Conta a lenda que um homem
morava em uma pequena casa, com a mulher, oito filhos, sogro e sogra e vivia na
maior angústia.
Os filhos, ainda pequenos, não paravam de gritar e
chorar o dia todo. Os sogros, já idosos, não paravam de reclamar e a mulher,
coitada, com tantos afazeres, não tinha nunca um tempinho para ele.
Voltar
para casa, após um árduo dia de trabalho na roça, era pior do que ficar horas
afio sob o sol e o calor intensos. Para tomar banho, era uma espera imensa.
Jantar então, só depois que as crianças já estavam indo para a cama. Fumar seu
cachimbo sossegado, só na porta da rua e assim mesmo, nem sempre podia ficar em
paz.
Existia
nas montanhas próximas dali, um velho eremita, considerado um grande sábio. O
atormentado homem resolveu consultar o eremita , em busca de um conselho para melhorar a sua
vida.
O sábio
então o aconselhou a comprar um bode. Mas como poderia comprar um bode, se nem quintal
ele tinha para colocá-lo? Com uma casa tão pequena e tão cheia de gente, onde
caberia um bode?
Mas o
sábio insistiu e pediu que o homem voltasse a ter com ele dali a um mês.
E assim
foi feito. Um mês depois, o homem, agora mais atormentado do nunca, subiu às
montanhas em busca do sábio. Contou-lhe que estava desesperado. A casa vivia
imunda, cheia de fezes do bode por todo o canto; que o bode comia tudo que
aparecia à sua frente, inclusive roupas; que a casa fedia mais que um
chiqueiro. Enfim, as coisas estavam tão ruins, que ele estava prestes a sair de
casa.
Então, o
sábio lhe disse para ter um pouco de calma. Mandou-o voltar, vender o bode,
fazer uma limpeza bem grande em casa e voltar depois de uma semana.
Uma semana
depois, o homem voltou. Estava alegre, tranqüilo, até mesmo cantarolando.
E disse ao
sábio que as coisas estavam ótimas, que a casa não fedia mais, que parecia até
maior. E que havia desistido de deixar a casa.
O sábio
sorriu e disse que ele havia encontrado a solução para os seus problemas:
vender o bode.
Na casa do
homem, depois que o bode saiu, apesar de tudo continuar o mesmo, ele teve a
sensação de paz que procurava, afinal as coisas não eram tão ruins sem o bode.
Quem não
passa por momentos difíceis onde a vontade é parar o mundo e descer? Nestes
momentos a convivência temporária com “um bode” poderia ser alívio para nossas
tensões. Na verdade, devemos ter a consciência de que, mesmo passando por
momentos difíceis, com certeza, poderia ser pior, bem pior.
Dizem que as
águias voam muito alto não apenas para poder observar melhor quem está em
baixo, mas, também, para fazer quem está em baixo olhar pra cima, para o alto.
Com bode ou
sem bode, com águias ou sem águias, cabe a cada um de nós escolher a maneira
como vai encarar a vida. Dependendo das nossas escolhas nem é preciso ter um
bode. E, mesmo sem águia, podemos, à noite, olhar para as estrelas.
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