Ainda está semana estava
dando uma olhada no Instagran e, uma das páginas que acompanho é Pernambuco
Arcaico, que posta fotos belíssimas de
muitos anos atrás.
Uma das fotos postadas
esta semana foi de uma parada de ônibus, na Av. Guararapes, da década de 40. A
fila era perfeita, as pessoas esperando pacientemente, sem ninguém avançando,
sem fila dupla. E, vários comentários giraram em torno do fato de, na foto, dar
para perceber o respeito à fila e ao ambiente pois, ao fundo, se veem paredes
limpas, sem nada escrito ou rabiscado. E
então alguém pergunta: para onde foi o respeito de uns pelos outros?
Fiquei pensando exatamente
nisso: Em que ponto esse respeito se perdeu?
Sim, é verdade, naquela
época havia respeito às filas, aos mais velhos, aos professores, aos vizinhos, aos
pais.
Até a década de 1960 a
educação doméstica era muito rigorosa. Bastava um olhar mais severo da mãe ou
do pai e as crianças já deixavam de lado o que estavam fazendo, só em perceber
que não estava sendo aprovado. Não estou aqui para julgar se era certa ou
errada a maneira como se educava até a segunda metade do século passado. Mas,
não acredito que a repressão, a violência física ou os castigos dolorosos
fossem uma maneira amorosa de educar.
Surtia efeito, eu sei,
havia o respeito do qual estamos falando aqui e, embora a educação fosse feita
de maneira equivocada, surtia efeito.
Até que, uma nova geração de adultos, fruto de cinturões usados com
raiva e força, gritos, castigos de joelho em cima de caroço de milho ou coisas
similares se rebelou e resolveu criar seus filhos de maneira diferente da qual
foi criada. E surgia uma nova forma de educar, que, diga-se de passagem tinha
ótimas intenções ao por abaixo a violência física e os castigos absurdos que,
embora hoje parece absurdo, houve épocas em que até nas escolas, eram práticas
admitidas.
Mas, se por um lado houve
a conscientização de que os pais não têm o direito de bater em seus filhos, de
maltratá-los, por outro lado, a abertura passou do ponto e o NÃO passou a ser
uma palavra proibida no cotidiano das crianças. E, não sou estudiosa do
assunto, não tenho autoridade nem argumentos científicos para embasar minha
teoria, apenas a vivência, o acompanhamento de crianças educadas como se fossem
os reis do mundo, acreditando que tudo lhes era permitido, que tudo era
possível e de a sua vontade era o limite entre o certo e o errado.
Em minha opinião foi aí
que o respeito ao outro se perdeu e nunca mais foi recuperado em larga escala.
Quando fumar não era
proibido em quase todos os lugares, um bom exemplo da falta de respeito era os
fumantes terem liberdade de fumar quando e onde quisessem, sem se importar se
incomodava, se fazia mal, se havia grávidas ou crianças no ambiente ou pessoas
com problemas alérgicos, como o meu caso. Quantas vezes não voltei para casa
com os olhos vermelhos e ardendo e o nariz entupido, sem conseguir respirar
direito porque as pessoas não se preocupavam em perguntar se alguém se
incomodava com o cigarro.
E assim era em muitas
outras situações. Havia, inclusive, um ditado que dizia: os incomodados que se
mudem. Poderia ser mais desrespeitoso?
E, chegamos ao século XXI
vivendo em um país onde a palavra respeito deixou de fazer parte do dicionário
faz muito tempo. E isso acontece em
todos os níveis, desde os sociais aos profissionais. É o motorista de ônibus
que não respeita os idosos, que queimas paradas, sãos os passageiros jovens que
sentam nos locais destinados aos idosos e não levantam, os médicos que deixam
os pacientes esperando horas nos consultórios para serem atendidos, os
políticos corruptos que se apropriam do dinheiro público, os funcionários
públicos que atendem mau aos usuários, como se estivessem lhes fazendo um
favor, os autoritários que não se importam com o que os outros realmente
querem, os perdedores que não aceitam a decisão da maioria, enfim.
Em resumo, vivemos em 2016
em um país onde idosos deveriam ser descartados para morrerem sozinhos e não
incomodarem, crianças, criadas sem limites, se sentem livres para gritar, perturbar
onde e quando quiserem, colégios fazem festas em quadras abertas com um volume
de som como se só houvesse eles nas redondezas e os vizinhos que se virem para
tentar abafar o barulho infernal que fazem, jovens que veem esse exemplo nos
colégios e fazem o mesmo em suas casas e apartamentos, bares que tocam música
alta até a madrugada, apartamentos que fazem consertos barulhentos à noite em
final de semana, sem permitir aos vizinhos momentos de descanso, motoristas que
estacionam em portões e saem, estando nem aí para os moradores que chegam e
querem entrar.
No momento em que escrevo
este artigo, no colégio ao lado de meu prédio está havendo um evento, uma
festa, o que seja, com um som bastante alto e que, em plena noite de domingo,
não nos permite um pouco de paz e descanso para começarmos bem a semana.
Não há respeito pelos
deficientes, pelos gordos, pelos muito magros, pelos mais pobres, pelos menos
inteligentes ou pelos que gostam muito de estudar. Ridiculariza-se os Nerds, os
ingênuos, os que não querem levar vantagem em tudo, os que, sendo a exceção da
regra, agem com respeito, aos outros, aos animais, às situações enfim.
Estaciona-se em fila
dupla, joga-se lixo pelas janelas, nas praias, menosprezam-se as pessoas mais
simples, torce-se o nariz para quem não tem carro ou roupa de grife, depreda-se
a natureza sem nenhum remorso ou pudor.
E, acima de tudo, não se
respeita as diferenças. Ou as pessoas pensam como se quer ou então passa para
nossa lista negra. E, a partir daí, tudo é possível: delações, intrigas,
fofocas, desprezo.
Esse é o Brasil de hoje,
essa é a nossa Pátria, já não tão amada, dilapidada, desconstruída,
desfazendo-se, pouco a pouco, por falta de uma coisa tão simples: respeito.
Se os limites dados
antigamente pelos pais à base de cinturadas e maus tratos funcionava, embora
fosse uma forma deplorável de educar os filhos, a falta de limites, a
permissividade desenfreada, a abolição da palavra NÃO, com certeza não está
funcionando. Nenhuma dessas duas formas de educar é uma forma de amar os
filhos.
Diante de tantas campanhas
ecológicas para salvarmos o planeta terra, penso naquela conhecida frase que
diz que devemos nos preocupar com que filhos vamos deixar para o mundo.
Enquanto não nos
preocuparmos com isso, não acredito que esse tal de respeito volte ao dicionário
e à prática de vida dos brasileiros.
Educar com amor, é tão
simples, tão prático, tão essencial. Basta isso. Porque quem ama, quer o melhor
para seus filhos. E, com toda certeza, o melhor para os nossos filhos é viver
em um país, em um mundo, onde haja respeito.
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