Cansadas de viverem sozinhas, de vez em quando as letras resolvem se misturar na cabeça de algumas pessoas e, juntas, formam palavras, que formam textos que, dependendo do momento e da imaginação de cada um, tornam-se contos, ensaios, críticas ou até mesmo incríveis historinhas infantis.
Daí, surgem misturas fantásticas para saciar a nossa fome de beleza e nos levar a um mundo encantado que só a nossa imaginação, unida à imaginação de quem escreve pode desvendar.

domingo, 28 de outubro de 2018

HOJE É DIA DE FAZER HISTÓRIA



Como já falei inúmeras vezes, votar para mim é, antes de tudo, um direito. O direito de escolher quem que quero que me represente no Parlamento e quem governo no Executivo.

Votar é a uma forma de dizer quem sou, a que vim, em que acredito e o que espero para o futuro.

Mas não digo que o voto é meu, porque acho que voto é um coletivo, que transforma não apenas a minha, mas a vida de todos e todas. Por isso ele tem que ser consciente, maduro, altruísta. Voto tem que ser pelo bem comum, pelo melhor para a comunidade, para a população, para o país.

Votar pra mim tem um ritual onde a roupa que vou usar é escolhida com cuidado, de acordo com o momento da votação.  Mas tem que ter vermelho. Vermelho é a minha cor preferida praticamente desde que nasci. Desde criança a família inteira e os amigos sabiam que tudo meu tinha que ser vermelho. Vermelho pra mim é a cor da vida.

Cresci e , coincidentemente, vermelho é a cor de meu partido. Então votar, tem que ser de vermelho.

A eleição de hoje é, mais do que qualquer outra, histórica. Assim como a de 2002 o foi.  Hoje estará definido o futuro de todo o um povo, um povo que luta, que ama, que sofre e tudo que precisa e merece, é ser feliz.

Camiseta vermelha pra mim não é problema. Tenho várias. Lisas, estrelas, com palavras, rostos, enfim, para todas as ocasiões. Mas hoje escolhi uma diferente, porque hoje a eleição é muito simbólica.

Escolhi uma camiseta vermelha, com a silhueta dos meninos de Liverpool, da capa do disco HELP. Isso mesmo, help, socorro, que é o que o Brasil pede hoje a todos os seus filhos e filhas. E por que exatamente Beatles? Porque representam a revolução na música, nos costumes, na vida. Porque eles cantaram que o que o mundo precisa de amor. E o Brasil precisa mesmo é de amor, muito amor.

E que livro levar? Também são tantos e tão bons que a dúvida foi grande. Livro de Frei Betto, Leonardo Boff, Zuenir Ventura, Chico Buarque, Paulo Freire, Marcelo Barros, são tantos e tão libertadores que terminei por optar pelo mestre, se não de todos, da maioria desses. Fui votar acompanhada de Dom Helder, de suas crônicas para o seu programa Um Olhar Sobre a Cidade, que além de compilar textos fantásticos do Dom ainda se chama “Meus Queridos Amigos”.
Voltei pra casa com muita esperança no coração. Não que tenha encontrado ninguém de vermelho em meu caminho. Voto em um reduto da direita. Mas porque lembrar das músicas dos Beatles que animaram a minha adolescência e das palavras de Dom Helder, que ainda ecoam atuais e certeiras “A consciência ingênua acredita que uns nasceram para dominar e outros para serem dominados. A consciência crítica acredita na fundamental igualdade dos homens e na urgência de acabar com a relação oprimidos-opressores. 
A consciência ingênua acha que o essencial é vencer na vida. Tudo o mais deve ser posto a serviço deste fim. A consciência crítica acha que o problema principal é dar aos homens a possibilidade de ser gente de verdade”. Dom Helder Camara

Agora é aguardar o resultado final e torcer para que a consciência crítica se sobreponha à consciência ingênua.

Que amanhã seja um lindo dia, da mais nova alegria que se possa imaginar. E vamos juntos cantar pro Dia Nascer Feliz.



quarta-feira, 17 de outubro de 2018

2018 - O ANO QUE TAMBÉM NUNCA VAI TERMINAR?

O jornalista e escritor Zuenir Ventura escreveu e publicou, originalmente, em 1989 o livro "1968 - o Ano que Nunca Terminou.


O livro, muito bem escrito, com inigualável estilo jornalístico de Zuenir, do qual, confesso, sou grande fã, fala sobre os fatos que aconteceram naquele ano e que marcaram, para sempre, não apenas o Brasil, mas o mundo. Estudou o ano de 1968, para não apenas relatar fatos, mas também suas consequências para o tempo futuro. Em tom de narrativa Zuenir vai colocando os acontecimentos do referido ano, citando personagens importantes, obras e músicas que surgiram nesse período.

Por incrível que pareça ele cita, por exemplo, a atriz Claudia Cardinale, italiana e esquerdista reconhecida, assim como outras figuras igualmente emblemáticas, como César Benjamin "Cesinha", militante do Mr-8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro) e que participou da luta armada e Carlos Lamarca "O capitão da guerrilha", militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e do Mr-8 e que ficou nacionalmente conhecido após desertar de seu quartel em Quitaúna e juntar-se à guerrilha. 

Claro que ele não podia deixar de fazer referência aos artistas que participaram do combate ao regime militar e que se tornaram nacionalmente famosos como Chico Buarque, Caetano Veloso e Geraldo Vandré ou ainda os ídolos internacionais como The Beatles e Rolling Stones.

O livro também traz de volta um período conturbado da história do Brasil, quando, mesmo com as proibições e repressão, se ergueram bandeiras em defesa da liberdade e da democracia. Como, por exemplo, o movimento estudantil que, espalhado pelo mundo, se tornou lendário por conta das manifestações contra o sistema, mostrando a determinação e a coragem dos jovens que iam às ruas, até mesmo para morrer se fosse preciso, para protestar contra o poder estabelecido, fosse de esquerda, fosse de direita. 

Passeata dos Cem Mil - Rio de Janeiro - 26 de junho de 1968

No Brasil os jovens protestavam contra as forças da ditadura que mataram Edson Luis, em março de 1968,  um estudante do segundo grau.

Na Checoslováquia os jovens gritavam contra os tanques soviéticos que esmagaram, em agosto, a Primavera Democrática. 

O ano que nunca terminou teve seu ápice, negativo, diga-se de passagem, em 13 de dezembro, com a promulgação do Ato Institucional nº 5, o AI5, durante o governo do general Costa e Silva. O AI5 foi a expressão mais fiel da  ditadura militar brasileira: injusto e arbitrário iniciou o período mais sangrento da ditadura, com prisões, tortura, desaparecimentos e mortes a perder de vista. Vigorou até dezembro de 1978 e suas ações arbitrárias têm efeito até os dias de hoje. 

O lançamento do livro, em 1989, coincidiu com dois fatos históricos: a queda do muro de Berlim e a primeira eleição presidencial no Brasil desde a instalação da ditadura, ambas em novembro.

Seis décadas depois do famigerado AI5, depois de quase quatro décadas da abstinência em votar para presidente, de quase três décadas depois do lançamento do livro, da primeira e desastrosa eleição direta  e do anúncio do fim do comunismo, quando finalmente achávamos que 1968 teria terminado, seus fantasmas  resolvem nos assombrar,  ressuscitando os  pavores antigos que julgávamos mortos e esquecidos.

Velhos e infundados medos do comunismo se instaurar no Brasil estão povoando o imaginário das pessoas desinformadas, que ainda não se deram conta que não existe mais essa ameaça, que ela acabou faz tanto tempo que virou mesmo foi "vintage" supostamente xingar as pessoas de esquerda de comunista. Digo supostamente porque comunista não é xingamento. Achar que xinga alguém chamando de comunista é tão ingênuo e sem sentido quanto achar que o PT inventou a corrupção.

Patrulhamento ideológico, perseguição a quem pensa diferente, intolerância religiosa, homofobia, misoginia, racismo, preconceito de classe e um medo infundado do comunismo, são alguns desses espectros do mal que estão pairando sob nós e se infiltrando em muitas cabeças, algumas das quais jamais imaginaríamos que se deixariam levar por toda essa infecção de ódio que vem se espalhando como um vírus oportunista, que enfraquece o corpo e também a mente.

Um momento era 2018 e, no final do dia, era 1968 outra vez. Estamos andando para trás, em meio a uma corrente de água turbulenta, escura e traiçoeira, que quer nos dragar com seus braços molhados e perniciosos.

Nessa enxurrada de informações falsas, mentiras tão absurdas que me causa espécie imaginar que tem quem acredite nelas e toda essa onde violência e intolerância, voltou também o fantasma do medo. Não esse medo ridículo de que Lula vai transformar o Brasil em uma Venezuela ou ditadura comunista. Até porque nem o direito de se candidatar ele teve. E, ao contrário do que muitos gostariam que fosse, Haddad não é um poste que reflete luz. Ele tem luz própria e vai brilhar na presidência do Brasil.

Voltou o medo de perder a liberdade, da democracia ser aprisionada em um calabouço ainda mais profundo que em 1964. O medo de ver o Brasil virar novamente uma ditadura, onde nem pensar seja permitido. Medo de não poder falar abertamente sobre política, por exemplo. Medo do saldo negativo que essas eleições irão deixar em nossas vidas. Qualquer que seja o resultado, já há tanto estrago, que mesmo que a democracia prevaleça, o terror que vem se espalhando no Brasil entre LGBTs, negros, índios, pobres, portadores de deficiência e mulheres que têm consciência de sua posição no mundo, já vai ter deixado um rastro de dor, sangue e morte, que não dá para ser esquecido.

Odiar o PT ou odiar ainda mais Lula não é motivo para ajudar a matar a democracia.  Não é motivo para por em perigo a vida dos LGBTs e de outras minorias. O ódio nunca foi e nunca será motivo para fazer nada de bom. O ódio que o nazismo provocou nas pessoas resultou no assassinato de seis milhões de judeus, negros, homossexuais. 

Campo de Concentração nazista
Pelas barbaridades que temos visto ainda antes do resultado da eleição, o saldo de assassinatos no Brasil será bem maior, quando a população se armar, achando que assim, estará protegido contra a violência.

Uma coisa temos que ter bem clara em nossa cabeça: sem justiça social não há paz. Enquanto o fosso salarial for das dimensões que é hoje, enquanto houver racismo, preconceito e discriminação de cor, de classe e de gênero, enquanto não houver uma vida digna para todos e todas, a violência continuará a crescer, fomentada pela desigualdade e pelas armas que a população vai comprar e que irá cair nas mãos do crime organizado.

Nunca o destino de toda uma nação esteve tão perigosamente nas mãos dessa própria nação. Cabe a cada um escolher seu candidato e, consequentemente, o seu futuro e o futuro do país. Depende só de cada um de nós se, depois do dia 28, continuaremos ou não a ter um futuro.

Depende de cada um de nós se, no dia 31 de dezembro, finalmente, 1968 acabará e, com ele levará 2018 ou dois se juntarão e continuarão a nos assombrar até que surja, em meio as trevas, uma nova esperança.

Como Freeda Kahlo" não quero que ninguém pense como eu. Quero que apenas pense". 

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

VOTAR: MAIS QUE UMA OBRIGAÇÃO, UM DIREITO E UMA CHANCE DE MUDANÇA


Sim, muito mais do que uma obrigação, votar é um direito. O direito de escolher seus representantes e de esperar que eles façam o melhor pelo povo do país.

No próximo domingo estaremos elegendo a pessoa que irá ocupar o cargo mais importante do País: presidente da república. Um cargo, na verdade, que não é importante apenas para o próprio Brasil, mas para o continente latino-americano e até mesmo para o restante do mundo.

Infelizmente, no Brasil, o voto é um direito corrompido, trocado por saco de cimento, dentadura, emprego e até mesmo dinheiro em espécie. Tudo isso porque é visto, por alguns, como um instrumento de troca de favores em benefício próprio e não como uma forma de mudar as coisas para que a pessoa nunca mais precise trocar seu voto por um colchão.

Uns votam porque um parente é candidato ou um parente de um amigo. Outros votam porque o patrão obriga. Outros porque acreditam nas promessas que nunca serão cumpridas.

Nessa eleição de 2018 outros motivos ainda menos consistentes foram acrescentados aos já existentes: o voto contra o PT e as esquerdas.

A mídia e algumas classes profissionais desencadearam um ódio ao PT que as pessoas sentem com ardor, mas não conseguem explicar.
Quando perguntamos “por que você odeia Lula e o PT?” a resposta era sempre: “Lula é ladrão, o PT é ladrão, são corruptos, quebraram o Brasil....” E daí a gente pergunta: “mas a maioria do Congresso Nacional é formada por parlamentares que ou estão sendo indiciados ou acusados de crimes de corrupção e, mesmo assim vão se candidatar e se reeleger”. Então um novo “argumento”  voltou à cena, que Lula vai tornar o Brasil comunista e transformar em uma Venezuela”.

Lembro que em 1989 usavam esse argumento de que Lula iria trazer o comunismo par ao Brasil. Um amigo, que votou em Collor, me disse perto das eleições: temos que ter cuidado. Se Lula for eleito ele vai tomar os bens da gente. Quem tiver duas casas, ele toma uma, quem tiver dois carros ele toma dois. Quem for contra ele vai ser preso...” E eu rindo, respondi: ah, se for acontecer isso eu não preciso me preocupar. Nem tenho dois carros nem duas casas. E como vou votar nela, não vou ser presa”.  E saí rindo do argumento tão infantil que não me deu vontade de rebater.

Treze anos depois, em 2002, Lula foi eleito presidente e, vejam só, não trouxe o comunismo para o Brasil. Foi o presidente com o maior índice de aprovação da história do país. Os ricos ficaram mais ricos e vejam só que inusitado: os pobres não ficaram mais pobres. Ao contrário, quase quarenta milhões de brasileiros saíram da linha de pobreza, o Brasil saiu do mapa da fome, aumentou em todo o país o número de instituições de ensino técnico e superior, os menos favorecidos tiveram acesso às faculdades privadas através do Fies e Prouni, aumentou o número de empregos formais, foi criado o MEI para que os trabalhadores informais ficassem na legalidade, aumentando a arrecadação de impostos e permitindo que esses profissionais possam garantir a sua aposentadoria.

Durante os governos do PT aumentou o acesso aos bens de consumo e pessoas que antes nunca haviam nem sonhado com essa possibilidade puderam comprar computador, moto, carro, viajar de avião e frequentar os magníficos templos de consumo, os shoppings centers.

Uma outra camada, mais carente, teve acesso a um bem ainda mais precioso: alimentação três vezes ao dia.

O PT não criou apenas melhorias para a população do País, aproveitou as boas coisas já existentes e implementou. Como no caso da área de saúde, contemplada com a ampliação do SAMU,   criado em Campinas em junho de 1995, pelo médico José Roberto Hansen  e das UPAS, cuja primeira unidade foi  inaugurada em 2002 no bairro Alto de São Manoel, situado no município potiguar de Mossoró.

O Mercosul se tornou mais forte e foi criado o BRICS, em 2006, composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, para dar voz a esses países no meio econômico.

As domésticas tiveram aprovada a PEC que lhes assegurou o direito ao FGTs  e a um horário de trabalho de 44 horas semanais.

Lula deixou o governo do Brasil em 31 de dezembro de 2010 com 85% de aprovação.

Foram tantos os benefícios para a população, foi tanto o dinheiro que as instituições financeiras e empresas ganharam que fica realmente difícil entender o que está acontecendo. |E a pergunta que não quer calar é: o que aconteceu para que as pessoas mudassem de ideia e hoje demonizem Lula e o PT?

Não sou analista política ou econômica. Por isso não vou entrar no cerne da questão. Vou falar o que acho que aconteceu: uma pequena parte da população, rica e poderosa, não ficou satisfeita em estar afastada do centro do poder político, de não ter aprovadas no Congresso e pela presidência da República, todas as suas reivindicações, como, por exemplo, aumentos de salário absurdos ou de não ter suas dívidas com o governo perdoadas, achou que era hora de tomar o poder de volta, fosse a que custo fosse.

E, a partir daí, teve o impeachment ilegal de uma presidenta eleita pela maioria da população , a prisão do maior líder político do País sem nenhuma prova, apenas pela convicção de que ele não poderia se candidatar de novo porque venceria do primeiro turno e a demonização do PT, o único partido de esquerda que conseguiu chegar à presidência da República e que realmente governo para o povo e não para a elite econômica.

Então a minha conclusão é a seguinte: O maior crime do PT foi ter governado para brancos, negros, índios e pardos, héteros e homossexuais, mulheres e homens, ricos e pobres. Lula não esperou o bolo crescer para depois fatiar, porque isso sempre foi história para boi dormir. Os governos do PT fatiaram o bolo enquanto ele crescia. E fatiaram com todos e todas.

O que aconteceu com a memória dessas pessoas que faziam parte dos 85% que aprovavam Lula ao fim de seu segundo mandato?

O que levou as pessoas a odiarem tanto Lula e o PT a ponto de votarem em um candidato que representa todo o atraso possível para o País?  Por que minha gente vocês querem que o Brasil ande de ré?

Lembrem-se para vive em paz, é preciso que, primeiro, a justiça social aconteça. Quanto mais aumentarem as perdas de direito, as perseguições e o estímulo ao uso de armas e tortura, maior será a violência no país.

O Brasil corre o risco de se transformar em um caldeirão efervescente de ódio, crueldade e violência. Quando isso acontecer, os ricos contratarão mais guarda-costas e blindarão ainda mais seus carros.

E quem não tem dinheiro para reforçar a segurança vai ficar a mercê dessa violência crescente, sujeito a levar uma bala perdida por aí e ser mais um número nos dados dos efeitos colaterais inevitáveis dos tempos sombrios que estão por vir.

Ou você pode impedir que isso aconteça. Por isso não vote por ódio, vote por amor à sua família, aos seus amigos e a você. Domingo vote sem ódio e sem medo de ser feliz