Pois é, já ouvi falar muito em mobilidade urbana. É
importante, é urgente, projetos estão sendo feitos, obras executadas... Mas, sinceramente, pra mim, é algo inexistente.
Porque meus amigos quando em um dia de domingo a gente pega
engarrafamento na av. Conselheiro Aguiar não dá para encarar mobilidade como
outra coisa a não ser piada.
Isso sem contar o caos em que se transformaram as ruas da
cidade do Recife. Não posso falar por toda a cidade pois não circulo por ela
todos os dias. Mas, de Boa Viagem, posso falar sem medo de errar: se piorar
mais um pouco trava de vez.
Moro em um local que, há vinte anos, poderia se passar por
uma tranquila cidade do interior. As ruas não eram calçadas e, quando chovia,
senhoras porcas vinham, com seus filhotinhos, brincar nas poças de lama que se
formavam em frente ao prédio onde moro.
Algumas vezes não podíamos entrar logo com o carro porque a mamãe porca
estava alimentando a prole bem em frente à nossa entrada. Esperávamos, pacientemente, que a família se
retirasse para que pudéssemos entrar.
Naquele tempo não tínhamos nem portão no prédio. Não era
preciso. Nunca havia entrado nenhum intruso. Nem mesmo as sem horas porcas que
se limitavam à entrada. De manhã cedo e ao final da tarde ouvíamos o barulho
dos chocalhos pendurados nos pescoços das vacas que iam ou voltavam do pasto. Eram
de uma vacaria perto do prédio. Por não haver necessidade de portões, certa feita uma vaca mas afoita entrou no
jardim da casa da esquina e, não resistindo ao calor, resolveu dar um mergulho
na piscina. Foi uma confusão daquelas. Até os bombeiros foram acionados para
retirarem a vaca de lá. Aliás, ela deve ter ficado muito contrariada por ter
sua natação interrompida. Esses eram os problemas daqueles tempos.
O progresso chegou e o prefeito resolveu calçar a minha rua e as ruas ao redor. Teria sido tudo muito bom se ele ou sua
equipe de paisagismo não tivessem a “brilhante” ideia de transformar ruas
largas em ruas estreitas, alargando calçadas e construindo jardins dos quais
nunca fizeram a manutenção. Não ficou
legal nem naquela época e muito menos agora, quando os carros quadruplicaram em
nossa cidade e estas ruas são o retrato da loucura: estreitas, com
estacionamento dos dois lados e mão dupla.
Hoje, muitas vezes
não podemos entrar com o carro no prédio. Mas não é por causa de alguma mamãe
porca não. É por causa de seres humanos que acham que podem tudo e que têm o
direito de fechar, com seus carros, a entrada dos prédios dos outros. Param seus carros, trancam e
desaparecem. Isso sem falar nas filas
duplas, nas estacionadas em cima dos canteiros dos tais jardins.
As ruas e avenidas de Boa Viagem estão intransitáveis. As pessoas estacionam onde querem, andam por
onde querem e os outros que se virem. Não é raro, de manhã, no horário de
grande movimento, encontrarmos caminhões, kombis e caminhonetes estacionadas em
fila dupla, na Av. Boa Viagem, descarregando coco, gelo ou coisas do tipo.
Isso sem falar nos caminhões e betoneiras das inúmeras
construções ou nos carros pipas que circulam ou estacionam pelas ruas estreitas
e congestionadas nos horário mais
conturbados.
Ah, não posso esquecer da turma que não está nem aí para os
cruzamentos e trancam os sinais porque não podem perder um segundo aguardando o
trânsito andar para poder passar.
Como é minha gente que em uma cidade do tamanho de Recife a
inauguração de um Shopping trava a cidade? Havia um engarrafamento que passava
na rua atrás da Livraria Cultura e se arrastava pelo Cais de Santa Rita, Cais
Estelita, Cabanga e chegava até o final da Ponte do Pina, de um lado e, de
outro, parou a Agamenon Magalhães. Isso existe?
Este é o retrato de nossa realidade: ruas mal planejadas que
precisam ser revistas com urgência, estacionamentos que deveriam ser proibidos,
vias que deveriam ser mão única e motoristas que deveriam reaprender a dirigir
e a ter bons modos.
Existe luz no fim do túnel? Pode até ter, mas se não for
feita alguma coisa para reorganizar o trânsito no Recife, não tem túnel, ponte
ou viadutos novos que dê jeito.
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