquecer logo. Porque se ao menos fosse
uma informação errada de matemática ou português, aí sim, seria preocupante,
mas de história? Quem se lembra disso não é mesmo? E daí, se tocando que eu
lembrava, ela olhou pra mim com cara de deboche e, ironicamente me perguntou:
como você lembrava dessa informação? Olhei para ela e, sorrindo, respondi: deve
ser porque eu jogo muito Master.
Saí
de lá arrasada, não tanto pelo fato da diretora e da coordenadora não saberem o
nome das caravelas, mas pela maneira como a coordenadora me tratou, como se eu
fosse uma ET, que guarda informações desnecessárias e que não influenciam no
aprendizado de uma criança. E ainda pelo fato dela não se preocupar por uma
professora da escola estar ensinando coisas erradas. Mas era só história, pra que se preocupar.
No
dia seguinte minha filha chegou em casa e contou que a professora havia se
desculpado pela informação errada e agradecido a mim por ter alertado isso.
Bem, pelo menos recuperei a credibilidade com a minha filha. Mas, o meu olhar
em relação à escola nunca mais foi o mesmo.
Ah,
em tempo, quero salientar que não era uma escola pública. Era uma escola
particular, bastante cara, dessas que têm cinco ou seis alunos em cada sala e
que a metodologia usada era a melhor possível. Mantive a minha filha na escola
por mais dois anos, porque a outra dona da escola era uma pessoa muito
competente e, ironicamente, foi com ela que descobri Paulo Freire, o
construtivismo e a educação integral, que informa e, ao mesmo tempo,
forma. Foi ela quem fez a minha cabeça
em relação à educação que eu queria para as minhas filhas. Só faltou ela fazer
a cabeça da outra sócia e das funcionárias. Mas isso é uma outra história.
Ah,
só para finalizar, me dei ao trabalho ir atrás dos nomes das caravelas de
Cabral, que não ficaram tão famosas quanto as de Colombo. A armada que Pedro
Álvares Cabral trouxe ao Brasil foi composta por treze embarcações e mais de
mil homens. Com exceção dos nomes de duas naus e de uma caravela, não se sabe
como se chamavam os navios comandados por Cabral. A nau principal, que era a
capitânia, não tem seu nome nos registros históricos. A segunda nau, a
sota-capitânia chamava-se El Rei. E sabe-se ainda o nome de uma outra nau, a
Anunciada e de uma caravela, a São Pedro. Mas quem quer saber disso não é
mesmo? E eu nunca mais joguei Master...
Nossa...estou estagnada com o ocorrido, essa visão de desvalorização do ensino de Historia é a mesma que retrata o ensino no Brasil...Triste realidade!
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